Quem observa idosos praticando tai chi chuan – a chamada meditação em movimento – não imagina que seus gestos lentos, suaves e coreografados possam, realmente, deixar as pessoas mais fortes, tanto no sentido físico como no emocional. Mas diversos estudos revelam que, entre inúmeros benefícios à saúde, esse exercício provou ser efetivo na prevenção e redução de quedas.  

Isso porque sua prática envolve coordenação, força de membros inferiores e equilíbrio dinâmico, além de condicionamento cardiovascular, que, naturalmente, diminuem à medida que a idade avançaexplica o médico Egidio Lima Dórea, diretor no International Longevity Centre Brazil e coordenador da Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade de São Paulo (USP) 

Atualmente, um núcleo de pesquisa da Harvard Medical School se dedica exclusivamente a avaliar os benefícios d o tai chi chuan. Entre os resultados, concluiu que a prática ajuda a manter a densidade óssea, diminui dores decorrentes da artrite, promove a saúde do coração, reduz a hipertensão e, consequentemente, melhora a qualidade de vida, contribuindo para um envelhecimento ativo. 

Tai chi chuan melhora equilíbrio e previne quedas

Estudos apontam benefícios do tai chi chuan

O médico cita um estudo multicêntrico (desenvolvido em mais de uma instituição ou centro de pesquisa) com diversas modalidades esportivas, realizado nos Estados Unidos, que mostrou que o tai chi, justamente por envolver tanto o equilíbrio estático quanto o dinâmico, teve uma boa efetividade na prevenção das quedas. 

Outras pesquisas, segundo Dórea, reproduziram esses resultados, como publicada no periódico científico JAMA, em 2018, em que idosos praticantes de tai chi chuan tiveram uma redução de 31% nas taxas de quedas, quando comparados aos que faziam exercícios variados (alongamento, equilíbrio e resistido)de 58%quando comparados aos que se dedicavam a exercícios de alongamento. 

No tai chi chuan, explica o especialista, os sistemas musculoesquelético, sensorial e cognitivo são integrados: Os movimentos deslocam o centro de gravidade através de uma série de movimentos do corpo, parte apoiado e parte em balanço e movimento, rotação de tronco e pelve, oscilação de tornozelo e movimentos dos olhos-cabeça-mãos, e acarretam uma sincronia entre a estabilidade e a instabilidade intencionalmente provocada. 

Estudo publicado na New England Journal of Medicine mostrou que mesmo pacientes com doença de Parkinson, que são uma população com importantes alterações no equilíbrio, obtiveram melhora nas medidas de equilíbrio e redução de quedas com a prática do tai chi chuan. Além disso, pontua, “ele melhora a atenção ao se deslocar em um ambiente e requer uma concentração maior ao realizar a prática, o que estimula a cognição. 

Tai chi chuan: movimentos que curam 

Embora não existam pesquisas no Brasil, o Ministério da Saúde, em sua página na internet que traz dicas preventivas para quedas de idosos, recomenda sua prática. No Hospital Universitário da USP, ele foi incorporado no ambulatório de prevenção de quedas, “por ser uma modalidade de exercícios simples, de baixo risco e que pode ser praticada em casa” – confira o vídeo com um dos praticantes de 82 anos.  

Os exercícios, afirma Dórea, são auto ilustrativos: “Foram selecionados movimentos simples e que aumentam de dificuldade de uma forma gradual, de forma a não colocarem o indivíduo em risco de algum tipo de lesão”.  

A orientação é que seja escolhido um ambiente adequado, sem objetos ou desníveis. Em casos de pacientes com limitações de marcha e equilíbrio importantes ou com histórico de mais de duas quedas no ano anterior, orienta-se que passem em uma avaliação médica para a liberação. O importante, sobretudo no momento atual de isolamento que vivemos, é que esta é uma modalidade de exercício com benefícios comprovados e que pode ser feita em casa. 

Antes da pandemia, parques públicos ofereciam aulas gratuitas de tai chi chuan. A terapeuta Estela Soares Bueno de Lima era uma das instrutoras no  Salvador Arena, em São Bernardo do Campo (SP). Entre seus 12 alunos de 17 a 74 anos, diz que colhe relatos de “melhora no equilíbrio, na atenção plena e na flexibilidade. Mas, como toda prática, exige disciplina, consciência dos movimentos e observação do próprio limite. No início, é difícil, mas, após algumas aulas, já se percebe a diferença, harmonizando corpo, espírito, ser humano e natureza”.  

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