Estamos vivendo mais e as razões são óbvias. Se por um lado a medicina evolui a cada dia, por outro estamos fazendo a nossa parte, aprimorando continuamente nossa qualidade de vida.

O estereótipo do idoso improdutivo, doente e solitário não corresponde à realidade da maior parte das pessoas que já alcançaram a marca dos 60 anos, mas ainda faz parte do inconsciente coletivo do brasileiro.

A realidade é que esse “novo” idoso tem disposição para viajar, exercitar-se, namorar, divertir-se e trabalhar. É mobile, conectado às redes sociais e busca se atualizar o tempo todo. Tem também mais tempo disponível para si, não só por conta da aposentadoria, visto que muitos ainda trabalham ou gostariam de estar trabalhando, mas por já terem criado os filhos.

Todas essas mudanças geraram novos hábitos que, por sua vez, mudam significativamente a forma como as empresas devem interagir com esse mercado. Em recente estudo da consultoria IN sobre o comportamento da terceira idade, entrevistamos cem pessoas com mais de 60 anos com o objetivo de conhecer melhor esse público. Tivemos dois grandes aprendizados: as múltiplas identidades da terceira idade e o nascimento de uma quarta idade.

Um dos principais problemas relacionados ao processo de envelhecimento está na identidade das pessoas ou no fim dela. Ao longo da vida, construímos uma série de identidades diferentes. Somos chefes, subordinados, maridos, filhos, atletas, amigos, pacientes, enólogos, cinéfilos e assim por diante.

Para muitas pessoas, a identidade relacionada ao trabalho se sobrepõe às demais

Cada um desses papeis representa uma identidade, e cada identidade nos completa em alguma proporção. Durante o estudo, observamos que, para muitas pessoas, e em especial para os homens, a identidade relacionada ao trabalho se sobrepõe às demais. Por isso quando se aposentam passam a se sentir perdidos.

O estudo apontou que as pessoas precisam se reconhecer por suas diferentes identidades para que se sintam realizadas individualmente e contribuindo para a sociedade. Quando elas se reconhecem apenas como trabalhadoras, a chance de entrar em depressão e adoecer na aposentadoria é muito maior.

Por outro lado, quando o espaço antes ocupado pelo trabalho é vivenciado por outras identidades, a chance de as pessoas viverem mais e melhor aumenta significativamente. Parece óbvio, mas pessoas plenas e felizes são muito mais saudáveis.

Envelhecimento é uma condição, não apenas idade

Outro ponto interessante do estudo está no não reconhecimento do significado da terceira idade como algo que condiz à realidade (e por que não real idade?) dos entrevistados. Idoso ou terceira idade são estranhos, distantes para esse público. “Deveria existir uma outra palavra para descrever esta fase”, repetiram diversas vezes os entrevistados.

Espremidos entre a realidade de suas vidas e a visão da sociedade, eles concordam que deveria existir uma quarta idade, resultado da combinação de dois critérios:

1) Idade: pessoas com mais de 80 anos.

2) Saúde: pessoas com debilidades que tornem impossível trabalhar, praticar atividades físicas ou ter momentos de lazer e socialização.

Resumindo uma longa história: envelhecimento é uma condição, não apenas idade.

É por tudo isso que se alguma coisa ficou velha nos últimos anos foi o estereótipo que muita gente tem da terceira idade. Cada vez mais ativos e produtivos, os brasileiros com mais de 60 anos ainda têm muito a contribuir.

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