Se você faz parte do grupo que vive repetindo isso para si e para o mundo, está na hora de rever a sua afirmação! Ter passado anos em uma vida sedentária não impede que você inclua a prática de exercícios na rotina em algum momento, mesmo que isso só ocorra após décadas de vida. Uma coisa posso afirmar: nunca é tarde para colocar atividades físicas no dia a dia, principalmente quando passamos dos 50 anos! E por que estou dizendo isso?

Os exercícios trazem uma série benefícios para a saúde e, como cardiologista, ressalto, é de extrema importância para a saúde do seu coração. Eles retardam o aparecimento de problemas cardiovasculares, como a doença arterial coronária, e melhoram o controle da pressão arterial e dos níveis de glicemia em pacientes diabéticos. A prática regular de atividades físicas contribui ainda para aumentar os níveis de energia, na manutenção do peso e a reduzir alguns sintomas associados ao envelhecimento.

Outro aspecto positivo está relacionado ao enfrentamento da sarcopenia, ou seja, a perda de massa muscular, que geralmente tem início a partir dos 40 anos. Por meio de um esporte, é possível que o corpo fique menos desequilibrado e instável neste sentido. Auxilia também na saúde dos ossos, prevenindo fraturas que, por sua vez, podem causar dor crônica, deficiência ou perda da independência. Além disso, age em favor do cérebro e do estado emocional, assim gerando vantagens que proporcionam melhoras na qualidade de vida e contribuem para a nossa longevidade.

Estudos indicam que indivíduos acima de 50 anos, que estão em boa forma física, têm probabilidade maior de viver mais e retardar ou minimizar o surgimento de doenças. No caso de doenças crônicas, por exemplo, eles ajudam a atrasar seu desenvolvimento: ao invés de conviver com elas por 10, 15 ou 20 anos, as pesquisas revelam que há uma tendência de aparecerem apenas nos últimos cinco anos de vida.

Coração de atleta 

Uma curiosidade é que nosso coração passa por uma adaptação fisiológica quando realizamos o treinamento físico frequente. O músculo cardíaco sofre alterações estruturais e funcionais benignas à medida em que ele é mais solicitado para uma atividade. O que chamamos de “coração de atleta”.

É importante destacar que suas funcionalidades se mantêm intactas. Na verdade, podemos dizer que o “coração de atleta” é até mais eficiente do que de uma pessoa sedentária, uma vez que passa por essa adaptação com o objetivo de melhorar sua performance de funcionamento e, desta forma, suprir as necessidades do organismo. São dois os aspectos que apresentam as principais mudanças: tamanho e ritmo cardíaco.

Como esse coração é mais eficiente, pode bater menos vezes para transportar o sangue necessário aos músculos e demais órgãos. Assim, passa a manter um ritmo mais lento, com maior volume de sangue bombeado e menor quantidade de batimentos por minuto. Ao pulsar mais devagar, permite que o atleta não atinja seu limite durante a atividade esportiva.

A característica é a responsável por uma das adequações fisiológicas mais comuns no “coração de atleta”, conhecida como bradicardia. Ela é definida justamente quando os batimentos são inferiores a 60 por minuto em repouso (em circunstâncias normais de saúde e sem estímulos externos, a frequência cardíaca varia de 60 a 80 batimentos por minuto).

A partir do momento em que o órgão passa a ser mais exigido quase que diariamente e por uma duração média acima de uma hora, são grandes as chances de ele crescer, muito embora isso não aconteça de um dia para o outro. É comum ter o aumento da espessura da parede do coração, conhecido como hipertrofia do músculo cardíaco.

Essa adaptação é acompanhada da dilatação da cavidade, especialmente do ventrículo esquerdo (que já é normalmente mais espesso por ser responsável por bombear sangue para praticamente todo o corpo). Geralmente, essa hipertrofia se dá de maneira simétrica - isso também ocorre nos casos de certas cardiopatias, porém, de modo geral, com crescimentos assimétricos. Exercícios aeróbicos e cíclicos, como corridas, ciclismo, natação e futebol, são apontados como os mais comuns na lista dos que geram o “coração de atleta”.

Qual esporte escolher?

O que até agora não estava muito claro, no entanto, era a melhor modalidade para a saúde do nosso músculo vital. Por isso, pesquisadores do Reino Unido, Finlândia, Áustria e Austrália trabalharam em conjunto na realização de um levantamento, e os resultados foram publicados no final de 2016, no British Journal of Sports Medicine.

