Você já reparou a quantidade de dinheiro que empresas, fundos de investimento e aceleradoras investem em aplicativos voltados aos ao público millennial que só os utilizam se não tiverem que pagar nada por eles? O WhatsApp, por exemplo, sabe que se começar a cobrar uma licença ou mensalidade dos usuários pessoa física, eles migrarão para o Telegram. Simples assim. Enquanto isto, temos um crescimento consistente de usuários 60+ que passaram a integrar os smartphones no seu cotidiano. Estão nos grupos de troca de mensagens, nos perfis do Facebook e agora nos serviços de streaming de música. Se adaptam, buscam entender e fazem o que podem para se manterem atualizados e integrados. É aí que o gerontodesign pode e deve fazer a diferença tornando as telas mais intuitivas e a navegação mais facilitada.

Tenho acompanhado dezenas de eventos, meetings, fóruns, hackathons e congressos  tratando de inovação, disrupção, novas tecnologias e tudo mais ligado ao tema. Milhões de dólares são investidos, muita energia e foco para tornar o mundo mais fácil, econômico, racional a um consumidor que está aberto ao novo. Gosto de acompanhar pessoalmente ou pelo programa, os palestrantes e temas apresentados. O novo sempre atraiu as atenções e junto com ele o verniz do cool. O glamour dos millennials é muito atraente, porém é oportuno olhar um pouco mais à frente sob os aspectos demográficos. O país está envelhecendo e vivendo mais, ao mesmo tempo, sentimos agora o impacto da redução de fecundidade que já começou há alguns anos. Algumas cidades já têm escolas e estruturas inteiras de ensino fundamental ociosas pois faltam alunos. Não porque não queiram ir para a escola e sim porque as famílias diminuíram de tamanho. As auto escolas estão enfrentando grandes dificuldades pois faltam alunos para tirar a primeira carteira de motorista. Lembram da tentativa de criar uma “capacitação” aos motoristas que iriam renovar a carteira de habilitação? Pois é...

Voltamos ao ponto da inovação e disrupção. Para quem estão sendo criadas tecnologias e toda inovação que vem a reboque? Para um público jovem que não vai existir logo ali na frente. Pelo menos não na quantidade necessária para manter e dar tração a muitos negócios que estão sendo criados agora.

Inovação sem considerar o usuário 60+ e suas características funcionais e cognitivas é, ao meu ver, deixar de ganhar dinheiro a médio e longo prazo.

Quando converso com alguns empreendedores do segmento de tecnologia, percebo muito desconhecimento a respeito do comportamento, hábitos e desejos da população 60+. Se não os conhecem, como entendê-los? Se não os entendem, como atendê-los? Minha missão nos últimos cinco anos tem sido trazer à luz o mercado 60+, não apenas como um grupo que merece e deve ser respeitado, mas sim pelo enorme potencial econômico que eles representam.

Alguns dados que mostram o impacto que 14% da população 60+ causam no mercado e muitas empresas sequer se dão conta:

  • 23% dos clientes da maior operadora de viagem/turismo do país são 60+;
  • 22% dos lares brasileiros têm como única ou principal renda um 60+;
  • 21% do consumo das famílias em bens de consumo e serviços são de 60+;
  • R$ 800 bilhões é a estimativa de renda que passará pelas mãos dos 60+ este ano;
  • 18 milhões de celulares já são utilizados pelos 60+ (62% da população 60+).

Sou curador de conteúdo da Geronto Fair, que acontecerá no mês de setembro em Gramado/RS e será voltada ao mercado profissional que atua na assistência, produtos e serviços para Terceira Idade. Estou conhecendo muitas iniciativas de empresas que já estão atentas e integradas a este mercado. Produtos e serviços que sequer imaginaríamos a alguns anos, destinados ao consumidor 60+. A SeniorLab, minha empresa, está conduzindo com a Deezer, uma das maiores plataformas de streaming de música do planeta, um acompanhamento mensal das músicas, artistas e gêneros mais executados pelos assinantes 60+, e tivemos algumas surpresas como Anitta estar em primeiro lugar como artista mais executada e outro resultado dentro do esperado como o gênero Sertanejo dominar 60% das músicas TOP10. O fato é que eles querem mais que Facebook no celular. É ou não é um público diferente do que a maioria das pessoas imaginava?

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