“Quem vai me tocar pelo resto da vida? Com quem vou dividir as refeições?” Os questionamentos da mãe, que havia ficado viúva de repente após 50 anos de casamento, pegaram desprevenido o cineasta e roteirista americano Steven Loring. Na sequência, um tio de 78 anos – que nunca havia se casado e que “a família nem sabia se tinha tido um relacionamento” – se mudou para uma instituição de longa permanência, encontrou um novo amor e “parecia um adolescente”.

“Tenho que pensar mais nisso”, disse Loring a si mesmo. “A maioria das histórias de envelhecimento nos Estados Unidos tem a ver com seguridade social. Mas o que as pessoas precisam emocionalmente?”, perguntou-se.

Em busca de respostas, esbarrou com um “speed dating”, uma espécie de reunião para quem quer encontrar um relacionamento romântico. Enquanto as mulheres ficam sentadas em uma mesa, os homens têm poucos minutos para falar com cada uma. Quando o sino toca, devem seguir para a próxima mesa. No fim, os participantes anotam em uma ficha quais chamaram mais a atenção e recebem nome e telefone de quem se interessou por eles.


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Começou aí a saga de Loring para registrar, em documentário, quais são as expectativas, os medos e os sonhos daqueles homens e mulheres com mais de 70 anos de idade que estavam dispostos a encontrar um amor. Para isso, acompanhou parte deles desde antes do evento até os encontros dos casais que decidiram se rever depois do “speed dating”.

Lançado em 2014 nos Estados Unidos, “A Idade do Amor” (“The Age of Love”) foi exibido no Brasil entre os meses de outubro e dezembro, em São Paulo, seguido por uma discussão entre os espectadores e uma psicóloga. A última sessão foi voltada a profissionais de saúde, e contou com o debate entre Loring; Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria; Valmari Aranha, psicóloga do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; e Lilian Liang, editora da Revista Aptare, responsável pela iniciativa.

Para Valmari, que mediou alguns debates após as exibições do filme, foi uma oportunidade de as pessoas pensarem “sobre como o amor ocorre na velhice”. Segundo ela, encontrar um novo amor exige que a pessoa saia dos seus espaços, cuide da autoestima e seja mais tolerante. Há muita expectativa e idealização, em busca de uma perfeição no outro que não existe nem em nós mesmos.

Carmita explica que o tema sexualidade tem ganhado espaço – “antes as pessoas não falavam disso”. Agora, ela já é vista como algo ligado à saúde física e psíquica, destaca a médica.

Atenção: spoiler a seguir

E, no fim, quem fez mais sucesso entre os 30 participantes do “speed dating”? Não foi o que estava em forma, que recebeu um telefone e ficou desapontado; nem o que carregava um tanque de oxigênio, que recebeu três e comemorou. Loring conta que foi um senhor que havia ficado viúvo seis meses antes. Foi convencido por amigos a se inscrever no evento e recebeu sinal verde para telefonar para 9 das 15 mulheres com as quais havia conversado.

Na edição, afirma Loring, ele foi cortado e não aparece. Mas o cineasta revela o que despertou tanto a atenção das mulheres: a fragilidade. Não era um homem com um discurso pronto, uma necessidade de tentar impressionar e a pose de machão. “Ele estava muito vulnerável emocionalmente. Elas responderam a isso”, lembra.

As mulheres que mais receberam telefones de interessados também tinham algo em comum: a abertura para a vida. “Elas sonhavam, estavam abertas a tentar coisas novas”, diz, acrescentando que essas senhoras reuniam uma combinação de jovialidade de espírito e disposição para a aventura.

Para quem ainda não sabe onde encontrar um novo amor, Valmari diz que há muitos lugares. Carmita lembra que sites e aplicativos de relacionamento também podem ser uma ferramenta interessante.

Se a pessoa estiver aberta, qualquer lugar pode reservar surpresas. A prova disso: na última sessão de novembro, no CRI Norte (Centro de Referência do Idoso), em São Paulo, durante o debate após a exibição do filme, Célia Gonçalves, 65 anos, pediu o microfone. O tempo para perguntas estava esgotado, mas ela fez questão de dizer que havia acabado de conhecer o homem que estava a seu lado e que estava gostando de estar ao lado dele.

Diferença de idade no relacionamento: ainda é tabu?

Ele, meio tímido, abriu um sorriso e agradeceu. A plateia aplaudiu, acompanhou a finalização do debate e saiu da sala. A sessão de cinema havia acabado. Mas Célia e seu novo amigo permaneceram mais um tempo juntos naquela manhã gelada, conversando lado a lado no jardim que cerca o CRI Norte.

8 dicas do cineasta para encontrar um novo amor

Após o filme, Loring fez uma lista de dicas para quem quer passar uma boa impressão no primeiro encontro com o possível novo amor.

  1. Descarte os problemas de saúde como tema para o primeiro encontro;
  2. Mostre que você está feliz consigo mesmo, não importa a situação em que esteja;
  3. Coloque os relacionamentos passados fora da sua lista de temas para o bate-papo;
  4. Dê atenção à roupa que vai vestir;
  5. Seja confiante, com curiosidade e cheio de vida;
  6. Evite envolver os filhos, até que o relacionamento engate.
  7. Siga seu tempo até se sentir bem para um relacionamento físico;
  8. Tenha disposição para sair da zona de conforto.
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