No primeiro trago, a fumaça do cigarro chega aos seus pulmões levando uma alta carga de nicotina e outras dezenas de substâncias altamente tóxicas, viciantes e cancerígenas. Dos pulmões, a nicotina cai na corrente sanguínea e chega ao cérebro, provocando uma sensação de bem-estar. Mas como seu efeito é rápido, logo a pessoa sente necessidade de um segundo trago, e de um terceiro, e assim por diante.

Um processo inflamatório rapidamente se inicia no organismo, devido à alta temperatura da fumaça. Por isso a crise de tosse nos primeiros tragos, mas a insistência leva à formação de radicais livres, que oxidam as estruturas celulares e destroem a base arquitetônica dos pulmões.


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Todo o sistema respiratório sofre com a nicotina e a fumaça, e o organismo inicia um processo de substituição celular, aumentando a produção de muco, numa tentativa desesperada de proteger o tecido e expelir as toxinas. Nessa fase aparecem o pigarro e a tosse com muita secreção.

Ao contrário do que se acredita, problemas como enfisema pulmonar e bronquite podem acontecer já nos primeiros cigarros, quando se inicia o processo de destruição dos alvéolos pulmonares.

Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que as doenças cardiovasculares, causadas pelo vício do cigarro, matam mais do que qualquer outra enfermidade no mundo. Por ano, são sete milhões de pessoas, das quais 900 mil são fumantes passivos (que não têm o vício mas inalam a fumaça de outros fumantes). O problema é tão grave que o Ministério da Saúde dedicou uma data para a conscientização das pessoas sobre os malefícios do cigarro: 29 de agosto, o Dia Nacional de Combate ao Fumo.

Médico endocrinologista, Vinícius Marinho explica que o vício do cigarro é incipiente. “Logo após alguns segundos da primeira tragada, a nicotina já começa a atuar no cérebro. Os danos são praticamente imediatos”, explica Marinho.

Segundo o especialista, o tabagismo pode desencadear cerca de 50 problemas de saúde. “Em medicina, lidamos com riscos e o tabagismo eleva o risco de muitas doenças, como as cardíacas, as basilares, osteoporose, catarata, câncer e doenças do estômago, além de problemas como impotência sexual e infertilidade feminina. Além disso, o ato de fumar também acelera o processo de envelhecimento, diminuindo a expectativa de vida”, acrescenta.

Porém, a maioria dos problemas são reversíveis com a parada do ato de fumar, garante o médico. Exames de ressonância magnética realizados em 2007 em um grupo de 50 escoceses com mais de 70 anos confirmaram a estreita ligação entre o tabagismo e a aceleração no desgaste do córtex cerebral.

A primeira etapa do estudo foi realizada em 1947, quando os participantes ainda eram crianças. Todos tiveram suas funções cognitivas testadas e os dados foram armazenados na época para o posterior cruzamento das informações. As análises de agora mostraram que os fumantes tinham um córtex mais fino do que os que nunca haviam fumado.

Publicado no jornal Molecular Psychiatry, da revista Nature, o estudo mostrou que o córtex dos ex-fumantes do grupo se recuperou parcialmente para cada ano sem fumar, mas os responsáveis advertiram que o processo pode ser longo. Esta é a primeira vez que pesquisadores conseguem uma comprovação da reversão dos efeitos no organismo.

A importância do controle

Dados divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde apontam para uma queda de 36% no consumo do tabaco nas capitais brasileiras, no período de 2006 a 2017. Nos últimos anos, a prevalência de fumantes caiu de 15,7%, em 2006, para 10,1% em 2017. Adultos com menor escolaridade ainda representam o maior percentual de fumantes (13,2%), seguidos por pessoas com 12 anos e mais estudos (7,4%).

Marinho lembra que são muitos os benefícios do ato de parar de fumar, com uma escala de tempo após o último cigarro. Entretanto, alguns danos ou doenças são irreversíveis, como as lesões na pele e outras causadas pela bronquite crônica e enfisema

Ele explica que a melhora é gradativa e que, depois de 5 anos de abstinência, a recuperação é ótima. “Parar de fumar, independente de quando, é sempre uma ótima opção”, afirma.

O início do processo pode ser muito difícil para os tabagistas, por isso é indicado que as pessoas procurem ajuda junto aos postos de saúde ou clínicas da família, que oferecem programas antitabagismo.

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