Muito se fala do empreendedorismo feminino. Seja porque a participação das mulheres no mundo dos negócios tem crescido, seja porque estar à frente de uma empresa passa a impressão de proporcionar mais qualidade de vida, o fato é que ter uma pessoa jurídica tornou-se sonho de muita gente.

Os números comprovam. Num universo de 52 milhões de empreendedores no Brasil, 24 milhões são mulheres, segundo o GEM 2018, pesquisa global desenvolvida, no Brasil, pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em parceria com o IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade) e a UFPR (Universidade Federal do Paraná).

À primeira vista, esse universo do empreendedorismo feminino pode parecer cor-de-rosa. Um olhar mais aprofundado mostra que não é bem assim: os desafios são muitos e vêm em diversas tonalidades.


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Num recorte de quem já conseguiu se estabelecer, o percentual de mulheres foi menor em 2018, quando comparado ao universo masculino. Entre elas, esse índice foi de 34,4%; entre eles, de 41,7%, ainda segundo o GEM (Global Entrepreneurship Monitor) 2018.

O rendimento delas também é menor, na comparação com o deles. No estudo Empreendedorismo Feminino no Brasil 2019, elaborado pelo Sebrae, os homens ganhavam R$ 2.344; as mulheres, R$ 1.831. Vale ressaltar que as mulheres que têm negócios estabelecidos têm escolaridade 16% maior do que eles.

Empreendedorismo feminino: preconceito

Segundo a contadora Dora Ramos, à frente da Fharos Contabilidade há 30 anos, empreender no Brasil apresenta desafios para qualquer pessoa. Mas ela completa: “Os das mulheres são ampliados, pois elas têm de lidar com o preconceito que, mesmo velado, ainda existe”.

E em qualquer idade. “Se é mais jovem e tem filho ou se é mais velha”, afirma a professora Lígia Molina, da IBE Conveniada FGV, escola de negócios do interior paulista.

Mas o que fazer para driblar o preconceito? Investir em capacitação é uma das formas de minimizar os danos. “Tem que voltar para o banco da escola”, resume Lígia.

Há também um outro lado, de acordo com Dora. “Clientes declaram optar por minha empresa por ter uma mulher no comando. Segundo eles, as mulheres são mais atentas, transparentes e sinceras, e eles se sentiam mais confortáveis”, diz ela, acrescentando que “o fato de tratar de negócios com uma mulher deixa os clientes bem mais abertos a explicitar o que está ocorrendo ou como estão se sentindo em determinadas situações”.

Dupla jornada

Há, contudo, mais desafios. “Ser empreendedora não nos libera de todas as outras atividades que, por padrão ou costume, são delegadas às mulheres, como cuidar da casa e estar atenta à educação dos filhos”, diz a contadora. E completa: “Tudo isso sem se esquecer de si mesma”.

O cenário tem mudado, mas a professora do IBE Conveniada FGV concorda que a dupla jornada ainda é um dos desafios para o empreendedorismo feminino. Cuidar das crianças e dos pais, muitas vezes, torna-se papel exclusivo delas.

“Para dar conta de tudo isso, nós, mulheres, precisamos nos cuidar, nos respeitar e, muitas vezes, defender com muita determinação nosso jeito de ser e de administrar nosso negócio”, considera Dora.

Falta de planejamento

A pesquisa GEM 2018 mostra ainda que as mulheres empreendem mais por necessidade do que os homens. São 44%, ante 32%.

E a trajetória de quem empreende porque precisa conseguir algum rendimento é muito similar. Começa com a “abertura” do negócio – algo, em geral, informal – e segue por um tempo ao ritmo dos eventos.

A professora diz que a falta de planejamento é um dos principais desafios para a longevidade do negócio. Mas sempre é tempo de começar e buscar capacitação. Há muitas opções, inclusive online. E diversos cursos gratuitos, incluindo os do Sebrae.

Será preciso entender de marketing, de finanças e de atendimento ao cliente, lista Lígia. “[Quando sou empreendedora,] tenho que ser boa em tudo”, resume.

Empreendedorismo feminino: sucesso

Diante desse cenário, por que empreender? “Abri o negócio porque era a realização do sonho de ter uma empresa e de ser independente”, reflete a Dora, que deu início a seu empreendimento aos 25 anos de idade.

Passados 30 anos da abertura do negócio, ela comemora. Filha mais velha de pais semianalfabetos – a mãe aprendeu a ler aos 55 anos de idade –, ela viu os pais venderem as alianças de casamento para ajudar no pagamento de sua faculdade.

Do que ela se orgulha? “De ter continuado, a despeito das dificuldades, de ter clientes que se tornaram amigos de verdade, numa relação profissional e de companheirismo. Me orgulha o fato de,  com a Fharos, ter conseguido mudar a história de vida de minha família. E, principalmente, me orgulho do fato de hoje também poder começar a atuar em outra área sem precisar abrir mão da minha empresa.”

Lígia faz uma analogia para tratar do potencial da mulher empreendedora frente aos desafios. “É como um elefante preso a uma cordinha”, compara. Se houver consciência de toda a capacidade da mulher, “nada segura a gente”, finaliza a professora.

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