Durante muito tempo, os homens carregaram a fama de ir menos ao médico do que as mulheres. Não era apenas algo empírico, mas comprovado até em pesquisa do IBGE. Agora, no entanto, o quadro está em transformação: elas estão dando menos atenção à saúde, segundo especialistas.

“O conceito de que os homens se cuidam menos está caindo por terra”, avalia Luiz Cláudio Lacerda, médico especializado em ortopedia e traumatologia. “As mulheres estão lidando com muito estresse no mercado de trabalho e têm ficado mais parecidas com eles em relação ao zelo com a própria saúde.”


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Essa opinião é partilhada por Maristela Soubihe, chefe da área de geriatria do Hospital Santa Paula. Ambos mencionam um estudo do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), segundo o qual as médicas têm morrido cerca de dez anos mais cedo que os médicos.

O estudo analisou taxas de mortalidade da categoria ao longo de uma década. “Isso se deve à sobrecarga de atividades no trabalho, e ainda com menores salários que os dos homens”, afirma Maristela. “Assim, as mulheres também deixam de se alimentar e de dormir direito, de fazer exercícios físicos e de ir ao médico.”

“Os homens têm ficado mais propensos a cuidar do seu bem-estar”

A geriatra aposta que a demanda produtiva do mundo moderno equilibre os números da expectativa de vida de homens e mulheres. No Brasil, eles atingem em média 72 anos e 5 meses, e elas chegam a 79 anos e 4 meses, segundo dados de 2017 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Os homens têm ficado mais propensos a cuidar do seu bem-estar”, diz o ortopedista. As próprias empresas, preocupadas com os gastos de saúde nas folhas de pagamento, exercem uma pressão nesse sentido, pontua Maristela.

“Perdeu-se o estigma da vaidade”, contextualiza Lacerda. “O cuidado com a própria saúde passou a ser vinculado a uma condição de qualidade de vida, tão importante para a mente quanto para o corpo. Antes a sociedade era mais machista, e o homem se comportava com mais rigidez em relação a essas questões.”

Mudanças recentes

Essa mudança de perspectiva da saúde masculina é perceptível em estudos e pesquisas de pouco mais de uma década ou até menos tempo atrás. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz de 2007, por exemplo, apurou que os homens viam o consultório médico como um lugar de crianças, mulheres e idosos.

Outra pesquisa, realizada em 2012 pelo Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, apontou que 60% deles só procuravam o médico quando as doenças já estavam avançadas. Em razão disso, em geral, eram necessárias intervenções cirúrgicas para combatê-las.

Pelos dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2013, feita em convênio com o Ministério da Saúde, as mulheres haviam ido mais ao médico – 78% delas – do que os homens (63,9%) nos 12 meses anteriores à realização das entrevistas.

Visita ao ginecologista

As explicações para esse cenário que começa a se desconstruir passam por aspectos sociais e culturais, de acordo com Maristela Soubihe. Ela explica que a maior diferença de hábito entre os sexos na área da saúde está essencialmente na visita ao ginecologista. “A mulher começa a ir a esse especialista quando atinge a idade fértil”, afirma.

E, ao atender a essas consultas, desenvolve o costume de realizar avaliações periódicas. “O ginecologista não se restringe a pedir exames relacionados ao aparelho reprodutor”, explica Maristela. “Ele investiga nível de colesterol, condições da tireoide, densidade de osso”, exemplifica.

Fuga do médico

A médica chama também a atenção para o comportamento masculino no que diz respeito às idas ao urologista, o responsável por cuidar dos problemas genitais dos homens. “Seria também o primeiro médico deles, mas essa consulta ainda é evitada”, afirma a geriatra.  “Enquanto isso, as mulheres são invadidas por espéculos [usados para dilatar a entrada da vagina] e instrumentos do tipo em seus exames anuais.”

Tal rotina, acrescenta, as torna também mais propensas a não temer a busca por check-ups constantes. “Ao longo da vida, a mulher enfrenta ciclo menstrual, dor de parto. Dessa forma, médicos não a assustam tanto como o fazem com os homens”, diz Maristela, ressaltando que se trata de “uma observação bastante empírica”.

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