O ano era 1899. Um casal apaixonado – e muito discreto – passeava pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, frequentando cafés, passeios públicos e rodas de choro. De um lado, a compositora brasileira Francisca Edwiges Neves Gonzaga, imortalizada pelo apelido de Chiquinha Gonzaga, então com 52 anos. De outro, o estudante de música João Batista Fernandes Lage, à época com apenas 16 anos.

Dispostos a viver aquela paixão avassaladora, mas apavorados com o preconceito da sociedade que jamais entenderia a pureza do sentimento entre eles, o casal decide não revelar a verdadeira natureza daquela amizade. Chiquinha então apresenta João Batista como seu filho adotivo, e mantém o romance em segredo até sua morte, em 1935.

Passados mais de 100 da história narrada, muita coisa mudou e a diferença de idade nos relacionamentos aos poucos foi deixando de ser um tabu em nossa sociedade. Hoje em dia, está cada vez mais normal nos depararmos com casais com grande diferença de idade em bares, restaurantes, festas ou mesmo andando pelas ruas, de mãos dadas e dando pouca atenção ao que as outras pessoas estão pensando.

“As pessoas geralmente buscam no outro aquilo que querem para si. Pessoas mais velhas buscam a juventude, pessoas mais novas buscam a experiência.”

Para a psicanalista Viviane Tinoco, não há uma razão específica para o surgimento do interesse amoroso ou sexual entre duas pessoas, qualquer que seja a idade. Nem muito menos contraindicação!

- As pessoas geralmente buscam no outro aquilo que querem para si. Pessoas mais velhas buscam a juventude, pessoas mais novas buscam a experiência – destaca a especialista. Viviane explica que, no caso de pessoas mais velhas, a busca por um relacionamento com alguém mais jovem também pode estar ligada ao processo de envelhecimento, à perda da virilidade e do corpo esteticamente aceito pela sociedade atual. – Isso pode abrir feridas narcisistas nas pessoas, que não se sentem mais atraentes, então buscam uma autoafirmação ao se relacionar com pessoas mais jovens – conta.


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A psicanalista pontua que o desenvolvimento da medicina e o surgimento de medicamentos como o Viagra, Cialis e Levitra devolveram a virilidade e a segurança aos homens para embarcar em novos relacionamentos.

- A medicalização da sexualidade trouxe um aporte sexual nas idades mais avançadas e isso obviamente favoreceu o relacionamento entre homens mais velhos e mulheres mais jovens – diz.

Estima-se que mais de 50% dos homens acima de 40 anos sofram com alguma disfunção erétil. Antes do surgimento desses medicamentos, as únicas alternativas para esses casos eram cirurgias dolorosas e supositórios traumatizantes, além dos alimentos com fama afrodisíaca, como ostras, catuaba e ovos de codorna.

Freud explica... quase tudo

Mas a especialista afirma que relacionamentos com diferença de idade não necessariamente estão ligados a questões psicológicas.

- Não podemos usar o Complexo de Édipo de forma determinista. Afinal de contas, se interessar por uma pessoa não tem, necessariamente, nada a ver com aspectos físicos ou etários. É algo que não se explica, que pode ser momentâneo ou somente uma questão de curiosidade – relata a psicanalista.

O certo é que, mesmo vivendo em tempos modernos, o relacionamento entre pessoas com grande diferença de idade ainda pode causar certo preconceito e estranhamento, principalmente quando se dá entre uma mulher mais velha e um homem mais novo. Vale lembrar que a relação entre homens mais velhos e meninas mais novas sempre foi vista como normal.

“Se interessar por uma pessoa não tem, necessariamente, a ver com aspectos físicos ou etários. É algo que não se explica...”

Segundo Viviane, a revolução feminista trouxe uma posição da mulher mais autoafirmativa, menos preconceituosa e menos preocupada com os valores morais, o que fez com que elas se sentissem mais à vontade para se relacionar com homens mais jovens.

- Isso sem falar que hoje em dia as mulheres estão mais confiantes, se permitem ser vaidosas. A mulher de 50 anos hoje é muito diferente daquela de alguns anos atrás. Estão mais ligadas na alimentação saudável e no culto do corpo. São mulheres que não deixam a peteca cair – comenta.

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