O estudo revela que as atividades físicas que demonstraram efeitos mais positivos para a saúde cardiovascular são aquelas que têm como padrão o exercício intervalado, ou seja, aqueles que alternam períodos de atividade a certa intensidade com outros de repouso e recuperação. Entre elas estão os esportes com raquete (tênis, pádel, badminton, squash), a natação e o aeróbico intervalado (incluindo a dança e outras disciplinas semelhantes).

Como já frisou, em 2012, outro levantamento da Universidade Notre Dame (Sidney /Austrália), os exercícios aeróbicos de alta intensidade mesclados com intervalos estão associados a um melhor rendimento cardiovascular e metabólico, isso tanto em indivíduos considerados saudáveis como dentro do grupo tido como de risco.

Coração jovem em qualquer idade

A prática de exercícios físicos rotineiramente pode ajudar inclusive aqueles que passaram boa parte da vida de forma sedentária e só optaram por mudar esse hábito após a maturidade. Novos estudos realizados pela equipe do cardiologista Benjamin Levine (o mais recente deles publicado no Journal of Physiology) mostram que mesmo em casos assim é possível reverter o envelhecimento do músculo cardíaco e das artérias.

O fato é que quando passamos dos 50 anos parte do músculo cardíaco pode trazer sinais de atrofia e de enfraquecimento, além do enrijecimento das artérias, fatores que alteram a pressão sanguínea e exigem que nosso coração trabalhe mais, aumentando o risco de problemas cardíacos.

Ao analisar as condições cardíacas de 200 pessoas em idade mais avançada e comparar esses dados às informações sobre suas rotinas de atividades físicas ao longo de ao menos 20 anos, a equipe descobriu que, mesmo dentro do grupo sedentário, porém, que começou a se exercitar quatro ou cinco vezes por semana, o coração foi beneficiado - após dois anos de atividades. Os ventrículos esquerdos dessas pessoas estavam fortalecidos e mais flexíveis, ou seja, seus corações ficaram mais jovens. O resultado, portanto, revela que o coração mantém a sua plasticidade na velhice e pode mudar a partir do momento em que optarmos por começar uma atividade física - quando feita quatro ou cinco vezes por semana e durante alguns anos.

Quando exercício físico não é a melhor opção para o coração

Qualquer pessoa que inicia a prática de atividades físicas deve ter cautela, principalmente em relação ao coração. Quando o órgão é exigido, reage de diversas formas. Se não estiver em boas condições, a experiência pode ter consequências negativas. Academias de ginástica, no geral, solicitam apenas um atestado médico. No entanto, em alguns casos, em especial para aqueles que possuem problemas cardíacos ou fatores de risco para tal, isso pode não ser o suficiente. Afinal, muitas vezes exames rigorosos e investigativos são necessários.

Em pacientes com angina, por exemplo, a recomendação é que o quadro melhore para que o médico avalie a possibilidade da realização de atividades físicas. Já para quem tem cardiomiopatia hipertrófica (doença em que o músculo do coração apresenta uma porção do miocárdio hipertrofiada sem nenhuma causa óbvia, gerando uma deficiência no seu funcionamento) a prática de exercícios não é indicada. Essa doença é a principal causa de morte súbita relacionada ao exercício físico em indivíduos na faixa dos 30 a 35 anos de idade.

O problema é que nem sempre a pessoa tem conhecimento da doença antes de sofrer suas consequências, especialmente quando falamos dos mais jovens. Por isso, reforço: o exercício físico pode ser perigoso em determinadas situações. Ao apresentar durante uma prática esportiva sintomas como falta de ar muito forte, arritmias, tonturas, dor no peito e desmaio, é fundamental consultar um cardiologista, de preferência ligado à área esportiva.

Vale destacar também que isso não significa que cardiopatas ou pessoas com alguma enfermidade no coração não possam se exercitar em nenhuma hipótese. Cada caso é um caso e as doenças podem se apresentar em variados níveis. Tudo dependerá de uma análise aprofundada do especialista responsável, que pode liberar ou não o paciente para realização de treinamentos físicos.

Quanto antes, melhor!

Claro que os benefícios são conquistados e mantidos com mais facilidade por aqueles que mantiveram as práticas físicas, bons hábitos alimentares e cuidados com a saúde ao longo da vida. Porém, fica a ressalva, nunca é tarde! Faça uma avaliação cardiológica completa, converse com o seu médico e veja qual a melhor prática esportiva para você. Para a obtenção dos benefícios, sem potenciais riscos, é imprescindível que a atividade se adapte às condições de idade, sexo, condição física e de saúde de cada indivíduo.

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