“O que há em mim é sobretudo cansaço / Não disto nem daquilo, / Nem sequer de tudo ou de nada: / Cansaço assim mesmo, ele mesmo, / Cansaço.” Quem não se reconhece, em algum momento, numa das estrofes de “Cansaço”, poema escrito por Álvaro de Campos, heterônimo do escritor Fernando Pessoa? O sono, o descanso e o lazer não o levam embora. E aquela sensação vai se instalando de tal forma que se torna uma fadiga.

Não é nada parecido como quando se faz exercícios físicos ou permanece muitas horas sem dormir, comer ou ingerir líquidos. Também não se trata daquele desgaste de quem está concentrado em uma atividade e que pede algumas horas para descansar e começar um novo ciclo. “A fadiga é um cansaço excessivo, frequente e contínuo, injustificado pelo nível de atividade exercida, que não costuma melhorar pelo repouso”, afirma o médico e psicólogo Roberto Debski.

O especialista explica que a fadiga se manifesta de algumas maneiras, entre elas:

- cansaço frequente e demasiado, que não melhora com descanso;

- redução da capacidade de fazer as coisas que fazia antes;

- sono excessivo;

- alteração do apetite, do sono, o humor e da libido;

- sudorese;

- emagrecimento;

- queda de pressão;

- adinamia (fraqueza muscular e prostração);

- sintomas depressivos.

E, ao primeiro sinal de uma ou mais delas, é hora de se fazer questionamentos. Ela tem relação com quadros de alteração de sono? Há um excesso de atividades na agenda? Tem havido baixa adaptação ao estresse? Os problemas emocionais estão batendo à porta? Como está a alimentação?

Causas 

As respostas serão vitais para chegar à raiz do problema e indicar se existe alguma doença mais séria associada ao sintoma. “O estresse excessivo, que em grau máximo é chamado de burnout, pode causar sintomas de fadiga, em conjunto com alterações emocionais e comportamentais”, destaca Debski. Segundo ele, outras doenças, como anemia, diabetes mal compensada, problemas cardiovasculares e respiratórios, alguns tipos de câncer, síndrome ou doença de Addison –falência da glândula adrenal – e doenças autoimunes podem apresentar, entre outros sintomas, a fadiga.

Debski explica que um cansaço além da conta “pode ser normal por algum tempo, dependendo da fase de vida, das atividades, de fatores emocionais, de mudanças do estilo de vida, de traumas e de alteração repentina da rotina”.

Mas há um momento em que um sinal interno de alerta é necessário: quando a fadiga não melhorar com repouso e com a correção das supostas condições desencadeantes. “Pode se tratar de um caso de fadiga devido a alguma doença que necessita ser adequadamente avaliada pelo médico.”

Para chegar ao diagnóstico, além da avaliação clínica, podem ser pedidos exames complementares. Na lista estão os laboratoriais, hormonais, cardiovasculares e de imagem e testes funcionais.

Por ser uma condição comum a diversas doenças, não há um tratamento-padrão. “Para doenças metabólicas, deve-se fazer a correção dos níveis hormonais”, exemplifica Debski. Em caso de anemia, o especialista pode indicar reposição de ferro, ácido fólico ou mesmo de sangue. Se o desencadeante for estresse ou burnout, será preciso fazer uma mudança no estilo de vida.

O tempo até que a fadiga comece a diminuir também varia. Mas, diz o médico, ao atacar a causa, ela “tenderá a diminuir até cessar totalmente”.

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