Quando o dólar estampa as manchetes, você já deve ter se perguntado: se eu não vou viajar para o exterior, esse sobe e desce afeta a minha vida? Sim, e muito: do pão francês à carne, passando pelo combustível até itens do mercado e da feira, a oscilação da moeda norte-americana é sentida no preço de remédios, no dentista e até nas compras de calçados e roupas.

Isso porque o dólar não só regula o valor das principais commodities (como trigo e petróleo) como impacta as principais matérias-primas químicas, incluindo fertilizantes e insumos para alimentação de animais, explica Adriano Gomes, professor de finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP) e consultor da Méthode.


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“Ou seja, com estes insumos sendo afetados diretamente pela variação cambial, há o aumento dos preços de alimentos e carnes que vão para nossas mesas todos os dias”, afirma. Além disso, vários remédios e vacinas, embora sejam produzidos no Brasil, usam matéria-prima importada, que, ao ficarem mais caras, têm seus custos diretamente repassados para o consumidor.

A alta do dólar também torna a venda da carne bovina ao exterior mais vantajosa a produtores nacionais, o que reflete imediatamente no mercado interno: se a venda para o mercado exterior aumenta, a tendência é que o preço no mercado interno fique mais caro – em dezembro, ela subiu 18%. Afora isso, desde outubro o crescimento das exportações para a China resultou em preços mais salgados aos consumidores brasileiros, que tiveram de buscar alternativas como frango, porco e ovos, que, com a demanda em alta, também aumentaram.

“Imagine que um produto tem seu preço fixado em US$ 10 por quilo no mercado internacional, e a cotação da moeda estrangeira no Brasil é de R$ 3,90. Ou seja, para cada quilo exportado, o fabricante fica com R$ 39,00 em sua conta. De repente, o dólar dá uma esticada para R$ 4,12. Logo, invés de ficar com os antigos R$ 39, ele colocará R$ 41,20, mais 5,64% de ganho provocado pelo câmbio. Numa inflação anual estimada em 3,5% ao ano, ganhar numa única operação 5,64% é demais tentador”, pontua Gomes.

Por outro lado, os setores que importam mais no varejo – como roupas e calçados da China – podem ser bastante afetados com a alta do dólar. Em lojas de vestuário, a receita não sobe com o câmbio, e em parte das grandes empresas do setor o custo é dolarizado em função da compra de matéria-prima e produtos do exterior. Nos supermercados, quanto maior a porcentagem de importados, maior a perda.

Entenda a diferença entre dólar comercial e turismo

Ao ler o noticiário econômico, o mais comum é que as reportagens estejam falando sobre o dólar comercial, que é utilizado em transações de comércio exterior (importação e exportação) e é fixado pelo Banco Central, diariamente, por uma cotação chamada de PTAX. Já o dólar turismo é de flutuação mais livre e estabelecido por bancos e corretoras de câmbio para transações com cartões de crédito internacional, compra efetiva de moeda estrangeira e algumas remessas. Uma vez que haja oscilação no dólar comercial, também haverá no dólar turismo.

Por que o dólar sobe?

Há um ano, o CDS Brazil estava em 210,10 bps, chegando a um pico de 307,2 em 5 de setembro (antes da eleição presidencial) e com movimento de baixa continuada em 2019, atingindo a mínima de 96,4 bps em 18 de dezembro, uma queda de 53% ao longo de 2019. Mas o que são CDS e bps?

CDS (Credit Default Swap) é um índice que avalia o risco do país. “Em outras palavras, mede a probabilidade de ele dar um calote em suas obrigações. Quanto maior o número, maior o risco”, pontua o professor da ESPM. E sua medida se dá em pontos-base (bps ou base points, em inglês). “Assim, ao longo de 2019, o risco de o Brasil dar calote baixou 53%. Se por um lado é ótimo, pois aumenta nossa chance de retornar ao grau de investimento pelas agências de risco, por outro afugenta capitais especulativos”, observa.

“Esse movimento de saída de capitais especulativos associado à realização de lucros no mercado acionário é que tem movimentado, dentre outros fatores, o mercado de câmbio brasileiro e provocado esse verdadeiro rally do dólar”, diz Gomes, lembrando que, em 19/12/18, o dólar estava em R$ 3,90 e, um ano depois, estava em R$ 4,06, uma variação de 4,10%.

Por que o dólar desce?

De forma inversa, explica, “o dólar cai pela redução do risco de o país dar um calote, por movimentos especulativos diante de mudanças políticas e pela intervenção do Banco Central vendendo moeda estrangeira no mercado ou aumentando a taxa básica de juros (Selic)”. 

Quais são os efeitos da oscilação do dólar?

De imediato, o sobe e desce do dólar interfere no preço de produtos importados e, principalmente, no bolso de quem vai viajar para o exterior ou enviar dinheiro para manter os filhos em cursos fora do Brasil, explica Mathias Fischer, diretor da MeuCâmbio, marketplace de moeda estrangeira. Mas, em geral, “todos são afetados diretamente pela oscilação da moeda”.

A médio e longo prazos, a variação do dólar também pode afetar o dia a dia do consumidor, já que impacta os custos das empresas – indústrias que importam itens, por exemplo, podem repassar essa variação ao produto final, o que, por sua vez, mexe na inflação e no bolso do consumidor. “Todos os produtos que levam plásticos e seus derivados, eletrônicos, toda a cadeia do trigo e derivados, cerveja, carne e papel são impactados diretamente pelo dólar em alta”, complementa o professor da ESPM.

O restante, afirma, virá a reboque “pois, inevitavelmente, sofrerá o impacto inflacionário derivado, mas não com exclusividade do primeiro time atingido diretamente pelo câmbio”.

Aplicações financeiras são afetadas pelo sobe e desce do dólar?

Nas aplicações financeiras, o impacto do dólar depende do cenário, explica o diretor da MeuCâmbio. “Em 2002, o dólar teve sua maior cotação histórica em termos reais, mas o país passava por uma profunda crise, os juros estavam nas alturas e a Bolsa estava em baixa. Hoje, o dólar está nas máximas em termos nominais, mas temos os menores juros da história, e a Bolsa está no maior patamar da história. O que impacta a aplicação financeira é o cenário econômico, não a cotação do dólar.”

No Brasil, há aplicações em dólares, chamadas fundos cambiais. “São uma alternativa de investimento interessante para quem acredita na valorização do dólar contra o real. Se o dólar se valorizar, o investidor ganha. Se o dólar se desvalorizar, o investidor perde”, adverte.

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