Certas reviravoltas são esperadas no decorrer da vida: trocas de escolas, de emprego e até de pessoas que entram e saem do nosso dia a dia. Outras, entretanto, fogem do "padrão" que estamos acostumados, como mudar de profissão. Isso porque a escolha da carreira, ainda na juventude, costuma ser decisão que, na teoria, deveria seguir até a aposentadoria.

Mas nem sempre é isso que acontece. Alterações na vida profissional têm se tornado comuns, inclusive depois dos 50 anos de idade – em uma fase em que a maioria das pessoas nem cogita trocar de rumo, pois já somam décadas de atividades na carteira de trabalho. E quer saber? Pode ser a melhor decisão da sua vida.

Até os 50 anos, a paulistana Regina Guidi se dedicou de corpo e alma à atuação como produtora para publicações. Mas, sete anos atrás, decidiu que era hora de parar e investir em algumas de suas paixões: a jardinagem, o paisagismo e a agricultura orgânica.

"Com a produção, minha vida era megacorrida e eu estava sempre no trânsito – e o trânsito de São Paulo é angustiante. Era um estresse ficar no carro o tempo todo. O mercado também estava ficando cada vez mais complicado, com baixos cachês e exigências e responsabilidades cada vez maiores", lembra.

“Trabalho hoje com o que gosto"

Além disso, Regina queria algo que tivesse mais coerência com sua vida e o que considerava importante, como sua preocupação com o meio ambiente. "Então mudar de profissão foi algo que me fez muito feliz. Hoje eu faço meu horário, saio em horários alternativos e não pego trânsito. E trabalho hoje com o que gosto", afirma.

Regina garante estar bastante feliz com a decisão e com as mudanças que aconteceram na sua rotina, transformando "corpo e mente". "Criei em casa uma 'florestinha de bolso', onde planto e colho frutas, verduras e temperos. Mantenho minha meditação diária e a alimentação orgânica também trouxe mais saúde para mim", garante.

Reinventando-se na crise

Realização pessoal também moveu Roberto Georges, 53 anos. Há sete meses, viu-se sem emprego ao vender sua loja – em baixa por conta da crise financeira no país. Decidiu resgatar o diploma de psicologia, em desuso havia mais de duas décadas e mudar de profissão.

Hoje, ele é acompanhante cultural e motivacional e seu trabalho é voltado para pessoas mais velhas ou com problemas de saúde, sendo companhia para passeios (parques, cinema, teatros, exposições), compromissos de saúde (consultas médica, exames, fisioterapia) e sessões de bate-papo, de leitura ou de ensino (de navegação na internet).

"Foi uma escolha natural. Eu estava parado e resolvi escutar essa voz, esse chamado interior. Sempre tive muita paciência e sempre me identifiquei com pessoas mais velhas – talvez pela sabedoria delas", revela. E completa: “Essa mudança, para muitas pessoas, vem naturalmente, como uma sequência na vida. Isso vem de uma trajetória de mudanças naturais, de uma evolução".

“Não dá para ficar se iludindo, se enganando"

Mais contente com o tempo livre que lhe permite estudar e executar um trabalho mais prazeroso, Roberto acredita que a reviravolta em sua vida foi consequência dos tempos – o do mundo e o interno. "Com 53 anos, você começa a refletir muito mais sobre a sua vida. A maturidade vem e te aponta caminhos mais concretos, para você ser mais prático. Não dá para ficar se iludindo, se enganando", pondera.

 

Da profissão ao novo estilo de vida

Foi exatamente aos 50 anos que começou a guinada na vida de Fernanda Santos. Ela não só deixou o jornalismo para se tornar terapeuta holística como também trocou a agitada capital paulista pela pacata Arembepe, no litoral baiano.

Mudar de profissão não foi um processo rápido. Teve início em 2013, diante de uma série de mudanças que afetaram a área, incluindo acúmulo de cargos e cortes de custos. "Comecei a entender que o espaço para mim estava ficando meio apertado e eu tinha que caber em algum lugar. A gente atinge um patamar de idade, salário e tudo o mais e começa a ver que as coisas não são tão fáceis", lembra.

De lá para cá, Fernanda alternou períodos dentro e fora das redações, ora se readequando à nova realidade do jornalismo, ora se recuperando do estresse que afetava sua saúde. Num dos retornos, veio a certeza: o jornalismo havia acabado para ela.

"Aquele ciclo estava se fechando e eu consegui enxergar isso. Se eu não tomasse uma atitude em direção ao meu coração, ao que eu realmente queria, iria perder esse timing, iria me afundar, ser demitida, provavelmente entrar em depressão", pontua.

Sempre muito ligada à espiritualidade, fez cursos de terapia floral, de métodos de cura, reiki, aromaterapia, cristais, óleos essenciais, entre tantos outros. Está concluindo o de fitoenergética também. Desde que optou pela terapia holística, sabia que o que estava se propondo a fazer não combinava com São Paulo e seu consequente estresse.

Há menos de dois meses como moradora oficial de Arembepe, Fernanda dá os primeiros passos na nova profissão. "Estou começando de novo, revivendo tudo o que vivi um dia, reaprendendo tudo numa nova área, mas com a maturidade de agora", diz ela, hoje com 54 anos.

“Tudo acontece da forma que tem que acontecer quando você se propõe a fazer alguma coisa”

Apesar de ainda não ter retorno financeiro com a nova profissão, a terapeuta afirma estar vivendo um momento muito especial. "Estou perto da natureza, estou mais leve, mais feliz, levo uma vida muito mais simples, não preciso de roupas, não preciso de sapatos, não preciso de nada que seja um exagero", diz.

Mudaria algo se pudesse voltar no tempo? "Não! Tudo acontece da forma que tem que acontecer quando você se propõe a fazer alguma coisa. A gente não tem certeza de nada: tudo pode dar errado, mas tudo pode dar certo. Mas estou exatamente naquele momento inteligência emocional que o [rabino] Nilton Bonder fala: flutuando na confiança de que algo maior vai me guiar e me colocar naquele lugar para fazer o que eu sei e que quero fazer", finaliza.

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