A idade que Jairo Lima tem hoje nomeia a rodovia americana mais famosa, a Route 66. A coincidência retrata uma realidade nada casual: as diversas rotas que ele percorreu ao longo de seus 66 anos foram deliberadamente traçadas em razão dos meios de transporte.

Essa jornada começou em 1974, quando passou a trabalhar com táxis de frota, já em São Paulo – Jairo é natural de Olinda (PE). Antes disso, sua atividade profissional era, digamos, mais estática, como funcionário de um almoxarifado.

“Procurei algo que elevasse o meu padrão de vida depois que conheci uma mulher muito bonita”, conta. No caso, a paranaense Noemia, com quem é casado há 42 anos – ela hoje tem 61 e é dona-de-casa.

O ganha-pão sobre quatro rodas de Jairo enveredou depois pelo serviço de taxista com carro próprio e, em seguida, por um ponto fora da curva: o único cargo que o levou a contribuir com o INSS: motorista da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos, extinta em 1997), entre 1980 e 1986. “Não vale a pena pagar a vida toda para receber uma aposentadoria irrisória depois”, afirma.

Depois desse emprego, voltou por um curto período ao táxi antes de investir na compra de um ônibus e na criação de linhas de transporte na cidade de São Paulo. Uma delas, que ligava Perus a Pinheiros, foi oficializada via licitação. Entre idas e vindas, Jairo foi também vendedor de micro-ônibus entre 1999 e 2008. Entre 2009 e 2012, virou motorista de táxi especial do Aeroporto de Congonhas.

Jairo e Noemia têm duas filhas e um filho – esse o mais velho da prole, com 41 anos, e que mora em Sacramento, na Califórnia (EUA), há 11 anos; lá, é dono de uma loja de carros. Foi ao visitá-lo que Jairo conheceu o serviço da Uber, no final de 2012. Quando a empresa aportou de vez no Brasil, às vésperas da Copa do Mundo de 2014, o ex-taxista decidiu que esse era o seu novo caminho.

Sua rotina é puxada: ele diz que fica de 12 a 15 horas diárias fora de casa, entre 6 e 8 horas delas efetivamente dirigindo. Nessa toada, chega a faturar R$ 300 brutos por dia. Para aguentar o tranco, a saúde está na contramão das restrições controladas pelos radares nas vias paulistanas – ou seja, a mil.

Isso muito se deve, em sua avaliação, à alimentação. “Sempre fui vegetariano”, diz. O hábito começou já na infância, motivado por crenças religiosas – sua família era adventista do sétimo dia, “braço mais fanático da doutrina”.

Ele ainda é bastante religioso, mas menos fanático. O vegetarianismo, diz que manteve como combustível para se manter saudável. A igreja, por sua vez, tem uma importância em sua vida que está relacionada não somente a Deus, mas também a um hobby artístico: Jairo integra um grupo vocal gospel há 47 anos. A filha caçula e a neta Eduarda, de 10 anos, também de dedicam ao canto.

Às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio, Jairo ganhou sua própria medalha – categoria ouro na avaliação dos usuários como motorista do Uber. Diz que não vê motivo para conflitos entre taxistas e o tipo de serviço que presta atualmente, com a chancela de quem já esteve dos dois lados. “Há espaço para todos”, assegura. “Conheço donos de táxi que dizem que o trabalho deles aumentou depois que o Uber chegou. A diversificação das alternativas muda a cultura das pessoas, que passam a deixar mais o carro em casa.”

E esse movimento emparelha bem com o objetivo de vida de Jairo: ele nunca quer parar de dirigir. E, mesmo na hora do descanso, seu lema é o pé na estrada: “Quero ainda viajar muito com minha mulher, especialmente para Sacramento, onde vive meu filho”. A Route 66, por sinal, não passa por lá.

Em tempo, a Uber, por meio de sua assessoria de imprensa, ressalta que há parceiros com diversos perfis na plataforma, desde universitários até aposentados. “É uma plataforma inclusiva, democrática e que permite que pessoas de diversas classes sociais, diferentes idades e com diferentes níveis de estudo possam encontrar uma forma digna e acessível de gerar renda”, informa.

Para se cadastrar como motorista parceiro, é preciso ter carteira de motorista com licença para exercer atividade remunerada – EAR – e passar por checagem de antecedentes criminais nas esferas federal e estadual. Os carros precisam ser cadastrados com a apresentação de Certidão de Registro e Licenciamento do Veículo e bilhete de DPVAT do ano corrente.  O motorista parceiro não precisa mais ter um seguro APP, já que a própria Uber providencia um.

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