Em 2007, a vida da professora de biologia Eiko Sugiyama, 67 anos, mudou. Aposentou-se nas duas escolas em que dava aulas e adotou a cidadania e o trabalho voluntário como rotina.

Ao perceber que a praça Harmonia dos Sentidos, na rua onde mora, na zona oeste de São Paulo, estava precisando de cuidados, decidiu se dedicar a ela: levou mudas de plantas novas _ “estava tudo muito verde, faltavam flores para colorir o espaço” _, convocou artistas plásticos para pintar um painel, juntou uma equipe de vizinhos para ajudá-la a fazer mosaicos nos bancos, arrecadou tinta, azulejos e apoio da subprefeitura, de condomínios e da escola vizinha.

“Trabalho social precisa de voluntários, do poder público e de parceiros. Os primeiros fazem as ações, os segundos, fiscalizam, e os terceiros, contribuem financeiramente. Foi o que fizemos e nosso trabalho virou referência.”

Casada há 46 anos, mãe de dois filhos e com quatro netos, a voluntária que não para conta com a aprovação da família. “Eles não se envolvem muito, mas me apoiam em tudo. Sou o orgulho dos meus netos e meu esposo diz que virou o ‘marido da Eiko’.”

Eiko vai à praça todos os dias, para checar se está tudo em ordem. Duas vezes por semana, faz a manutenção do espaço. “Sempre acho que essa praça é um paraíso. Mas não é só contemplação, não há paraíso sem trabalho”, afirma.

Seus conhecimentos sobre fauna e flora ajudam na hora de selecionar as mudas, cuidar de cada uma delas, fazer compostagem e reciclagem, mas há atividades que fogem da sua alçada, como os mosaicos de cacos de azulejos, que ficaram “um horror” da primeira vez, segundo conta a professora aposentada.

“Nasci e cresci no meio rural, no interior de São Paulo, e fiz biologia, trabalhei com educação ambiental. Disso eu entendo. Mas não sei nada sobre construção nem artes. Para mim, viver é um aprendizado constante. Se não sei fazer alguma coisa, tenho de ligar para pessoas que sabem, você se torna um multiprofissional.”

A praça tem um formato diferente dos convencionais: é pequena e, como fica numa descida, conta com escadas. Há um portão na entrada também. Por conta dessas características, Eiko diz que é mais fácil controlar a limpeza do espaço e a interação dos visitantes.

“Participo pela melhora do bairro. Ajudo em outras praças, a cuidar de canteiros, parquinhos e calçadas. Tenho liberdade para me dedicar a isso e é dessa liberdade que eu adoro. Daqui até o final da vida, esse vai ser o trabalho que assumi. O meu capítulo final será muito harmonioso e bonito.”

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