Já é sabido que o ecossistema intestinal e suas funções podem afetar o nosso humor e contribuir, e muito, para o nosso bem-estar. Isso porque essa microbiota libera substâncias químicas como a serotonina, por exemplo, que regula estados de ansiedade e de depressão. Não à toa, o intestino é chamado de “segundo cérebro”.  Mas agora doenças neurológicas e neurodegenerativas como autismo, Parkinson e o Alzheimer também começam a ganhar novo olhar com a possiblidade de vínculo com patologias gastrointestinais. 

Projetos como o MyNewGut (saiba mais neste link: http://www.mynewgut.eu/home), iniciativa financiada com 9 milhões de euros pela União Europeia para o estudo das bactérias intestinais podem levar pesquisadores a buscar soluções em outras partes do corpo que não o cérebro e isso pode ser um avanço. “É um campo promissor”, diz o gastroenterologista Ricardo Barbuti. 

Médico da Federação Brasileira de Gastroenterologia, sociedade sem fins lucrativos, fundada em 1949 para apoiar e desenvolver o conhecimento cientifica da especialidade no País, Barbuti explica que tudo funciona no nosso corpo como um sistema integrado. “O eixo cérebro-intestino deve atuar em equilíbrio e isso depende da harmonia entre bactérias boas e ruins existentes na microbiota intestinal.” 

Ele explica que quando há desequilíbrio – ou disbiose – dessas bactérias uma série de alterações afetam todo o sistema imunológico. “O intestino é um lugar de intercâmbio de compostos do organismo e tem influência na imunidade, de modo que pode acarretar outros tipos de doenças que a princípio não estariam relacionadas com o intestino”, sinaliza o médico. 

 

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Estudos recentes 

Os cientistas observaram, por exemplo, que o Parkinson está relacionado com um maior tempo de tráfego intestinal, algo que afeta a composição da microbiota. Ao estudar camundongos saudáveis e doentes, os pesquisadores descobriram também que aqueles que sofrem de Alzheimer têm uma composição de bactérias intestinais diferente.  

Os estudos são relativamente novos – o interesse por essa metrópole microscópica começou a aumentar há cerca de cinco anos. Para se ter uma ideia, nos  Estados Unidos, especialistas de 80 centros de pesquisa lançaram o Projeto Microbioma Humano, que mapeou todos os bichinhos que chamam nosso organismo de lar.  

A partir dessa iniciativa foram dados os primeiros passos para se entender como a flora intestinal interfere na predisposição a várias doenças e é capaz de influenciar até o comportamento e as emoções das pessoas.  

 

Medicina para o futuro 

Para Barbuti, o estudo do microbioma ajudará a tratar muitos problemas. Reconhece, entretanto, a dificuldade, pelo modo correto de se modular a microbiota. “Algumas vezes, iremos erradicar somente uma bactéria prejudicial e, em outras, será preciso modificar todo o ecossistema”, explica.  

Como acontece nos ecossistemas na natureza em grande escala, dadas as relações de interdependência de todos os membros, o procedimento não está isento de riscos. Mas a medicina do futuro deverá levar em consideração, cada vez mais, essas complicadas interações.

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