Durante o isolamento social, você: a. parou de se exercitar; b. tem andado menos; c. passa muitas horas sentado; d. fica deitado por bastante tempo; e. bebe pouco líquido. Se alguma dessas alternativas começou a fazer parte do seu dia a dia, é bom estar atento à má circulação. 

“O corpo precisa de movimento”, diz o angiologista e cirurgião vascular Ricardo Brizzi. E é exatamente isso que a pandemia do novo coronavírus fez dissipar: o vaivém para encontrar amigos e familiares, as caminhadas para a feira ou o supermercado, as idas à academia ou à faculdade e os passeios em espaços de lazer. Agora, boa parte das pessoas está confinada dentro de casa, sem a mobilidade de antes e sem previsão certa de retorno às ruas e à “vida normal”. 

Em maior ou menor grau e independentemente da idade, todos precisam adotar medidas para manter distantes os malefícios provocados por essa situação de confinamento, de acordo com o médico. Evitar inchaços e até mesmo tromboses deve ser uma preocupação desde quem é mais velho até os mais jovens, especialmente se há fatores de risco, como uso de hormônios, tabagismo, sedentarismo e hereditariedade. 

O primeiro passo é estar alerto aos sintomas da má circulação – e eles variam bastante. “Na parte venosa, há dor, peso nas pernas, inchaço e cansaço no final do dia, que melhoram quando se coloca as pernas elevadas”, lista o médico Bruno de Lima Naves, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). 

Se o problema for nas artérias, a pessoa sente dor ao caminhar, que piora na subida. Naves acrescenta ainda sensação de frialdade (temperatura mais baixa) nas pernas, cor azulada nos pés e queda dos pelos entre os sintomas. 

Dieta 

Uma das formas de evitar a má circulação no isolamento social é cuidar da alimentação, evitando ou reduzindo o consumo de sal e álcool. Brizzi explica que ambos provocam a retenção de líquidos, o que dificulta a circulação sanguínea.  

Alimentos industrializados e itens ultraprocessados, como salgadinhos, refrigerantes e biscoitos, devem ser abolidos da dieta, especialmente nesse período. “O sódio não é o único vilão nesses produtos. Eles contêm também açúcar e gordura, que prejudicam o bom funcionamento do organismo”, afirma Brizzi. Se for para aumentar algo, que seja a hidratação. “Beber bastante água faz com que o corpo funcione bem e combate a retenção de líquidos.” 

Exercícios no confinamento 

Ok, o espaço pode ser pouco, mas há atividades para todos os gostos. “Tente criar uma rotina de exercícios simples, que podem ser feitos em casa e que podem aliviar o inchaço e a sensação de peso nas pernas”, recomenda Brizzi 

A atenção especial deve ser dada às pernas, em especial às panturrilhas, que são “importantes no retorno do sangue venoso e muito exigidas no caminhar”, explica Naves. “Fortalecer essa musculatura é fundamental.” 

Três vezes ao dia, para ativar os músculos da perna, Naves recomenda fazer os seguintes exercícios: ficar na ponta dos pés, repetindo esse movimento por dez vezes; e sentar em uma cadeira, levantando sem o auxílio das mãos, também em sequências de dez movimentos, respeitando os limites do organismo. 

“Tanto a caminhada quanto esse exercício [de ficar na ponta dos pés] estimulam as partes venosa e arterial. Mesmo o paciente acamado tem que trabalhar a circulação”, destaca Brizzi. E completa: “Isso é muito importante, pois contrai o músculo da batata da perna e estimula o sangue a voltar para o coração, evitando o edema e inchaço das pernas”. 

Brizzi aconselha também a fazer pequenas caminhadas, mesmo dentro de casa, de um cômodo a outro sem interrupções e na velocidade que conseguir por dez minutos todos os dias. Quem tem esteira pode se exercitar por, pelo menos, de cinco a dez minutos. Já pessoas com mais idade e que não estão habituadas devem ter cuidado, pois podem sentir tontura.  

Vale ainda subir escadas, fazer flexões e abdominais. “Enfim, ficar ativo”, resume Naves. 

Massagear e levantar as pernas  

Relaxar com massagens nas pernas também faz parte do pacote para reduzir possíveis problemas causados pela má circulação. Elas estimulam o sangue a retornar, explica Brizzi. Os movimentos devem ser feitos de baixo para cima, de forma delicada, leve e com cuidado. “Existem alguns cremes indicados, mas sempre com prescrição médica.” 

má circulaçãoCrédito: Henadzi Pechan/Shutterstock 

Outra recomendação do médico é deixar as pernas para cima, sobre almofadas, ao menos 30 minutos ao fim do dia. Nessa posição, a pessoa deve fazer a contração da panturrilha, esticando e puxando os pés.  

Se conseguir exposição solar – durante essas atividades ou em outro momento do dia –, melhor. “Nem que seja na janela, na varanda. Tentar tomar pelo menos 20 minutos de sol por dia, isso ajuda no bem estar.” 

Má circulação: procure um médico  

Os problemas circulatórios de uma maneira geral podem ser evitados com medidas simples, como praticar uma atividade física, ter uma alimentação equilibrada e não fumar, segundo BrizziAlém da mudança de hábitos, vale investir na auto-observação.  preciso] ficar atento a sintomas como dor, alteração na coloração da pele e inchaços nas pernas procurar imediatamente um médico angiologista e/ou cirurgião vascular.” 

Naves reforça: “Aparecimento de vermelhidão na perna seguido ou não de febre, íngua e dor pode ser flebite ou erisipela. Inchaço ou endurecimento da musculatura da panturrilha de uma perna só, acompanhado de dor, pode ser trombose. Dor forte ao caminhar, que não melhora mesmo depois de parado, pode ser falta de circulação”. E exigem a investigação de um médico. 

“Pacientes portadores de aneurisma abdominal que fazem monitoramento regular, diabéticos, pessoas com má circulação que já fazem acompanhamento e perceberam uma piora no seu quadro e pacientes com feridas na perna – todos esses casos exigem atenção. A piora de sua doença pode ser pior que o vírus [Covid-19]”, compara Naves, recomendando sair momentaneamente do isolamento social para procurar um especialista.  

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