“A essência de uma pessoa é o amor, e a vida só existe quando o amor se movimenta”, diz o psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira, doutor em neurociências e pesquisador na área da psicobiofísica. A afirmação faz sentido para muita gente – e, ao que parece, também para a escritora Isabel Allende, 75 anos, que no ano passado declarou estar com o coração aberto ao amor.

A autora de obras como “A Casa dos Espíritos” está em uma espécie de lua-de-mel com o novo namorado, o advogado americano Roger Cukras, que se mudou para a casa da autora em dezembro. Allende estava separada havia dois anos do também advogado Willie Gordon, com quem permaneceu casada por 28 anos.

O romance com o ex acabou, mas inspirou outro romance: o livro “Muito além do Inverno” (editora Bertrand Brasil), lançado em 2017. “Por que termina o amor? Será que se pode continuar amando depois de tanto tempo? Escrevi movida por essas inquietações”, declarou ela ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Depois, contudo, conheceu outro homem. “Mesmo com o livro já terminado, me vi tomada por outra questão: como é namorar aos 75 anos? Descobri que é o mesmo que namorar aos 17, só que com uma sensação de urgência. Não tenho tempo mais para a pequenez da vida, para jogos estúpidos”, completou.

“Colocar o ponto final num relacionamento não significa que a pessoa não está mais apta a se relacionar”, diz a psicanalista Débora Damasceno, diretora da Escola de Psicanálise de São Paulo. Na avaliação dela, quanto mais tempo de convívio com alguém maior a facilidade de estar aberto ao amor, passado o período de recolhimento e processamento de informações e sentimentos.

“No fundo, tudo que se quer é se abrir ao amor”

Quem saiu de um relacionamento mais longo “sabe perfeitamente as dores e as delícias de compartilhar a vida”, considera a especialista. “Hoje o discurso em voga é o do benefício da solidão, mas, no fundo, tudo que se quer é se abrir ao amor.”

Na prática, significa dar vazão ao rumo natural das coisas, já que as experiências ruins trazem sabedoria e a capacidade de amar permanece. “É a própria pulsão da vida”, acrescenta Damasceno.

Estar aberto ao amor significa também não aceitar o que impõe a estrutura da sociedade, uma pressão que pode paralisar os sentimentos, segundo a psicanalista. “Somos condicionados a agir de certo modo, mas, quando não se corresponde ao ambiente em que se vive, há uma ruptura que tende a abrir o caminho para outras pessoas que não tinham coragem de fazer o mesmo.”

“Muitos de sua idade não tinham coragem e seguiram seu exemplo”

Ao declarar publicamente que estava nessa nova etapa, Isabel Allende fez esse papel, de acordo com a especialista. “Muitos de sua idade não tinham coragem e seguiram seu exemplo”, assinala.

Novas formas

“Os sentimentos não mudam, apenas [mudam] as formas de aproximação, especialmente depois do advento da internet”, declarou Allende. Em entrevista ao jornal, ela destacou que a conquista hoje é mais fácil e rápida, mas menos profunda.

O psicólogo Luiz Francisco Jr, life coach e professor da Fadisp, concorda com ela. Segundo ele, uma das coisas boas da longevidade é que não há mais preocupação com as expectativas alheias. “É um período possível de se experimentar uma redução da ansiedade, uma liberdade maior para aproveitar a vida, possibilitando assim atitudes que antes eram consideradas impossíveis”, avalia.

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