Os dados da violência de gênero no Brasil são vergonhosos. Dos mais de 1 milhão de atendimentos feitos em 2016 pelo Ligue 180 – canal da Secretaria de Direitos Humanos – 12,38% corresponderam a relatos de violência de todos os tipos. Esses são os casos que foram denunciados. Quantos serão os não denunciados?

Abril foi um mês importante na luta contra esse absurdo. Logo na primeira semana, veio à tona o episódio de assédio envolvendo o global José Mayer. Muitas mulheres se mobilizaram com a campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”. No fim do mês, a campanha voltou a ganhar força. Entre outros nomes, Leandra Leal, Patrícia Pillar e Débora Falabella manifestaram apoio à estudante Dandara Castro, vítima de racismo em uma festa.

O texto que compartilharam apontou o componente de gênero da agressão: “É absurdo pensar que em 2017, homens brancos ainda deixem uma mulher, negra, acuada e arranquem seu turbante por puro e claro incômodo do orgulho que ela demonstra por suas raízes. Como mulher, te ofereço todo meu apoio.”

É fácil ver como os diferentes preconceitos se reforçam uns aos outros nos episódios de violência. Por exemplo: no Brasil, o maior rendimento mensal médio é dos homens brancos, e diminui nessa ordem: mulher branca; homem negro; mulher negra. Não é isso uma forma de violência (ou exclusão), também? Mas, infelizmente, as mobilizações contra violência de gênero ainda costumam ignorar um componente de fragilidade: a idade.

Também no mês de abril, nas semanas entre os casos de José Mayer e de Dandara, ganhou espaço na mídia o episódio de Thereza Aparecida. Aos 78 anos, Thereza foi agredida por um enfermeiro na UTI do Hospital do Servidor Municipal de SP. Claro que o fato gerou comoção, mas não se viu a mesma repercussão que os episódios anteriores.

Não se trata aqui de uma acusação à campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”, mas de um alerta a todas as mobilizações contra violência de gênero. E não sou eu quem diz. É a ONU: “Com quase um quarto da população global feminina com 50 anos de idade ou mais, não teremos êxito na prevenção ou na resposta adequada à violência de gênero se não reconhecermos e formos ao encontro das necessidades desse segmento populacional”.

O vídeo da cantora Preta Gil em apoio à mobilização resvalou no problema, mas pecou no final. Preta começa o depoimento afirmando ter sofrido preconceito na vida por ser mulher, negra, gorda e por ter amado um homem mais jovem. Depois concluiu, afirmando sua identidade: “Mulher sim. Negra sim. Gorda sim.” Preta tem 43 anos. Logo, abaixo da faixa comumente excluída, segundo a ONU. Se afirmasse também “Mais velha sim”, a campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas” faria ainda mais jus a seu nome.

Compartilhe com seus amigos