Em sex shops, mulheres com mais de 50 anos de idade se interessam por lubrificantes e vibradores. Homens dessa faixa etária vão de produtos para retardar a ereção. Essas são as constatações da empresária Maísa Pacheco, de 45 anos, dona do sex shop Delírio e Ponto (http://www.delirioeponto.com.br/), que tem feito sucesso com o público dessa geração.

Há um ano e meio, Maísa organiza encontros regulares com mulheres para apresentar produtos e tirar dúvidas. Uma vai, conta para a amiga, que fala para outra... Hoje, boa parte está reunida em um grupo de Whatsapp, no qual Maísa, autora do livro “Bastidores de um Sex Shop”, publica regularmente lançamentos e dicas.

A ex-vendedora ambulante de caldo de cana e dona de salão de beleza conta ainda que há clientes que frequentam o sex shop por indicação médica. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como surgiu o interesse por um sex shop?

Uma amiga minha me apresentou o dono da loja. Ele fez uma proposta para ajudá-lo na loja, há 22 anos. Falei: “Não tenho nada a perder”. Em oito meses, conseguimos dobrar o faturamento. Comprei uma parte [da empresa]. Depois, ele foi embora [do país] e vendeu os 55% dele.

Como percebeu o interesse do público 50+?

Começou a crise e, do nada, foram entrando algumas senhoras. Nosso diferencial sempre foi o atendimento: na maioria, você se sente observada. Uma senhora comentou que tinha ido a outro sex shop e que havia se sentido inibida. Ela trouxe outra cliente.

Comecei a falar para as senhorinhas, que eram poucas na época: “Se você tiver uma amiga que tenha vergonha de vir à loja, a gente vai em casa. Marca um chá à tarde e a gente leva alguns produtos”.

Hoje tenho um grupo no Whatsapp e todo dia posto alguma coisa. A gente realmente conseguiu fazer um trabalho, mas ainda falta muito. Elas ainda têm muita vergonha. Mas são mulheres que já passaram dos 50 e têm vontade de ter sua vida sexual ativa novamente.

Quando começou a fazer as reuniões?

Tem um ano e meio.

Funciona no sex shop?

Não. Tem um espaço do lado, que a gente usa para chá de lingerie e despedida de solteiro. Outro dia uma senhora falou: “Maísa, vamos fazer um bingo?” Falei: “Um bingo? Para quê?”. Ela: “Para eu dar uma desculpa para o meu filho”.

Quais são as principais dúvidas dessas pessoas?

São mulheres que não gozaram. Elas falam: “Fui casada, tive filho, mas nunca consegui chegar ao orgasmo”. Elas querem descobrir isso. Por causa da castração da mulher, elas foram deixando.

“Não é porque a mulher envelheceu que ela não quer fazer sexo”

E qual é a sua resposta?

Eu não indico mais pênis. O mercado mudou muito e hoje não há apenas consolos. Eu indico vibradores clitorianos, que não vão machucar. E que vão satisfazer.

Elas perdem o preconceito depois que a gente explica. Ou quando estão no meio de outras mulheres que passaram por isso e uma acaba falando: “Eu também queria, mas tinha vergonha”. Quem está no grupo sabe que a gente não vai recriminar. Não é porque a mulher envelheceu que ela não quer fazer sexo.

Os médicos orientam ir a sex shops?

Sim. Já tive três casos de ginecologistas que indicaram. Há 20 dias, uma senhora que veio aqui com uma cuidadora. A cuidadora viu que ela estava se machucando na masturbação por causa da unha e a levou ao ginecologista. Ele falou: “Olha, vocês vão sair daqui e passam no sex shop. Não vão comprar um pênis, porque é uma senhora de 82 anos, mas lá vão orientar”. Essa senhora me trouxe mais 3 clientes da idade dela que se masturbam. A gente não pode oprimir.

Tem um senhor que também foi indicado, porque ele acorda com ereção. E o médico indicou produtos para masturbação. Tem ainda uma fisioterapeuta que vem para comprar bolinhas tailandesas para as clientes dela fortalecerem a musculatura [assoalho pélvico]. É ótimo para tratar incontinência urinária e queda de bexiga.

E homens?

O homem ou vem por causa do Viagra – e aí a gente fala que não pode vender – ou da bomba peniana – porque ele sempre escutou que aumenta, engrossa, fica mais ereto. Aí a gente explica que não é bem assim. A bomba peniana ajuda porque é um exercício, mas não vai aumentar em 10 centímetros.

A gente tenta falar para os meninos da terceira idade sobre a masturbação. É bom não deixar de treinar. A gente fala: “Vai lá, passa lubrificante e vai mexendo no seu tempo”.

Há interesse em cosméticos?

A mulherada quer gel lubrificante porque, com a menopausa, a vagina está seca. Sempre indico alguma coisa para estimular o clitóris.

Para sexo oral, eles não compram. Não adianta. Nem adianta oferecer.

E dos homens?

É o gel para retardar a ejaculação e para ficar com o pênis mais ereto, que dá a sensação de inchaço.

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