Francesa naturalizada brasileira, Sophie Deram, 53 anos, é uma ativista contra as dietas restritivas. “Vivemos hoje um terrorismo nutricional”, diz. E tem credenciais para afirmar isso: engenheira agrônoma e nutricionista, com doutorado em endocrinologia na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), focou suas pesquisas nos transtornos alimentares e na neurociência do comportamento alimentar.

Numa obra libertadora para quem vive brigando com a balança, ela mostra que é possível, sim, perder alguns quilos comendo bem e sem culpa. Amparada em estudos científicos, “O Peso das Dietas” descontrói “algumas verdades ditas em consultórios médicos” e revela que as dietas restritivas são, a longo prazo, a mais importante fonte de ganho de peso. E faz um convite: “Emagreça de forma sustentável dizendo não às dietas”.

Confira os principais trechos de sua entrevista ao portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

dieitas restritivas  A engenheira agrônoma e nutricionista Sophie Deram, 53 anos, ativista contra as dietas restritivas; Crédito: Divulgação

 

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Você abre seu livro com um convite: diga não às dietas. Por quê?

Sophie Deram – Há um consenso hoje do quanto fazer dieta restritiva, em vez de ajudar, atrapalha o organismo. Depois de trabalhar com crianças obesas, fui estudar o comportamento e me aprofundar no transtorno alimentar, em pessoas que têm um comportamento alterado com a comida.

E o que me chamou atenção? Todos os pacientes – de anorexia, bulimia ou compulsão – têm a mesma história: entraram no transtorno depois de uma dieta. Porque não é todo mundo que faz dieta que tem um transtorno alimentar, mas quase todos que têm transtorno alimentar fizeram dieta.

Estudando mais a fundo, descobri que existem pesquisas, algumas de quase cem anos, que dizem que fazer dieta não funciona. Funcionam apenas no começo, sendo que 95% das pessoas voltam a engordar.

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Então é natural fracassar em uma dieta restritiva?

Sophie Deram – Exatamente, é normal. E olha que interessante: elas são um incentivo a fracassar, porque você sai da dieta diferente. Depois dela, seu apetite vai ser maior – e ele permanece assim por pelo menos um ano.

Também muda sua relação com a comida. Porque, depois de fazer dieta, você passa a ter uma relação mais racional: isso pode, isso não pode. E começa a sentir culpa em comer. Daí come mais, porque pensa: já que eu fiz tudo errado, vou fazer uma despedida. E daí come bem mais.

É isso que estou estudando: o quanto o nosso comportamento está atrapalhado pelas restrições que a gente está escutando o tempo todo.

 “Quando você não respeita o seu prazer de comer, você adoece”

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – É quase um terrorismo nutricional, não? De um lado, os alimentos vilões. Do outro, os superalimentos.

Sophie Deram – Isso. Começou com a demonização da gordura. O pensamento era simplificado: se você come gordura, vai engordar. Depois vieram os carboidratos, os açúcares, o glúten, a lactose, os de origem animal, os com agrotóxicos. Comer virou um momento de estresse, em vez de ser um momento feliz, de recarregar as baterias em paz.

Isso atrapalha a saúde: quando você não respeita o seu prazer de comer, você adoece. Tem de fazer as pazes com a comida. Hoje, tratamos obesidade e transtorno alimentar juntos. Porque vemos que são dois lados da mesma moeda. Não quer dizer que obesidade é transtorno alimentar, mas, com certeza, dentro do processo da obesidade, tem algum transtorno, uma dificuldade em lidar com os alimentos e a fome.

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Se a ideia é dizer não à dieta, qual o caminho?

Sophie Deram – Tenho três dicas: não faça dieta; coma mais alimentos verdadeiros – in natura, frescos, caseiros – e menos industrializados; e vá para a cozinha. O caminho é reconectar com a nossa fome a nossa saciedade. Comer mais consciente.

E isso não é um caminho novo. Nossos avós tinham essa relação com a comida. Quando chegavam à mesa, não chegavam com a informação de que isso pode e isso não pode. Simplesmente comiam, um dia mais, outros menos, um dia repetiam, outro não. Hoje comemos com pressa e com a cabeça cheia de preocupações.

 

5 passos simples para praticar o comer consciente

  1. Respeite seu corpo e a sua fome
  2. Respeite suas vontades
  3. Respire fundo para voltar ao momento presente
  4. Concentre-se no ato de comer
  5. Saboreie sem culpa

“Se você não estiver fazendo dieta, parece que não está se cuidando. Não é assim!”

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Parece simples, mas não é fácil?

Sophie Deram – (risos) É simples assim. Mas simples não quer dizer fácil. É difícil, hoje, não fazer dieta: está todo mundo julgando. Se você não estiver fazendo dieta, parece que não está se cuidando. Não é assim!

Meus pacientes, no consultório, mostram-se animados, dizem que faz todo sentido. Mas, quando saem, voltam para casa e o trabalho, e os companheiros ou colegas falam: Como assim, você vai comer bolo? Arroz branco e não integral? Vai colocar açúcar? O tempo todo tem gente fiscalizando.

E outra coisa: comer alimentos verdadeiros também não é fácil, porque você vai ter de dedicar um tempo para ir à feira ou o mercado com mais frequência. E preparar. Muitas vezes isso não é compatível com a correria que a gente vive. Muitas pessoas vão falar: eu não sei cozinhar. Cada passo é um passo, mas cada passo na cozinha é um ganho de saúde.

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Nunca se falou tanto em nutrição e dieta, mas, ao mesmo tempo, vemos uma epidemia de obesidade e de transtorno alimentar. É um paradoxo?

Sophie Deram – É, mas faz muito sentido, e abordei isso num TED.

Porque estamos comendo cheios de informações e julgamentos.

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Muitos octogenários propagam que o segredo da longevidade é fechar a boca e malhar muito. Você concorda?

Sophie Deram – Não. Porque pessoas longevas e que estão em boa forma vão falar que o segredo é ter uma relação boa com a comida – comer de tudo, sem fazer dieta – e ser ativo – o que não significa se matar na academia. E ter uma rotina, uma boa noite de sono e lidar bem com o estresse. Estudos com longevos comprovam isso.

“Após os 50 anos, deve-se fazer as pazes com a comida e dar atenção à qualidade, não às calorias”

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – É natural ganhar algum peso depois dos 50 anos de idade...

Sophie Deram – Sim, principalmente a mulher depois da menopausa. O corpo sofre uma tempestade hormonal. Ela perde cintura e ganha gordura visceral. E tem que aceitar: aos 50, você não tem mais o corpo dos 20. Mas, se você olha hoje uma mulher de 50 e compara com a sua avó, ela ainda está linda! E é verdade que os 50 são os novos 30. Há um futuro muito longo pela frente.

Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – A alimentação depois dos 50 anos deve mudar?

Sophie Deram – Deve-se fazer as pazes com a comida. E dar atenção à qualidade, não às calorias. Eu escuto muito dos meus pacientes que eles ganham liberdade, abrem espaço para outras coisas além do que podem ou não comer. O importante é nada de neura: sem entrar no tudo orgânico, sem glúten e lactose, veganos. E fugir dos suplementos. Há um abuso hoje: como se uma pílula pudesse substituir um alimento.

E, principalmente para as mulheres na menopausa, é preciso aceitar esse novo corpo, que está passando por uma tempestade – e que eu posso te dizer que não é nada gostoso – e achar um equilíbrio para os próximos 40-50 anos.

Porque hoje vemos um transtorno alimentar que nem existia, que é a anorexia tardia. É muito preocupante, porque não é uma fase que o corpo está tão responsivo.

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