"Se eu parar de trabalhar, paro de viver." É com este tom que Emanuel Neri, 65 anos, define sua vida atarefada após a aposentadoria. Depois de 35 anos bem-sucedidos no jornalismo, ele fez as malas e saiu de São Paulo com destino a São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, e com um sonho em vista: abrir uma pousada na praia.

Nos primeiros anos do negócio, Emanuel realizou a gestão de São Paulo, onde ainda trabalhava como jornalista. Mas as saudades do cenário paradisíaco do Nordeste fizeram com que ele voltasse ao Rio Grande do Norte, sua terra natal. Há seis anos, já aposentado, assumiu de perto a administração da "Pousada dos Ponteiros", como o espaço é chamado, em alusão aos coqueiros que sombreavam a casa de seu pai.

Hoje, o empreendedor divide seu tempo entre a administração da pousada e de uma ONG, o Instituto Ação Social e Cidadania Nilo e Isabel Neri. "É gratificante oferecer cultura à população de São Miguel do Gostoso e ampliar o turismo na região em que nasci. São minhas raízes. Sempre tive metas assertivas e sabia que teria uma carreira além do jornalismo", explica.

"Sobra pouco tempo para ir à praia”

Se a paisagem mudou, a rotina permaneceu na mesma intensidade. O empresário afirma ter uma agenda cheia de tarefas, inclusive aos fins de semana. "Sobra pouco tempo para ir à praia. Tento reservar um tempo ao domingo para entrar na água, mas não é sempre que consigo."

Claudia Giudice, 52 anos, também jornalista, seguiu o mesmo caminho empreendedor de Emanuel, com uma pequena diferença: abriu a Pousada A Capela, em Arembepe, na Bahia, há cinco anos, por causa de sua sócia, não por ter nascido no local.

"Conheci minha sócia, que é de Arembepe, em uma cobertura jornalística e descobri que ela tinha o mesmo sonho que eu de abrir uma pousada na praia. Decidimos, então, planejar e estruturar o negócio durante dois anos", recorda ela, que atualmente mora na Bahia, mas volta a São Paulo a cada dez dias para visitar a família.

Planejamento financeiro

Segundo a jornalista, o planejamento financeiro individual para abertura do negócio teve início na década de 90. Já naquela época, Claudia começou a pensar no que faria quando o jornalismo deixasse de ser sua principal fonte de renda.

“Trabalho de frente para o mar, mas com o pé na areia”

Realizar o sonho antigo de administrar uma pousada, contudo, não significa que Claudia tenha sombra e água fresca agora que está aposentada. "Trabalho de frente para o mar, mas com o pé na areia. Só consigo aproveitar a praia se abrir mão do almoço", brinca ela, que também tem uma loja de arte popular.

A falta de tempo de Claudia é bastante comum entre os empreendedores do ramo de hotelaria, afirma Felipe dos Anjos Chiconato, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Segundo ele, há quem aposte em abrir uma pousada na praia pensando em descansar – e não em empreender.

Empreendedorismo é opção de como complementar a renda na aposentadoria 

E, ao contrário de Emanuel e Claudia, boa parte investe todas as economias em um negócio sem saber se ele é viável. “O ideal é, ao menos, ter um planejamento de dois meses para a ideia ser amadurecida", indica Felipe.

Saber os riscos inerentes ao setor também é importante na hora de decidir entre abrir uma pousada ou uma loja de roupas, por exemplo. "O empreendedor deve ter em mente que o segmento é sazonal [mais movimentado em feriados e férias] e às vezes o custo operacional do negócio pode ser maior que sua receita", pontua Tiago Melo, especialista em gestão de risco e diretor da MDRT.

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