Lembra daquela velha propaganda exibida na TV que dizia: parece, mas não é? A campanha publicitária falava de um xampu anticaspa que parecia remédio, mas não era. Há tempos, a medicina se utiliza positivamente de coisas do gênero sem que as pessoas desconfiem. Medicamentos, substâncias e tratamentos que parecem convencionais, mas que não possuem efeito ativo. Estamos falando do placebo, palavra que vem do latim placere, que significa agradar.

Muito utilizados pela indústria farmacêutica nos testes para a descoberta de novos medicamentos, os placebos são ministrados em um grupo de pacientes, enquanto o outro grupo recebe o medicamento. Nesses casos, é fundamental que os dois grupos acreditem estar tomando o medicamento verdadeiro. Ao final, é esperado que o grupo que tomou placebo não apresente qualquer alteração do quadro clínico, enquanto o outro grupo deverá apresentar certa melhora.


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A técnica também é bastante utilizada no tratamento de algumas doenças nas quais o comportamento do paciente seja de suma importância, tais como depressão, alterações do sono, síndrome do intestino irritável, menopausa e algumas dores crônicas. Embora não possuam qualquer efeito ativo, os placebos aumentam a esperança e tornam o paciente mais confiante, causando uma mudança de atitude frente à doença.

Em alguns casos, o placebo pode ser uma excelente opção para reduzir o número de medicamentos ou tratamentos utilizados para aliviar sintomas, deixando o organismo menos intoxicado.

Como funciona o Efeito Placebo

A psicoterapeuta Ana Paula Madeira explica que o placebo pode agir diretamente no inconsciente das pessoas, trabalhando a expectativa com relação àquele tratamento.

“A nossa mente exerce um poder muito grande sobre o nosso corpo, agindo diretamente em tudo o que acontece em nosso organismo. Se o paciente acredita que aquele medicamento específico vai ajudá-lo a resolver um problema, é possível que seu cérebro inicie processos químicos para produzir determinadas alterações no organismo e melhorar os sintomas”, conta a terapeuta.

Como exemplo, Ana Paula cita o velho copo de água com açúcar, oferecido às pessoas em momentos de nervosismo. “Diante de uma situação de grande tensão, algumas pessoas, geralmente de mais idade, costumam receitar um copo d’água com açúcar para acalmar os ânimos. Não há qualquer evidência científica de que esse tratamento funcione, mas o fato é que muitas pessoas realmente se acalmam com a receita caseira”, acrescenta.

placebo

Foto: esoxx / Shutterstock

Em alguns casos, o efeito placebo é tão forte que os pacientes chegam a sofrer os efeitos colaterais daquele medicamento. Também pode acontecer de o paciente apresentar sintomas desagradáveis, como cansaço e boca seca. Para essas situações, é utilizado o termo “Nocebo”, também originado do latim e que significa dano.

Ana Paula acrescenta que placebo não se resume apenas a medicamentos ou tratamentos. “Pode ser um anel, um cordão, uma crença religiosa e até um cosmético que te dê maior segurança para enfrentar uma situação”, esclarece.

À lista fornecida pela profissional, ainda podem se somar fatores como cores, marca e valor pago pelo medicamento.

"É importante ressaltar que o placebo, quando utilizado, pode apenas atenuar alguns sintomas..."

Mas a psicóloga alerta que os placebos não são capazes de curar doenças nem padrões comportamentais prejudiciais. “É importante ressaltar que o placebo, quando utilizado, pode apenas atenuar alguns sintomas. Ele pode aliviar momentaneamente, porém não vai curar doenças nem auxiliar o indivíduo a desenvolver novas formas de lidar com seus medos e angústias, da mesma forma que não substituirá o tratamento convencional”, adverte Ana Paula.

Embora a técnica possa apresentar benefícios em alguns casos, a psicoterapeuta lembra do risco da passividade por parte do paciente. “Num processo psicoterapeutico, trabalhamos o autoconhecimento do indivíduo, estimulando-o a buscar cada vez mais autonomia e o auxiliando a encontrar em si mesmo ferramentas internas de suporte.”

Placebo open-label: um tratamento honesto

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não permite que os médicos receitem placebos aos seus pacientes quando há disponível no mercado algum tratamento eficaz para a doença. Contudo, no site da Amazon é possível comprar um frasco de placebo da marca Zeebo com 45 cápsulas por menos de 15 dólares. Isso porque existem pessoas ao redor do mundo que realmente acreditam na eficácia do tratamento com placebos, mesmo sabendo não se tratar de um medicamento verdadeiro.

Em 2009, um grupo de cientistas da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, desenvolveu um estudo sobre o que se convencionou chamar de placebo open-label. Em tradução livre, o termo pode ser escrito como placebo aberto ou placebo honesto.

Os cientistas escolheram para o experimento um grupo de pessoas que sofriam de síndrome do intestino irritável. Para metade dos doentes, foi dada conscientemente uma dose de medicamento placebo. A outra metade não tomou medicamento algum.

No primeiro grupo, o número de pacientes que apresentou melhora foi o dobro dos pacientes que melhoraram sem tratamento. O grau de melhora ainda foi superior aos índices obtidos em outros tratamentos que utilizaram fármacos de verdade.

Embora ainda não haja comprovação de que o uso do placebo aberto seja benéfico à saúde, os cientistas responsáveis pelo estudo defendem que a modalidade possa ser usada no controle de sintomas como dor, náuseas e fadiga.

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