O envelhecimento da maioria das pessoas com Síndrome de Down (SD) é marcado pela maior incidência de fatores de risco para a saúde associados ao envelhecimento precoce, entre eles, a perda auditiva. Nessa fase da vida, o problema para essa população normalmente é do tipo sensorioneural bilateral, com tipo de curva descendente, progressiva, geralmente simétrica. Esse tipo de perda tem como característica a diminuição da sensibilidade auditiva em frequências agudas e, com o passar dos anos, a curva audiométrica apresenta comprometimento, inclusive nas frequências graves.

Nas pessoas com Síndrome de Down, a maior prevalência de perda auditiva ocorre oriunda do processo de envelhecimento, conhecido como presbiacusia. Esse tipo de perda auditiva é caracterizado pelo prejuízo em altas frequências (4000Hz e 8000Hz) tornando a percepção de alguns sons da fala (sons consonantais) difíceis, especialmente quando a comunicação ocorre em ambiente ruidoso, reduzindo a inteligibilidade e a compreensão de fala.

Pessoas com deficiência intelectual (DI), em especial aquelas com SD, podem apresentar perdas auditivas do tipo presbiacusia a partir da segunda década de vida. Os adultos com SD podem desenvolver presbiacusia, dos 30 aos 40 anos, mais cedo que a população em geral. Diante dessa realidade, vale ressaltar que a perda auditiva, quando diagnosticada precocemente na pessoa com SD, pode contribuir para o diagnóstico diferencial de declínio cognitivo, declínio funcional e demência.

No envelhecimento da pessoa com SD, ocorre maior prevalência de perda auditiva do que outras etiologias da deficiência intelectual. Isso ocorre porque a perda auditiva começa já na infância, na maioria dos casos, além da presença de outras alterações auditivas pré-existentes. Nesses casos, existem outros aspectos que corroboram para a deficiência, sendo eles, configuração anormal do ouvido e uma tendência à otite média recorrente; anomalias nos ossículos e estreitamento da tuba auditiva; perdas do tipo neurossensorial, condutiva ou mista; maior incidência de formação de rolha de cera, que na população sem DI da mesma faixa etária.

A alta incidência e a natureza ímpar da deficiência auditiva entre os adultos e idosos com SD sugere triagem auditiva ao longo da vida. O diagnóstico precoce de presbiacusia, nessa população, é fundamental para manutenção das habilidades cognitivas e comunicativas, contribuindo para consolidação da inclusão social.

Portanto, na idade adulta e na velhice da pessoa com SD, recomenda-se avaliação multiprofissional para acompanhamento e o monitoramento desses aspectos, pelo menos a cada seis meses. Além disso, para os casos diagnosticados com perda auditiva, sugere-se o uso de prótese auditiva e/ou aparelho de amplificação sonora para o aproveitamento da audição residual, que pode tornar-se mais efetivo se associado à reabilitação auditiva.

Vale ressaltar que pessoas com SD com perda auditiva apresentam declínio na habilidade de compreensão da fala, comprometendo gravemente o processo de comunicação verbal. Na convivência diária com pessoas adultas e idosas com SD com perda auditiva, recomenda-se: falar no nível do olhar da pessoa com quem está conversando, de forma bem articulada, devagar e sem exagerar nos movimentos dos lábios; conversar em locais bem iluminados; modificar a estrutura frasal, se não for compreendido; utilizar gestos; repetir a mensagem para compensar o déficit de memória; conversar em lugares com pouco ruído; não falar em voz alta e, de preferência, próxima ao idoso, tornando-se um mediador dessa comunicação.

Apesar da prevalência de perdas auditivas nessa população, há muito por fazer em prol da qualidade comunicativa da pessoa com SD que envelhece. A avaliação auditiva é uma medida simples, eficaz e segura – realizada pela APAE DE SÃO PAULO –que contribuirá de maneira efetiva para promoção da qualidade de vida e do bem viver da pessoa com SD em qualquer fase da vida.

 Por Cláudia Lopes Carvalho
(Fonoaudióloga da área de Envelhecimento)

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