Enquanto 45% das pessoas querem se aposentar antes dos 60 anos de idade, há profissionais no mercado com mais de 80 anos sem intenção de parar. “Por que vou parar se me divirto?”, diz a cantora Maria Mariano, 81 anos. “Não consigo ficar em casa sem fazer nada”, afirma o corretor de seguros Paulo Silva Marques, 83 anos.

Segundo pesquisa sobre aposentadoria divulgada nesta semana pelo instituto de pesquisas Datafolha, que entrevistou 2.792 pessoas em 171 municípios, 7% têm intenção de parar após os 66 anos. Um dos motivos para continuar no mercado de trabalho é a complementação de renda. Com o teto da Previdência em R$ 5.189,82 – muitos não chegam a receber esse valor –, parar não faz e nem pode fazer parte dos planos para o futuro.

Mas há também outros fatores que impedem muitas pessoas de ficar sem uma atividade profissional. Para Maria Mariano, por exemplo, foi um estímulo para superar a morte do filho e do marido. Há oito anos, a ex-fiandeira estava aposentada quando uma das netas sugeriu que ela fizesse cursos para se ocupar: violino, artesanato e canto.

Gostou de tudo, mas teve de vender o instrumento quando a situação financeira apertou. Nos trabalhos manuais, foi “até onde quis ir”. E foi como cantora que se reinventou. Gravou dois CDs – um deles com dez músicas compostas por ela mesma –, é presença constante em uma rádio do ABC paulista e tem a agenda cheia nos fins de semanas, em shows em casas noturnas da Grande São Paulo.

“Eu era mais parada”, conta Maria, sobre o período em que parou de trabalhar. “Agora estou mais saliente. Meus fins de semana são divertidos e faço muitos amigos por onde passo.” E completa: “Não sei mais ficar dentro de casa aos sábados e domingos”. Para ela, o reconhecimento do trabalho é algo que a motiva.

“Se você parar, nunca vai alcançar aquele que nunca parou”

Assim como para o corretor de benefícios Paulo Marques. “Não lembro quantos prêmios já ganhei”, dispara ele sobre sua trajetória no mercado de seguros. No total, ele acumula mais de 70 anos em atividade. Começou aos 10, para ajudar o pai, que era administrador de fazenda. Cuidava do gado, trabalhava na roça, “fazia de tudo”. Mas, aos 19 anos, decidiu sair “para a cidade grande”. Desembarcou em São Paulo e levou a ambição junto.

Trabalhou em indústria de panelas, vendeu carnês. Ficava alguns meses ou anos no serviço. Quando percebia que não havia mais como crescer, pedia as contas, mesmo sem ter algo em vista. E, aos 36 anos, conheceu o ramo que seria sua principal atividade durante a vida: o de seguros. “O segredo é descobrir como agradar seu cliente, especialmente com uma coisa que ele não quer comprar, como um seguro de vida, porque ninguém quer morrer”, pontua.

Nessa área, conta Paulo, a remuneração depende do esforço. Quanto mais apólices, maior o rendimento mensal. Por isso sempre estabeleceu objetivos e estratégias. Mapeou profissionais de universidades públicas para oferecer produtos, bateu na porta de prédios para se fazer conhecer, contatava clientes com os quais não falava havia algum tempo e fazia viagens para outras cidades quando identificava oportunidades.

Fez amigos para a vida – e exibe com orgulho um álbum com fotos de todos eles. Viajaram juntos, comemoraram prêmios e frequentaram a casa uns dos outros. Um dia, conversando com um deles – Nilton Molina, presidente do conselho de administração da Mongeral Aegon –, falou: “Estou cansado. Acho que vou parar”. Foi desmotivado pelo amigo.

“O que eu faria?”, questionou-se. “Eu me sinto ocioso se paro.” Decidiu manter a rotina, com horários mais flexíveis. Boa parte dos dias, vai de manhã para a Mongeral Aegon, no centro de São Paulo. Contata sua carteira de clientes e mapeia novos. “Se você parar, nunca vai alcançar aquele que nunca parou”, repete.

“Tenho orgulho de ter conseguido meu objetivo de qualificação dentro do que faço, do prazer que a atividade me dá”, resume. Arrependimentos? Ele para, pensa e diz que o maior é não ter diploma universitário. “Mas fiz vários cursos profissionalizantes.”

Compartilhe com seus amigos