Alimentação desregrada, estresse, excesso de informação e estímulos, poluição, poucas horas de sono, falta de tempo para os cuidados pessoais, o lazer e a família... Essa lista parece familiar para você? Se por um lado conquistamos com sucesso avanços em várias áreas nos últimos anos, por outro temos que arcar com as consequências da vida moderna. A quantidade de fatores que colocam a nossa saúde em risco parece cada vez mais longa! E o coração também sofre com eles.

Ainda hoje, temos as doenças cardiovasculares (entre elas, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral - AVC, insuficiência cardíaca e miocardiopatias) como a principal causa de morte do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, problemas no coração são responsáveis por mais de 30% dos óbitos registrados no país.

Será então que não é hora de rever a maneira como estamos conduzindo a nossa vida? Fazer uma avaliação do que realmente importa para o presente e futuro? Jamais poderíamos imaginar que um dia estaríamos diante de uma pandemia, em meio a tantas incertezas pela gravidade e letalidade do coronavírus, e ainda, em quarentena por tantos dias, preocupados com a situação econômica, com um futuro que não temos nem como imaginar.

Se toda a crise gerada pela pandemia é inevitável, ao menos nossa parte podemos procurar fazer, reavaliando hábitos, prioridades, rotina e mudanças que podemos aplicar no dia a dia em prol da saúde e bem estar.

Que tal começar pela alimentação?

Em meio à rotina que nos acostumamos a viver, pelo menos até algumas semanas atrás, muitos de nós não conseguíamos encontrar tempo para uma alimentação saudável, ingerindo alimentos ricos em carboidratos simples e gorduras saturadas que só nos fazem ganhar peso e estimulam o processo de deposição de gorduras nas artérias do organismo, o que pode ser determinante para o aparecimento da doença arterial coronária, inclusive com risco de infarto e até de morte.

Somados a alimentação, ainda temos outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, o diabetes, o aumento dos níveis de colesterol, o tabagismo e o sedentarismo, além do fator genético.

E seu sono, como anda?

A qualidade do sono é outro ponto que merece ser revisto. Quando dormimos, nossos batimentos cardíacos diminuem o ritmo e a pressão arterial é reduzida, situações que ajudam a proteger o coração.

Essa redução do ritmo cardíaco faz com que o organismo fique num estado de compensação de energia. O corpo de quem dorme mal não faz essa pausa, estando assim mais propenso aos problemas cardíacos.

Em casos de pouco sono profundo ou fragmentado, poderá ocorrer um aumento da pressão arterial, amplificando o trabalho do coração e a possibilidade de aparecimento da doença coronária. Uma noite mal dormida traz ainda cansaço, estresse e irritabilidade, estimulando a liberação de cortisol - hormônio que age no controle da pressão.

Dormir bem é, portanto, tão importante quanto os cuidados com a dieta alimentar e a prática de exercícios físicos. Se pensarmos em prevenção e ainda em poupar o coração de quem já luta contra alguma doença cardíaca crônica, uma noite de sono adequado é fundamental (a recomendação é de 6 a 8 horas por noite).

Uma preocupação extra para as mulheres

Outro ponto a se considerar é o coração feminino. Será que ele é mais afetado pelos hábitos da vida moderna? Vejamos, o estilo de vida das mulheres exige muito de sua saúde mental e física. Carregam enormes e variadas responsabilidades, como as demandas da vida familiar aliadas à pressão da rotina profissional e da correria das grandes cidades. Conciliar trabalho e família é sem dúvida um dos maiores desafios para as mulheres hoje, mesmo com o cenário crescente de divisão de tarefas entre os pais.

As mulheres reconhecem a necessidade de cuidar da própria saúde. Sabem o que é importante para que suas vidas aceleradas não sejam prejudicadas por qualquer tipo de problema. Mesmo assim, de modo geral, as estatísticas mostram que elas não dão a devida atenção ao coração, principalmente após a menopausa. Com a perda acentuada do hormônio feminino (estrogênio), nesta fase ocorre naturalmente a interrupção dos efeitos benéficos desta substância na vasodilatação das artérias e manutenção da pressão arterial.

