Em carta divulgada no mês passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que a taxa de desemprego entre trabalhadores recuou no início deste ano com relação ao ano anterior. Segundo o documento, a taxa vem caindo de forma consistente e atinge todos os segmentos da população, sendo mais intenso entre trabalhadores com ensino fundamental e médio, jovens e mulheres. Em outras palavras, o mercado abriu mais vagas de emprego para trabalhadores menos especializados (sem formação superior) e com salários mais baixos (jovens sem muita experiência profissional e mulheres, que continuam com salários inferiores aos dos homens).

O órgão explicou ainda que o aumento foi devido à sazonalidade do período. A queda foi de 3,8 pontos percentuais entre trabalhadores com ensino médio incompleto. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a queda foi de 3,5 pontos percentuais, e entre as mulheres, de 2,6 pontos percentuais.

Os mais velhos são sempre os últimos

Pessoas com mais de 50 anos não foram contempladas com a melhora no mercado de trabalho. O especialista em Economia da Longevidade e professor convidado da USP Jorge Felix explica que esse fenômeno tem sido comum na última década, e que só está sendo percebido com maior clareza agora por causa da gravidade da crise financeira pela qual todos atravessamos nos últimos anos.

Esses trabalhadores estão sendo roubados e vão amargar as piores relações da reforma trabalhista

“Quando o país atravessou um período de crescimento, esses números eram melhores. Mas, mesmo assim, as pessoas com mais de 50 anos eram as últimas a serem absorvidas”, destaca Felix. Segundo o especialista, trata-se de um “exército de reserva”, dentro do pensamento marxista.

“Esses trabalhadores estão sendo roubados e vão amargar as piores relações da reforma trabalhista, pois a eles vão restar as vagas de empregos intermitentes, as contratações como PJ (Pessoa Jurídica) e outras formas de relação mais deterioradas”, ressalta Felix.

Ele lamenta que as pessoas com mais de 50 anos não têm uma integração assegurada no mercado de trabalho e que apenas uma minoria terá estabilidade no emprego e satisfação no que faz. Em suas palavras, “cada vez mais essa reserva só conseguirá se inserir em situações desqualificantes, muitas vezes trabalhando em algo que não gosta”. E resultado disso, para o especialista, é o surgimento de depressão e outros problemas de saúde.


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Segundo o Ipea, apesar do aumento na oferta de vagas de emprego registrado no início do ano, a taxa de desocupação vem caindo na comparação interanual “de forma consistente e atinge todos os segmentos da população”, sendo mais intenso nesse grupo de trabalhadores.

“Embora ainda se encontre em níveis muito abaixo dos observados no período pré-crise, o contingente de trabalhadores ocupados vem crescendo, na comparação interanual, desde o trimestre encerrado em julho de 2017, de tal modo que, em fevereiro de 2018, a taxa de expansão interanual apontada foi de 2%”, de acordo com o comunicado do Ipea.

Felix alerta ainda que o estudo leva em conta a quantidade. Mas que, se levarmos em conta a qualidade das vagas de  emprego, o resultado será ainda pior. Na opinião do especialista, o grande risco para essas pessoas é o de se tornar inimpregável. “Ele se torna um funcionário mais caro para a empresa e acaba sendo substituído por um mais novo que faz a mesma coisa pela metade do salário, ou mesmo quando todo o segmento passa por um processo de automação”, conclui.

O estudo do Ipea foi feito com base em dados da Pnad-C (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

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