O Brasil caminha para tornar-se até 2025 o sexto país no mundo com maior número de pessoas acima dos 60 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Com o aumento da expectativa de vida, ter uma boa nutrição e permanecer ativo são fatores importantes para uma longevidade mais saudável”, afirma o geriatra Fabio Campos Leonel, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). Mas isso não significa, necessariamente, recorrer a suplementos alimentares.

A partir dos 40 anos, explica o especialista, “o indivíduo começa a perder 8% de sua massa muscular a cada década”. E isso pode intensificar-se com a idade ou em consequência de uma doença – segundo ele, metade dos 60+ internados está desnutrida ou corre o risco de desnutrição. “Uma boa nutrição é essencial para manter a saúde muscular e óssea e se mostra importante para auxiliar o idoso a manter sua independência e na recuperação de alguma doença, lesão ou cirurgia.”


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Em 2018, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo publicou diretrizes específicas para a nutrição clínica e a hidratação de idosos, levando em conta as especificidades dessa população. “Como regra geral, ele deve receber 30 kcal/kg/dia [isto é, uma pessoa de 70 kg deve ingerir 2.100 kcal/dia]. A oferta proteica deve ser de, no mínimo, 1 g/kg/dia. Para os eutróficos [com boa nutrição], a recomendação de ingestão diária de proteínas é de 0,8 a 1,2 g/kg; para os frágeis ou com doenças agudas, de 1,2 a 1,5 g/kg; se a doença for grave e o paciente ainda estiver desnutrido, pode-se chegar até 2 g/kg”, pontua Leonel.

O ideal em qualquer idade – e principalmente no caso dos seniores – é ter uma dieta equilibrada, com alimentos ricos em proteínas (carnes vermelhas, peixes, frango, ovos, leite de derivados, soja e frutas oleaginosas, entre outros), frutas, grãos, verduras e legumes, para prover ao organismo os nutrientes essenciais para seu funcionamento.

“As formulações dos suplementos alimentares específicos para os 60+ têm a característica de possuírem uma carga de proteína adequada e contêm ainda microelementos e vitaminas, em especial cálcio e vitamina D, por conta da baixa ingestão de alimentos com esses nutrientes”, explica o geriatra. Mas não devem ser tomados indiscriminadamente. “A recomendação é de ingestão diária de um frasco de 125 ml por três a seis meses, com possibilidade de extensão por até um ano ou mais, enquanto os benefícios forem notados.”

Suplementos alimentares e transtorno cognitivo leve

Com histórico de doenças neurodegenerativas crônicas na família, a administradora Ana Paula Damasceno, 58 anos, comprou um composto nutricional que contém uma combinação de ácidos graxos EPA e DHA (ômega3), uridina monofosfato (UMP), colina, fosfolipídios, vitaminas do complexo B e micronutrientes antioxidantes. “Li relatos de pessoas que notaram melhora na memória”, justifica.

Na verdade, segundo o geriatra, não há indicação de uso de suplementos alimentares para prevenir a Doença de Alzheimer. “A melhor forma ainda é boa alimentação, exercícios físicos, hábitos saudáveis como não fumar e evitar excessos de bebidas alcoólicas, assim como ter uma atividade social adequada.”

Segundo Leonel, esses compostos “mostraram alguns resultados positivos em uma amostra de pacientes com transtorno cognitivo leve. Porém, as evidências de eficácia são fracas ou inexistentes e de questionável relevância clínica.” O geriatra diz que divide a decisão de prescrevê-lo com a família do paciente. “Mostro que existe um suplemento que tem um potencial e, no caso de não haver problemas com os custos de tratamento, eu oriento a fazer uma tentativa e observar se temos algum benefício com esse tratamento.”

Sobre o uso de multivitamínicos de uma forma geral, o especialista é taxativo: “Não existe nenhuma evidência sobre a eficácia de reposição de oligoelementos e vitaminas para idosos. Somente vamos repor quando houver alguma repercussão clínica desse déficit. O que sabemos é que pode até ser prejudicial o uso indiscriminado, por sua potencialidade de intoxicação”.

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