“Você me pergunta: valeu a pena? Hoje digo que sim, mas há três meses, quando terminei o procedimento, eu só pensava, dia após dia: por que eu fiz isso?” O desabafo da historiadora Helena Queiróz Couto Santana, 60 anos, tem um motivo: embora proporcione um rejuvenescimento facial extremamente significativo, o peeling profundo é bastante agressivo, doloroso e os resultados finais só aparecem em 180 dias.

Não à toa, ele é realizado em centro cirúrgico, sob sedação e analgesia profunda, explica a dermatologista Carolina Marçon, que integra a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). “Consiste na aplicação de agentes cáusticos à pele, provocando uma destruição cutânea controlada e sua posterior renovação, além de estimular a produção de colágeno.”


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Os resultados apresentados pelo peeling de fenol são o principal motivo pelo qual o procedimento estético ficou tão conhecido. “Por ser o único que consegue chegar até a derme reticular [a camada profunda], é capaz de rejuvenescer a pele em mais ou menos 20 anos”, diz a especialista. “Além de recuperar cor, contornos, tônus e luminosidade, promove uma melhora intensa de rugas profundas e flacidez”, pontua.

Mas ela adverte: “Os efeitos dos ácidos sobre a pele podem aparecer mais rapidamente e de forma mais intensa quando utilizados em altas concentrações, justamente através da realização de peelings químicos. Mas são procedimentos médicos e apenas médicos estão habilitados a fazê-los, pois, em mãos inábeis, podem trazer resultados desastrosos”.

Peelings profundos, médios e superficiais: entenda a diferença

Os peelings químicos podem ser superficiais, médios e profundos. Os resultados são mais aparentes quanto mais profunda for a ação do produto aplicado. Porém, quanto maior a profundidade de penetração do peeling, maiores são os riscos de complicações e maior é o desconforto durante o peeling e no pós-peeling.

Segundo a especialista, bons resultados podem ser obtidos com vários peelings superficiais seriados, realizados a pequenos intervalos. A descamação subsequente costuma ser fina e não chega a atrapalhar o dia a dia, podendo a pessoa voltar à sua vida normal no dia seguinte. Eles melhoram a textura da pele, clareiam manchas e atenuam rugas finas, além de estimular a renovação do colágeno, que dá melhor firmeza à pele.

Já os peelings médios provocam descamação mais espessa e escura, necessitando de 7 a 15 dias para retorno à vida normal. São indicados para a pele fotoenvelhecida, que já apresenta asperezas como ceratoses actínicas (manchas escamosas ásperas causadas por anos de exposição ao sol) e melanoses solares (as chamadas manchas senis), melhorando rugas e sulcos suaves a moderados, bem como cicatrizes superficiais e alguns casos de hiperpigmentação.

Peeling profundo: como é a técnica

O peeling profundo mais utilizado é o de fenol. Ele induz a uma queimadura química que, ao longo do tempo, resulta no rejuvenescimento. Após sedação e limpeza da pele, inicia-se a aplicação da solução, que é realizada por áreas:  testa, ao redor dos olhos, bochechas e, por último, queixo, com intervalo de 20 minutos entre as aplicações.

“Logo após, em decorrência da coagulação das proteínas, a pele torna-se branca e é acompanhada por ardor, que varia de leve a intenso”, detalha a dermatologista. A seguir, coloca-se uma máscara de esparadrapo, que permanece por 48 horas. “A aplicação é dolorosa, devendo o paciente receber analgésicos e anti-inflamatórios durante as primeiras 12 horas.”

A regeneração da pele inicia-se 48 horas após a aplicação e se completa no período de 10 a 20 dias. O paciente pode demorar até três meses para recuperar-se totalmente e os resultados do tratamento podem demorar até seis meses para aparecer. “A recuperação é lenta, e o pós-procedimento é sofrido, mas os resultados são extraordinários e sustentam-se por muitos anos”, garante.

“Apesar de não ser considerado uma cirurgia plástica, ele é um método bastante agressivo e, por isso, necessita de anestesia, monitorização cardíaca durante o procedimento e acompanhamento médico especializado.”

Também por ser bastante agressivo, o que envolve riscos, somente pessoas com reais necessidades são indicadas a fazer o peeling profundo, pondera a especialista. “Em geral, são aquelas com rugas profundas e fotoenvelhecimento significativo, que apresentam pele clara.”

Ele pode sim ser considerado uma alternativa ao lifting cirúrgico e o custo não é baixo, por se tratar de um procedimento complexo, que requer estrutura física adequada, anestesista e acompanhamento prolongado.

Complicações do peeling profundo

A realização do peeling químico está sujeita a complicações, que tendem a aumentar conforme aumenta sua penetração e sua profundidade. As principais são: eritema (vermelhidão), hiper ou hipopigmentação, cicatrizes, infecção, prurido e dor.

O eritema sempre ocorre no pós-operatório dos peelings devido a fatores como vasodilatação e afinamento da pele, sendo, nesses casos, transitórios.  A hiperpigmentação é decorrente do processo inflamatório causado pela agressão química e ocorre mais frequentemente em pacientes com pele morena, caso da historiadora Helena.

“Não vou negar que senti muita, mas muita dor; que fiquei uns dois dias me alimentando com líquidos pelo canudinho e o quão desesperador foi quando eu me olhei no espelho e vi meu rosto coberto por manchas escuras”, relembra. “Mas, assim como a dor do parto, tudo passa, você nem lembra, e o resultado, no meu caso, que tomei muito sol e tinha rugas profundas, foi muito, muito bom.”

Seja ou não um peeling profundo, vale ressaltar que somente um especialista é capaz de escolher o melhor produto químico na concentração adequada e dominar os efeitos colaterais que possam estar envolvidos. “Mesmo no caso dos peelings superficiais, é importante avaliar a capacidade de resposta e a cicatrização da pele, além das relações custo-benefício do procedimento em questão”, finaliza a especialista.

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