Cada um tem uma forma diferente de encarar a passagem dos anos. Mas, em um ponto, oito em cada dez pessoas concordam: não é mais deselegante questionar quantos anos a pessoa tem. Responder à pergunta, que antes era vista como grosseria por muita gente, já é encarada com naturalidade, assim como revelar a idade, mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest com 703 pessoas com mais de 18 anos de idade no ano passado.

A psiquiatra Rita Cecília Ferreira, do Programa da Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP), aponta um motivo para essa mudança de comportamento, especialmente entre quem passou dos 50 anos de idade: a politização. Ela explica que essa geração passou por grandes transformações sociais do século 20, como a ditadura militar, a revolução sexual e o protagonismo crescente da mulher no mercado de trabalho e em outras esferas. “São pessoas que estão mudando o próprio significado do envelhecimento.”

Que o diga a cientista social Ruth Cambeses Pareschi. Aos 81 anos, ela diz nunca ter se preocupado em revelar a idade. “Tive sempre essa mania de querer crescer rápido e passar por todas as etapas. Como vivi uma vida mais intelectual do que de aparência, nunca tive esse tipo de preocupação de imagem, de parecer jovem", reflete ela.

“Achei que morreria antes de me aposentar”

Assim como nunca se importou em dizer quantos anos tem, a cientista social também não se preocupou com a vida pós-trabalho. “Achei que morreria antes de me aposentar.” Decidiu passar essa fase fazendo cursos na Universidade Aberta à Terceira Idade na USP, como sobre filmes e música, “aqueles que não tinha feito na época [da graduação]".

O empresário Fernando Araújo é outro que não se incomoda em revelar seus 60 anos. Ele explica que quase nada mudou nessas seis décadas. "Sempre tive uma vida relativamente regrada, sem excessos, mas você começa a se preocupar um pouco com os exageros na alimentação quando a idade vai passando", relata.

Envelhecer, diz ele, não amedronta. "Eu me sinto bem com a minha idade, eu tenho uma vida tranquila, com saúde, e isso é o que mais importa", reforça.

Depende da ocasião

Mas ainda há quem resista em revelar a idade. Ida Fajngold, 70 anos, diz que poucos perguntam sua idade – e que só dá a resposta em determinadas ocasiões. Se está entre pessoas da mesma faixa etária, ela não vê problema em dizer. “Agora, quando estou entre um grupo mais jovem, não me sinto confortável."

A psiquiatra Rita Ferreira explica que, no Brasil, há uma tendência ao narcisismo. “Os brasileiros cultuam muito a aparência, a juventude.” E esse comportamento reforça o medo da solidão no envelhecimento. Esse temor “pode ser traduzido como um receio de não ser notado, de não ser visto pelo outro no fim da vida, quando já não se tem as características da juventude que a sociedade tanto valoriza”, finaliza a médica.

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