O aumento da expectativa de vida é uma realidade que vem atingindo nossa sociedade por meio dos adventos médicos e do replanejamento social. Questões pertinentes ao envelhecimento humano despertam sentimentos paradoxais como, por exemplo, a curiosidade e a incompreensão. Diante disso, cresce o número de indivíduos com Deficiência Intelectual que integram o cenário da longevidade.

Envelhecer e ser enquadrado no grupo dos “idosos” já é um desafio a ser aceito por nós devido a estigmas e pré-conceitos socialmente atribuídos. É possível imaginar o que é imputado aos idosos que representam a Deficiência Intelectual antes mesmo do processo de envelhecimento?

Paralelamente, o entendimento da sexualidade vista no contexto da Deficiência Intelectual ainda permeia alguns tabus que envolvem tanto a ignorância teórica em relação ao tema, quanto o próprio ato de ignorar o desejo do indivíduo.

O funcionamento intelectual abaixo da média não significa que as pessoas com Deficiência Intelectual em processo de envelhecimento não sejam capazes de uma conduta sexual ajustada com as exigências sociais. Desde que recebam orientação de forma que seu nível cognitivo possa assimilar o conhecimento, podem demonstrar o desejo de uma forma socialmente aceita. O que lhes falta é um processo efetivo de educação e também orientação sexual.

Como não recebem orientações adequadas, poucas são as oportunidades para aprendê-las, uma vez que são limitadas as chances para descobrir sobre sexualidade com seus pares, falar livremente com os amigos sobre sexo e acabam assim, não podendo aprender sobre este aspecto do desenvolvimento.

Numa realidade de ausência de recursos destinados para essa população, como ocorre no Brasil, muitos indivíduos com algum tipo de Deficiência Intelectual, mental ou motora, não têm a oportunidade de frequentar espaços de convivência apropriados a sua realidade, de modo que o convívio no âmbito familiar constitui a única opção de relacionar-se com o outro. Surge então, a partir desse convívio, um delicado quadro no qual os familiares negam ao seu parente com deficiência o direito de expressar sua sexualidade, como se ele fosse um ser “assexuado”.

Portanto, o reconhecimento de sua individualidade e das transformações de seu corpo frente à velhice é uma construção gradativa e que deve ser assistida por uma rede de suporte terapêutico e social, dada a fragilidade desse grupo. Contudo, nenhum ser humano está livre do desejo ou está inapto a vivenciá-lo, desde que sejam respeitadas as suas possibilidades. O corpo pode envelhecer, a mente pode demenciar, mas é fundamental frisar que ainda há (e sempre haverá) um ser humano, passível de sentir e desejar.

Devemos desmistificar a avaliação da pessoa com Deficiência Intelectual em processo de envelhecimento apenas associado ao contexto saúde-doença e funcionalidade, mas percebê-lo como um indivíduo, respeitando os seus desejos e as suas necessidades, buscando também uma maior conscientização da humanização da sociedade na atenção com esses grupos, ampliando o processo de escuta terapêutica para além do eixo saúde-doença, valorizando a individualidade e potencialidade de todos os seres humanos.

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