Para muitos, tudo começou em 5 de julho de 1954, quando um caminhoneiro de Tulepo, Mississippi, entrou no modesto estúdio da Union Avenue, na cidade de Memphis, Tennesee, para gravar “That’s Allright, Mamma”. O motorista chamava-se Elvis Aaron Presley e a gravadora, Sun Records.

Contudo, Elvis não inventou o rock. Antes dele, em 1951, Ike Turner, Jackie Brenston e a banda Delta Cats já haviam gravado “Rocket 88”. E antes deles, lá pelo fim da década de 1930, Rosetta Tharpe e outros tantos músicos - que a história anota timidamente - já desciam as mãos com vontade nas guitarras, pianos e baterias para dar forma a uma variação nervosa do boogie blues.

Elvis Presley Por Whikepedia

Fato é que o rock não tem pai nem mãe conhecidos, muito menos reconhecidos. No máximo, tios e tias, tais como Chuck Berry e Tina Turner, nos Estados Unidos; Erasmo Carlos e Rita Lee, no Brasil. A orfandade já prenunciava o tipo de encrenca que a criatura provocaria nos lares pelo mundo ocidental afora, ou adentro. Desde o começo, esse tal de roquenrou ganhou fama de mau. Mau exemplo para a juventude, que aderiu em massa; mau exemplo para os religiosos de plantão, que enxergam o diabo em todas as novidades; e principalmente para os políticos, que começaram a perceber que seria impossível manter o status quo. Somente a indústria fonográfica compreendeu que aquela forma de rebeldia renderia frutos dourados aos borbotões, alavancando o showbizz, meio caído depois da Segunda Guerra Mundial.

rita lee Por Wikipédia

Quem deu nome à pessoa foi o radialista Albert James “Alan” Freed que, em 1952, batizou seu programa na WJW, emissora de Cleveland, como “Moondogs Rock and Roll Party”. Daí em diante, a marca ganhou vida própria e a festa de arromba se espalhou por todas as esquinas do planeta. Os “Babies Boomers”, geração que nasceu durante e após a Grande Guerra, se encarregaram de fazer o rock crescer e se multiplicar para a delícia dos obedientes acólitos que vieram depois.

No meu caso, a conversão se deu no início dos anos 1960, quando ouvi pela primeira vez o quarteto mágico de Liverpool, os Beatles. Assim como a correnteza do rio Mersey, os “fab four” arrastaram meu coração sem pedir licença, inundando meu peito com emoções nunca dantes navegadas. Beijei minha primeira namorada ao som de “I Wanna Hold Your Hands”; aprendi a dedilhar o violão perseguindo os acordes de “Please, Please Me”, e tornei-me profissional ao passar na prova da Ordem dos Músicos do Brasil, tocando e cantando o clássico “Blackbird”.

beatles Por Flickr

Os nossos pais receberam os rapazes do “Cavern Club” com certo alívio. Diferentemente dos demais astros do rock’n’roll - desleixados, extravagantes, sexualmente agressivos -, aqueles meninos usavam terninhos comportados, não remexiam os quadris acintosamente, apresentando-se nos palcos de maneira sóbria e distinta, como autênticos súditos de sua majestade, a rainha da Inglaterra. A música, o rock e as cabeleiras ao estilo pajem incomodavam, mas, perto dos americanos degenerados, John, Paul, George e Ringo eram a turma do catecismo.

Na verdade, os Beatles não tinham nada de cordeirinhos. Foram essencialmente revolucionários, subvertendo a ordem engessada dos nossos ascendentes, chacoalhando costumes, mudando hábitos e implodindo dogmas. Abriram os portais da percepção e da esculhambação, dando passagem ao delírio do Sargento Pimenta e sua banda de corações solitários. À reboque, vieram os “bad boys” dos Rolling Stones; os pesadões do Black Sabbath; os viajandões do Beach Boys; os ingênuos da Jovem Guarda, os gênios da Tropicália; os fora-de-série do Led Zeppelin; os arruaceiros talentosos do Who; os progressivos do Pink Floyd; os histriônicos do Kiss, a confraria de Seatle, e tantos mais que se espraiam por todos os estilos dessa vertente inesgotável, que nos acostumamos a chamar de rock and roll.

rolling stones Por Wikimedia Commons

Nesta sexta-feira, comemora-se o Dia Internacional do Rock. Por acaso, uma sexta-feira 13, símbolo da má sorte, do terror – quem não se lembra do alucinado Jason e de seu apetite, quase tão sanguinário quanto o de Ozzy Osbourne e o de Alice Cooper? Pois bem, a má fama da sexta 13 tem a ver com outra irmandade, a dos Templários. Mas, isso é “heavy metal” demais para uma única crônica. Então, fica para a próxima. Afinal, hoje é dia de soltar os bichos e deixar a vida acontecer. Hoje é dia de rock, bebê!

Compartilhe com seus amigos