Se você pensa que ler é um ato solitário, precisa conhecer uma prática que tem ganhado adeptos em sua diversidade de formatos e públicos que pretende atingir. Tratam-se dos clubes de leitura, que reúnem presencialmente, em encontros periódicos, leitores que querem debater obras literárias em grupo, muitas vezes com a participação de escritores que coordenam as conversas.

Esses eventos têm sido organizados por editoras, livrarias, instituições como o Sesc (Serviço Social do Comércio) e também por iniciativas individuais de apaixonados pela literatura que querem dividir suas impressões sobre o que leem e socializar com pares igualmente aficionados pelos livros.

Segundo Vanessa Ferrari, coordenadora dos projetos de clubes de leitura da Companhia das Letras, tais encontros têm de fato muito a ver com socialização. “É o caso de pessoas mais velhas que buscam uma atividade em que possam conviver com outras”, afirma.

“Quem lê um livro quer discuti-lo com alguém ou fica com algumas questões a ser esclarecidas, como quando considera seu conteúdo difícil. E, muitas vezes, ao trocar percepções, conclui que a dificuldade está no próprio texto ou em um personagem específico, e que ela também foi sentida por outros leitores.”

Assim, em sua opinião, os debates em grupo sobre as obras quebram alguns paradigmas, como o da ideia de estar despreparado ou não ter repertório cultural para entender determinado autor. “É uma mudança de chave bastante importante”, diz. “E que rompe inclusive estigmas de que é obrigatório gostar de determinado escritor ou odiar outro. Há públicos para todos os tipos de livro.”


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Nesse aspecto, Vanessa destaca que os clubes de leitura são bem diferentes de estudos literários no formato de aulas tradicionais. “É um espaço em que todas as opiniões são bem-vindas”, reforça.

E, para haver o equilíbrio entre os discursos, existe a figura do mediador. “Ele é fundamental para a condução das conversas ao acolher os diferentes pontos de vista e preparar perguntas para animar a discussão. Entre suas funções estão a de dar vez aos integrantes que são mais tímidos e conter aqueles que falam demais.”

Em geral, a participação nesses clubes é gratuita. “É comum ser pedida a compra do livro, mas quem já o tiver não precisará adquiri-lo de novo”, explica Vanessa. As turmas normalmente reúnem entre 10 e 30 pessoas, que se encontram uma vez por mês durante uma hora e meia ou duas horas.

Escritores no comando

A formação do mediador é variada. “Ele não é necessariamente um professor”, ressalta a coordenadora da Companhia das Letras. “É um guia de leitura. Quando o clube é realizado em uma livraria como a Cultura, pode ser um vendedor do estabelecimento.”

Em muitos casos, é esse mediador que sugere as obras a ser discutidas, mas o voto democrático do grupo conta muito nessa escolha. Há clubes em que esse papel de mediação é exercido por um autor, que geralmente propõe títulos com os quais tem afinidade.

É o que costuma ocorrer no clube de leitura do Sesc Vila Mariana, que acontece na última quinta-feira de cada mês, às 19h30, na unidade que fica na rua Pelotas, 141, em São Paulo; a participação se dá por senha que deve ser retirada meia hora antes do encontro, que dura cerca de duas horas.

Lá, quem conduziu as últimas discussões foi o poeta Sérgio Vaz. Nas próximas, que serão em outubro em novembro – não haverá evento em setembro –, o escritor Marcelino Freire vai coordenar bate-papos sobre títulos de Manuel Bandeira.

Entre os clubes de livros, também já existem aqueles voltados para um segmento específico de leitores. Há os que se voltam exclusivamente para autoras, como o Leia Mulheres; os que se dedicam apenas a um autor específico; ou os que foram fundados por um escritor e congregam ainda outras atividades, como palestras e lançamentos de livros – é o caso da comunidade Escrevedeira, iniciativa da escritora e crítica literária Noemi Jaffe.

Podem até funcionar como ferramenta de reintegração social, como no projeto que a Companhia das Letras realiza dentro de presídios do Estado de São Paulo, com apoio do governo. A participação dos detentos nesse programa de clubes de leitura contribui para a revisão de suas penas.

Diante de tantas opções, a moral desta matéria é mesmo que ler não é necessariamente um ato solitário; pode, isso sim, ser um importante meio de trocar ideias e fazer amigos.

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