Eta relacionamento perigoso! Eu me escondo, me tranco em casa, não dou chance, mas a maliciosa insiste, não arreda pé, espreitando na tocaia. E se dou uma escapulida, um pulo até a padaria da esquina, a mascarada pode se aproveitar. Novinha, ela adora um coroa, e não discrimina. Macho ou fêmea, hétero ou gay, tanto faz. O negócio dela é levar para a cama e de lá para o buraco. Bandida! Nasceu na China, porém não se contentou em ficar no seu cantão (com perdão do trocadilho) e partiu para a carreira internacional, numa turnê que já completou seis longos meses de terror.

Comentam nos grupos de WhatsApp  que ela é bisneta de uma espanhola que pegava geral no fim da segunda década do século passado, uma vovozinha que traçou 50 milhões pelo mundo afora, mais gente do que a Guerra de 1914. Segundo consta, a velha começou a vida na Alemanha, mas conseguiu nacionalidade na Espanha, graças aos jornalistas – enquanto os germânicos ficaram quietinhos, os hispânicos puseram a boca no trombone e, como diz o dito popular, ‘galinha que cacareja primeiro é quem choca o ovo’.

Para neutralizar as duas, surgiram muitas simpatias aqui na terrinha. No caso da chinesa, a principal é uma poção de nome tão complicado, que deixa muito locutor com um ovo na boca: hidroxicloroquina. Na época da bisa, a coisa era mais simples, mais lúdica: cachaça, mel e limão. Especula-se que essa foi a origem do drinque nacional mais famoso, a caipirinha. Fato é que, cada um no seu tempo, os santos remédios desapareceram das farmácias e biroscas. Se o sumiço da cloroquina prejudicou a vida de pacientes com lúpus, malária e artrite reumatoide, a falta de cachaça quase provocou uma guerra civil, por razões óbvias.

Além da vilania, as duas criaturas têm algo mais em comum. Ambas trouxeram no DNA a compulsão por deixar alguns políticos mais ricos e felizes. Estranho, não é? Aconteceu no passado e se repete agora. Enquanto o povo geme e chora, um seleto time de escolhidos discursa e comemora, vendendo regras a preço de ouro, impondo novos castigos aos que tanto sofrem, prometendo a salvação como pastores de um rebanho previamente condenado. Na atualidade, a indústria e o comércio levarão um bom tempo para se recompor, o que fará do Brasil um país basicamente agrícola, novamente. Confesso que ainda não sei se essa próxima realidade virá para o bem ou para o mal. Certeza mesmo é que as contas públicas não fecharão jamais e, ainda assim, nunca resultarão em consequências. Então, ficamos combinados: cada um por si e Deus por todos.

Daqui a alguns anos, quando tudo passar, quando a Covid-19 resolver se retirar para uma vida de absoluto anonimato, e exausta adormecer no esquecimento, os sobreviventes terão uma história de agonia e êxtase para contar aos seus descendentes, mantendo a tradição da humanidade. E a lembrança irá se desvanecendo como vapor condensado no espelho, até que uma nova caçadora surja e a ciranda recomece.

Enquanto isso, eu fico aqui dentro de casa, nesse jogo de esconde-esconde com a chinoca safada, esperando que os meus setenta anos de rua e malandragem sejam suficientes para passar-lhe a perna. Sem cair junto com ela, é claro.

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