Nenhuma autoridade deveria, jamais, sequestrar os sonhos de alguém. Nem dos jovens, nem dos que estão próximos a se aposentar: é tempo de acionar a independência, a autonomia e a coragem, para se animar a tomar novas decisões, inspiradas em sonhos a realizar.

Ainda que sejam muito relacionadas, autonomia e independência não são a mesma coisa. Ambas têm aspectos positivos e negativos. Quando se aplica uma ou outra? Você pode estranhar: como assim, então, ser independente não é positivo sempre? A resposta é: não, não é.

Desde o nascimento, trazemos o impulso para conquistar a nossa independência, numa luta que será travada até o fim. Também devemos saber que há vantagens na dependência, assim como há glórias na independência.

A exultação de um bebê que começa a caminhar é o sentimento que nos acompanha para sempre. Trata-se de uma emoção gostosa, um novo poder que alimenta a autoconfiança de saber fazer por conta própria.

Ocorre que, em muitos objetivos, dependemos de outras pessoas, que precisam concordar conosco, no mesmo prazo, daquele jeito e com o mesmo propósito.

Excesso de independência atrapalha um bom relacionamento, pessoal ou profissional. A independência é, por si própria, uma excelente condição, que traz consigo obrigações. Sem solidariedade, ela não basta. Aceitar que, em muitas situações, precisamos obedecer, é de grande sabedoria. E saber dosar, negociar, recuar ou avançar num projeto.

A menos que se viva longe da civilização, o pulo do gato é saber quando podemos, devemos e é adequado agir com independência. Até que não conquistemos a virtude da responsabilidade, ela é uma faca de dois gumes.

Com essa lenta conquista vêm: respeito pela opinião alheia; coragem de divergir; gentileza e alegria ao servir; dosagem certa para ajudar alguém _ e perguntar se a pessoa quer ser ajudada.

“Pedir mesada para um filho, mesmo temporária, pode se tornar um pesadelo moral”

Um dos maiores fantasmas da maturidade é o de perder a independência e sofrer humilhação. Pedir mesada para um filho, mesmo temporária, pode se tornar um pesadelo moral, levar a sentir que errou em tudo na vida.

Somos, sim, dependentes e interdependentes, ao mesmo tempo em que também somos independentes e imparciais. Temos liberdade para sermos justos e corretos com o outro e conosco mesmos.

Essas qualidades se agregam ao nosso caráter e comportam escolhas conscientes: sim ou não. Evitar abusos com firmeza: “Não quero participar disso”. Ou, “Sim, vou te ajudar por tempo determinado”. Ou, por exemplo, deixar claro as condições de devolução dos empréstimos.

A independência é tão nobre quanto a gratidão por receber ajuda, sem nos sentirmos diminuídos. Quando os nossos recursos não são suficientes para enfrentar uma situação difícil, pedir pode significar, também, conceder ao outro a alegria de se sentir importante para nós!

Já a autonomia diz respeito à faculdade de a pessoa se autogovernar conforme seus padrões: de conduta moral, coragem e autodeterminação. O contrário de autonomia é heteronomia.

Uma pessoa é autônoma quando constrói seu próprio crivo de valores, atitudes e decisões. E segue seus próprios princípios. Outra, heterônoma, segue a vontade de alguém. Ou da maioria.

Estudos realizados com grupos demonstram que, num restaurante, a maioria decide conforme o primeiro escolhe. Quando duas pessoas pedem a mesma coisa, quase todos tendem a segui-los. Quem pede outro prato é comumente visto como “o chato da vez”.

O independente é o que respeita seus próprios gostos. O autônomo é aquele que não se incomoda com a opinião alheia, não por ser indiferente, mas porque aceita que pessoas tenham preferências.

“Quem é autônomo não desfaz da opinião alheia. Reconhece o direito de cada qual”

Num diálogo, a autonomia é condição primordial para que diferentes visões, interesses e emoções se expressem igualmente. Quem é autônomo não desfaz da opinião alheia. Reconhece o direito de cada qual. É a autonomia moral que precisa reger os grandes debates e diálogos em todos os âmbitos.

Em família, porém, os pais precisam saber dar um “não redondo” em três aspectos: saúde, integridade física/moral e educação. É de sua obrigação não permitir que os jovens corram riscos desnecessários.

Na sua sabedoria e independência, uma autoridade faz valer sua palavra. Disciplinar é exatamente isso: impor aos dependentes um saber cuidadoso bem e coerentemente aplicado. Até que eles caminhem com suas próprias pernas.

Os jovens rebeldes fazem às escondidas. Adultos, nenhum reclamará por ter tido pais rigorosos e exigentes. Muitos se ressentirão da omissão e negligência. Isso é violência, dói demais e mina a autoestima.

Na meia idade, há que se ter um novo projeto: se reeducar e atualizar (o mundo mudou!). Gerar saúde (fazer mais do que se gosta e menos do que não se gosta; não se autoaplicar preconceitos). E não se deixar corromper (pelas facilidades, medos e aparências).

Um conselho para os madurões: jamais inibam alguém de sonhar, muito menos a si mesmos. A independência está para o conseguir assim como a autonomia está para o sonhar.

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