Assim, a partir deste momento, o risco de hipertensão e de desenvolvimento da doença arterial coronária passa a ser maior. Outros fatores que também interferem são: tabagismo, obesidade, colesterol elevado, sedentarismo e dieta alimentar inadequada. No caso do infarto, a probabilidade é proporcional ao número de fatores de risco que a mulher apresenta em cada fase da vida, sendo que a entrada na menopausa dobra ou triplica este risco.

O perigo das fake news

Vale a pena incluir ainda no “pacote” da vida moderna os riscos gerados pelas fake news. Mesmo antes de estarmos em casa por conta da quarentena, a escassez de tempo somada a agilidade e o fácil acesso a um gigante universo de informações fez com que a internet se tornasse um dos principais meios de consulta para muitas pessoas, inclusive no caso da saúde. Vemos por aí coisas como “a vacina da gripe prejudica quem tem doenças no coração”, “pessoas magras e saudáveis não tem risco de apresentar doenças cardíacas”, “ao sentir os sintomas de infarto, o indivíduo deve tossir para o coração recuperar o ritmo”, entre muitas outras - que são falsas!

Porém, o problema é que nem sempre as pessoas checam aquilo que leem ou recebem em canais digitais. Resultado: a todo o momento, surge um grande número de orientações sobre saúde, dicas de prevenção e recomendações leigas ou falsas, mas que se transformam em verdades e são espalhadas em uma velocidade inexplicável.

Não importa a idade

Apesar de observarmos que a geração atual já demostra preocupação em minimizar o estresse da vida moderna, muitos ainda não dão a devida importância à saúde do coração. O jovem, de maneira geral, acha que o risco cardiovascular aparece apenas em uma idade avançada e deixam de se cuidar. No entanto, segundo registros do SUS (Sistema Único de Saúde), 20% das mortes provocadas por infarto do miocárdio é referente a pessoas na faixa etária de 20 a 40 anos. Há relatos de eventos agudos em jovens entre 16 e 18 anos.

No mundo moderno, tudo contribui para isso. Muitos têm vida sedentária, fumam, usam drogas, exageram na bebida alcoólica, vivem estressados, na correria e comem comidas gordurosas, situações que predispõem ao desenvolvimento da doença coronária, principalmente se combinadas ao fator genético.

Além disso, o infarto em pessoas mais novas costuma ser fatal se comparado a um idoso. No jovem, as placas de gordura das artérias coronárias são consideradas e classificadas como placas moles, ou seja, com maior risco de rompimento e obstrução total por coágulos aderidos à placa. Normalmente, não há a adaptação para vasos colaterais por ocorrer de forma repentina e súbita. No caso dos idosos, por outro lado, estas obstruções avançam mais lentamente, permitindo a formação de vasos colaterais capazes de proteger estas áreas de isquemia aguda e, assim ,diminuir o risco de morte súbita.

Por isso, reforço: cuidar da saúde não tem idade! Se você tem 20, 30 anos, esteja atento aos fatores de risco, procure ter hábitos saudáveis e, mesmo se nunca notou nenhum sintoma, mantenha seu checkup sempre em dia. Não deixe para procurar um médico ou fazer mudanças no seu estilo de vida apenas quando sentir algo muito errado.

O que podemos fazer daqui em diante?

Temos hoje muitas vantagens em função da evolução da ciência e alta tecnologia, que nos dá acesso a diversas informações sobre nossa saúde e possibilita anteciparmos condutas e tratamentos para minimizar efeitos da vida moderna sobre o organismo. No entanto, é fundamental que façamos nossa parte.

Sem dúvidas, a maneira como vivemos traz uma série de riscos ao coração, por isso também depende de nós neutralizar essas ameaças, buscando uma rotina menos estressante, com mais tempo de lazer e de qualidade com a família e amigos, uma alimentação e hábitos mais saudáveis, um trabalho que nos dê prazer em realizar, por exemplo. Temos evidentemente um longo caminho e muitos desafios pela frente. Porém, creio que seja uma boa hora para reavaliarmos comportamentos, hábitos e prioridades. Assim, te convido a uma reflexão: o que você pode fazer para melhorar a sua saúde e qualidade de vida daqui para frente?

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