Você fica rolando na cama sem conseguir dormir ou acorda duas ou três horas após pegar no sono? Depois, passa o dia sonolento, cansado e mal-humorado? Se essa parece a descrição da sua vida, é muito provável que você sofra de insônia. E não está sozinho.

"Observa-se um aumento das queixas relacionadas ao sono na população acima de 60 anos, incluindo um aumento crescente relacionado à progressão da vida", diz a neurologista Tânia Marchiori de Oliveira Cardoso, especialista em medicina do sono e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

E, entre os distúrbios do sono que atingem a terceira idade, a insônia é um dos principais, relata a especialista.

Isso é constatado tanto no dia a dia dos consultórios quanto em estudos médicos. Num deles, desenvolvido por pesquisadores da Unicamp e de outras instituições e em andamento na cidade de Campinas, dados preliminares mostram que 47,8% dos entrevistados com 60 anos ou mais apresentam queixa de insônia. Na faixa de 80 anos para cima, o percentual sobe para 50,9%. Os dados correspondem a 1.998 pessoas de ambos os sexos, com 20 anos ou mais.

O projeto, que reúne especialistas de Unicamp, USP e Unifesp, entre outros, é um desdobramento do ISACamp (Inquérito de Saúde do Município de Campinas), realizado em 2013 e 2014. Foi incluído no questionário do Inquérito um módulo específico sobre o sono. Uma amostra desse grupo que relatou problemas de sono irá passar por exames e questionários mais aprofundados.

Segundo a especialista, dados médicos mostram uma redução na quantidade total de sono nos idosos. Em média, pessoas com mais de 60 anos dormem 6,5 horas por noite, enquanto um adulto normal precisa de 7 a 8 horas de sono.

Vários fatores, comuns em pessoas dessa faixa etária, contribuem para o surgimento do problema. Mudanças físicas (artrites, doenças cardiovasculares e pulmonares), psiquiátricas (como depressão e ansiedade), sociais (aposentadoria, perda de poder aquisitivo) e comportamentais (isolamento, aumento da ociosidade, redução da exposição à luz) são alguns exemplos.

Medicamentos utilizados com frequência por idosos, como antidepressivos, diuréticos e descongestionantes nasais, também podem causar insônia ou agravá-la.

''Isso muitas vezes torna difícil diferenciar o quanto das modificações no sono com o envelhecimento fazem parte do processo normal de envelhecer e o quanto é secundário a problemas gerais de saúde, comportamentais ou sociais ou de distúrbios do sono que são mais prevalentes nessa idade, como a apneia do sono", diz a neurologista. A apneia é a interrupção ou diminuição do fluxo de ar durante o sono, provocando despertares frequentes.

Outros elementos surgem com o avançar dos anos. "Há mudanças biológicas com o envelhecimento, como alterações no ciclo do sono, com tendência a dormir mais cedo à noite e acordar mais cedo pela manhã.'' E, o problema afete os dois sexos, a incidência é maior em mulheres.

Mais que um incômodo, a insônia é uma doença, com critérios para diagnóstico definidos pela Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, da Academia Americana de Medicina do Sono.

Os impactos sobre a saúde e a qualidade de vida são significativos, diz a neurologista. Vão de permanente sensação de cansaço, irritabilidade, dificuldades de memória, perigo de quedas e sonolência diurna até o aumento do risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Sintomas muito frequentes e intensos exigem a consulta a um médico especialista em medicina do sono. Mas, segundo Tânia, às vezes uma mudança de hábitos ou de comportamento pode ajudar.
A neurologista cita algumas medidas simples que podem ser adotadas:

  • manter horários regulares para dormir e acordar
  • praticar exercícios físicos durante o dia (e evitá-los à noite)
  • evitar cochilos prolongados durante o dia
  • evitar o uso de eletroeletrônicos no quarto no período noturno
  • evitar atividades estressantes à noite
  • evitar bebidas com cafeína (não só o café, mas também alguns tipos de chá e refrigerantes) e refeições pesadas perto da hora de dormir
  • tomar cuidado com o consumo de álcool, que pode provocar maior fragmentação do sono

Ela alerta para a importância de ter orientação médica no tratamento da insônia com medicamentos. "Alguns promovem alterações na arquitetura do sono, além de poderem levar à dependência, colaborando para a perpetuação da insônia."

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