Gaúcho de Alegrete, Robson Cesar Correia de Mendonça, 66 anos, era fazendeiro quando veio para São Paulo e sofreu um assalto. O crime, acontecido em 1998, provocou uma reviravolta em sua vida.

Após ter perdido todo o seu dinheiro, passou a viver nas ruas paulistanas, situação que durou seis anos. Sem poder entrar em contato com a família, soube pela TV que a mulher e os dois filhos tinham sido vítimas de um acidente de carro e não sobreviveram.

“Fiquei revoltado, desorientado, comecei a beber, a me drogar. Um ano depois, percebi que tinha de mudar. Não queria mais ser acordado com jatos de água, chutes, ter de procurar comida no lixo. Foi quando criei o Movimento Estadual de Pessoas em Situação de Rua de São Paulo.”

Frequentador de bibliotecas enquanto estava nas ruas, uma situação o incomodava: sem comprovante de endereço, não podia pegar exemplares emprestados. Em 2010, fez o projeto de um programa para democratizar a leitura. Nascia a Bicicloteca, em que bicicletas levam gratuitamente livros a pessoas que não têm acesso a eles.

São 28 bicicletas espalhadas pela capital e por cidades do interior paulista. O acervo conta com 48 mil livros, todo construído a partir de doações. Apesar de não haver obrigatoriedade de entrega, o índice de devolução, diz Mendonça, é de 98%.

“Um livro pode, sim, mudar uma vida. Conheço vários casos. O que mudou a minha foi ‘A Revolução dos Bichos’, e hoje sempre tenho uma obra por perto. O que tem faltado é tempo para ler mais”, afirma.

“Quando era fazendeiro, era uma pessoa a mais no mundo. Depois que virei morador de rua e criei o movimento e a Bicicloteca, virei pop star, TVs de todo o mundo já me entrevistaram. Estou realizado, hoje ajudo quem mais necessita.”

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