Cuidar da saúde do intestino pode ser mais importante do que você imagina. O órgão, além de realizar a digestão e eliminar as toxinas do corpo, está relacionado ao sistema de defesa do organismo e à produção de hormônios que proporcionam a sensação de bem-estar. Não é à toa que muitos especialistas o chamam de "segundo cérebro".

Explica-se: esse é o órgão do corpo humano que tem a maior quantidade de neurônios – mais de 100 milhões –, depois do cérebro. E participa da produção de 80% da serotonina do organismo, que atua no controle de humor.

Para saber se o seu intestino está saudável e quais são os cuidados a tomar no dia a dia, o portal do Instituto de Longevidade entrevistou os médicos Henrique Passos, ortomolecular e endocrinologista; Peterson Martins Neves, coloproctologista da Cronos Medicina Diagnóstica; e Gilberto de Paula, nutrólogo do Premium Lab Diagnósticos, além da nutricionista Michelle Mileto Troitinho, do Kurotel – Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar. A seguir, eles explicam quais são os sinais de alerta.

Intestino: sinais de bom funcionamento

“Um dos indícios que devem ser observados é a frequência da evacuação e suas alterações”, orienta o médico Peterson Martins Neves, coloproctologista da Cronos Medicina Diagnóstica. Ele explica que o esperado é que a pessoa vá ao banheiro pelo menos uma vez ao dia, sem sofrimento ou força excessiva.

O formato e a coloração das fezes também importam. Elas devem ser compridas e de tonalidade amarronzada.

“Quando o intestino está funcionando bem, quando a flora bacteriana está legal, o indivíduo fica com o sistema nervoso parassimpático mielinizado, o que gera uma empatia natural”, explica o médico Gilberto de Paula, nutrólogo do Premium Lab Diagnósticos.

Um órgão saudável também está associado ao equilíbrio do humor e à boa disposição, segundo Neves. “No entanto, obviamente, não existem regras em relação ao corpo humano, ou seja, nem toda pessoa bem-humorada ou bem-disposta é necessariamente livre de problemas intestinais.”

Sinais de problemas

Sofrer ou ter dificuldade para ir ao banheiro já devem acender o sinal amarelo: é indício de que a saúde intestinal precisa de cuidados. “Quaisquer alterações no ritmo habitual de funcionamento do intestino demandam atenção”, destaca Neves. “O abdome deve ser fonte de bem-estar e não de desconforto”, complementa Gilberto.

Períodos alternados de intestino preso e diarreia requerem uma visita ao médico. Dores frequentes, gases intestinais, irritabilidade e indisposição são outros sintomas que precisam ser investigados.

Passos salienta que a língua saburrosa (amarelada) também pode indicar o mau funcionamento. E que medicamentos como antibióticos e inibidores de bomba de prótons (como omeprazol) têm influência no órgão.

“Quando o intestino não está legal, ocorre aquele fenômeno que a gente costuma ouvir, dizendo que a pessoa está ‘enfezada’. E esse é exatamente um dos sintomas de que algo está errado no funcionamento: mau humor, intolerância, impaciência e irritabilidade”, relata Gilberto.

O sinal mais alarmante, no entanto, é encontrar sangue nas fezes, segundo Neves. Nesse caso, é importante marcar uma consulta médica imediatamente.

“O sangue de cor escura, que faz as fezes ficarem pretas, é o mais preocupante, pois pode indicar sangramento na altura do estômago. O de cor vermelho vivo indica sangramento no reto e/ ou ânus”, completa o médico da Cronos Medicina Diagnóstica.

Após os 60 anos

Com a idade, o ritmo digestivo e a produção do suco gástrico diminuem, assim como a velocidade do esvaziamento do estômago, segundo Neves. “Com isso, a absorção dos nutrientes fica reduzida, e, no caso de uso de medicamentos, essas alterações no funcionamento do intestino podem acarretar menor absorção dos princípios ativos do remédio ou outras reações adversas.”

As mudanças intestinais decorrentes da idade não param por aí. Elas também incluem “sintomas incômodos como azia, flatulência, obstrução intestinal, cólicas abdominais, incontinência fecal e intestino preso, entre outros”, lista o coloproctologista.

Ou seja, o recomendado é fazer um acompanhamento periódico com o médico. Ele será capaz de identificar alterações e indicar possíveis tratamentos.

Necessidade de exames

Antes dos 50 anos de idade, os exames devem ser feitos se houver sintomas. Depois dessa idade, a colonoscopia é recomendada de três a cinco anos, “juntamente com o exame da presença ou não de sangue oculto nas fezes, em três amostras, todo ano”, de acordo com Neves.

O especialista pode recomendar outros. Entre os mais comuns estão a radiologia das porções finais do intestino, a tomografia, a ressonância e o exame endoscópico do intestino grosso, que complementa a radiologia e ajuda a determinar lesões ou locais de sangramento, além de poder ser utilizado para retirada de pólipos e coagulações.

Na lista entram ainda testes que avaliam o funcionamento do sistema nervoso, segundo o nutrólogo do Premium Lab Diagnóstico. “Variabilidade do risco cardíaco, que permite avaliar o funcionamento do simpático e parassimpático; dosagem de neurotransmissores; testes de avaliação de hidrogênio expirado; exames para avaliar se o indivíduo tem intolerância à lactose e/ou frutose, por exemplo, também são utilizados”, diz Gilberto.

Pessoas com história pessoal de pólipos devem realizar novas colonoscopias a cada três anos. Quem tem doença inflamatória intestinal, a cada um ou dois anos.

Cuidados no dia a dia

Intestino“O intestino recebe tudo aquilo que ingerimos. Portanto, a melhor forma de cuidar dele é cuidar da alimentação”, diz Neves. “A alimentação e o comportamento alimentar são fatores determinantes para a boa saúde intestinal”, corrobora a nutricionista Michelle Mileto.

Ela explica que a alimentação deve ser rica em fibras, que possuem o efeito de retardar o esvaziamento gástrico, auxiliar na absorção de gorduras, aumentar o volume e a maciez das fezes e acelerar o trânsito intestinal. O consumo diário deve ser de 20 g a 35 g de fibra.

Para isso, Michelle indica colocar na mesa cereais integrais, como arroz, pão, aveia e quinoa; feijões; ervilha; batata-doce; mandioca; inhame; vegetais e legumes crus; folhas verdes; sementes, a exemplo de chia, gergelim e linhaça; oleaginosas, como castanhas, nozes e amêndoas; e frutas in natura. Vale ainda acrescentar cerca de 2 litros de água por dia, pois ela “facilita a formação do bolo fecal e melhora o funcionamento do intestino”.

“O outro ponto é verificar se o indivíduo não está comendo diariamente os mesmos alimentos, se não há uma monotonia alimentar”, considera Gilberto. Por isso, diz ele, é importante que a pessoa mantenha uma dieta diversificada, balanceada e nas proporções ideais, segundo parâmetros individuais.

Indica- se ainda a evitar alimentos industrializados e processados, além de adoçantes artificiais e de sal ou açúcar em excesso. “Refrigerante, então, nem pensar”, destaca Neves.

Mastigar bem, comer devagar e fracionar as refeições diárias também devem fazer parte da rotina alimentar. E, acredite, exercícios físicos podem ajudar: “Com 30 minutos de atividade moderada em cinco dias da semana, é possível manter o melhor funcionamento do intestino, estimulando a movimentação do órgão, e contribuir para diminuição do estresse”, indica Passos.

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