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Neil Blumenthal

Em um mundo que muda mais rapidamente do que nunca, navegamos em uma incrível quantidade de incerteza e ambiguidade. Isso vale para pequenas coisas (atualizaram o software do iPhone? De novo!?!) e grandes coisas (indústrias estão morrendo e novas, nascendo).

As pessoas mais bem preparadas para intermediar a ambiguidade e a incerteza são as apaixonadas, porque são as únicas que encontrarão uma maneira de fazer as coisas – e de prosperar –, independentemente dos obstáculos à frente.

Paixão, claro, não é o único ingrediente para prosperar. É preciso saber ainda quais são suas forças. Ao longo de minha vida profissional, cheguei a definir “sucesso” dessa maneira: o ponto em que paixões e forças se cruzam.

Também descobri que as pessoas têm mais probabilidade de encontrar esse ponto em uma organização que tenha missão social – isto é, uma organização com uma determinação claramente articulada de fazer o bem no mundo.

Seis anos atrás, eu era estudante de negócios na Wharton School, da Universidade da Pensilvânia. Um dos meus amigos, Dave Gilboa, perdeu os óculos de grau. Quando foi comprar outro, ficou assustado em como era difícil encontrar um par que fosse estiloso e de alta qualidade, que não custasse o equivalente a uma passagem de ida e volta dos Estados Unidos para a Inglaterra.

Éramos estudantes sem muito dinheiro, e ninguém no grupo saía em viagens casuais para a Europa. Era um problema tanto assustador quanto prático. Por que era tão complicado encontrar uma ferramenta tão básica para viver?

Após as aulas, durante jantares tailandeses regados a cerveja tarde da noite no pub local, conversava com Dave e outros dois amigos próximos, Jeff Raider e Andy Hunt, sobre o problema dos óculos. Em um nível pragmático, não fazia sentido – afinal, os óculos haviam sido inventados 700 anos atrás, logo, a tecnologia não era exatamente misteriosa.

Eu também sabia, após uma experiência em primeira mão, que era possível fabricar óculos de alta qualidade por um valor muito menor do que o de mercado.

“703 milhões de pessoas em todo o mundo poderiam ter sua visão restaurada com um par de óculos”

Antes de me matricular na Wharton, eu trabalhava como diretor de uma organização sem fins lucrativos chamada VisionSpring _ clique aqui e conheça. A missão da entidade é distribuir óculos acessíveis a pessoas de países em desenvolvimento.

Não apenas isso, mas também capacitar empresários de comunidades de baixa renda para fazer exames oftalmológicos, educar as pessoas sobre saúde ocular e ajudar os clientes a obter um par de óculos que os ajudariam a aprender, trabalhar e contribuir com seus vizinhos.

Eu sabia que o problema da deficiência visual é enorme: 703 milhões de pessoas em todo o mundo poderiam ter sua visão restaurada com um par de óculos, e 90% das pessoas que vivem sem eles estão em países em desenvolvimento.

“Um par de óculos é uma intervenção incrivelmente simples que pode causar um impacto imenso e imediato”

Eu também tinha certeza que a oportunidade era enorme. Lentes podem aumentar a produtividade de um indivíduo em 35% e sua renda mensal em 20%.

Faz sentido: muitos empregos nas nações em desenvolvimento – da tecelagem à agricultura – dependem de boa visão. Um par de óculos é uma intervenção incrivelmente simples que pode causar um impacto imenso e imediato.

Um exemplo que vem à mente envolve dois irmãos em seus 60 anos que eu conheci em Bangladesh. Toti e Omprakash Tewtia sempre fizeram tudo juntos. Começaram um negócio de agricultura e criaram suas famílias lado a lado (os dois têm agora 15 netos, no total).

Quando os conheci, havia três gerações vivendo em suas casas – crianças em todos os lugares, brincando e rindo. Era uma cena animada.

À medida que envelheceram, a visão começou a declinar. Quando o ponto alto do dia é ler para os netos, isso é mais do que apenas uma inconveniência. O tempo de contação de histórias começou a terminar em dores de cabeça e, finalmente, cessou completamente quando os irmãos não conseguiam ver o suficiente para poder ler.

Quando eles foram capazes de ter cuidados oftalmológicos e óculos, retomaram as histórias e ainda se tornaram mais capazes de identificar pragas em suas colheitas e encontrar tratamentos para elas, algo que aumentaria o seu rendimento.

“[Trabalho significativo é] um lugar em que nunca ficaríamos tentados a apertar o botão soneca do despertados quando acordamos”

De volta para casa, meus três amigos e eu passamos horas tentando desvendar o problema. Essas conversas nos levaram a lançar a Warby Parker _  clique aqui e conheça _, uma empresa que produz óculos de prescrição a preços acessíveis – US$ 95, incluindo lentes de grau – e que distribui um par para cada um vendido. Iniciamos as atividades em 2010, e hoje estamos orgulhosos de ter distribuído bem mais de 1 milhão de pares para pessoas carentes.

Muitas vezes nos perguntam como é possível - ou melhor, como pode haver “bom senso comercial” – fazer isso. Minha resposta é: não faz sentido.

Se as pessoas mais inteligentes e talentosas são atraídas para trabalhar em empresas que estão alinhadas a seus valores, como poderia uma companhia sem valores fortes ter esperança de prosperar em uma economia tumultuada?

Os apaixonados farão o que for necessário para realizar o trabalho, e são exatamente esses os tipos de funcionários que o negócio precisa agora mais do que nunca.

Embora tenhamos construído o modelo “compre um, doe um” em nosso negócio, desde o início, sabíamos que isso não era suficiente.

Meus três cofundadores (sim, aqueles mesmos caras da Wharton) e eu colocamos nossas cabeças juntas para pensar e traçamos um plano para fazer da Warby Parker um negócio que nos deixaria animado para trabalhar todos os dias.

Vindo do universo das organizações sem fins lucrativos, eu sabia o quão importante era ter um trabalho significativo, e meus co-fundadores sentiam o mesmo. O objetivo final: esculpir um lugar em que nunca ficaríamos tentados a apertar o botão soneca do despertados quando acordamos, às 7 da manhã.

“As companhias que esperam sobreviver em um mundo incerto terão que provar serem dignas dos talentos que atraem”

Foi a partir dessas intenções que desenvolvemos uma estrutura centrada em quatro partes – clientes, funcionários, meio ambiente e comunidade –, que são levadas em conta em todas as decisões. Quando se trata de consumidores, confiamos na velha regra de ouro e nos esforçamos para tratá-los da maneira que gostaríamos de ser tratados.

Em relação aos empregados, construímos uma cultura de trabalho que nutre a curiosidade e a recompensa à criatividade e oferece infinitas oportunidades de aprendizagem (aulas, treinamentos, clubes de livros, palestrantes e mais).

Os funcionários da Warby Parker também se envolvem com comunidades em nível local – são voluntários em organizações com ideias semelhantes – e também em nível macro, garantindo que nossas fábricas sejam auditadas para garantir condições de trabalho justas.

E, finalmente, quando se trata do meio ambiente, a  Warby Parker é uma das únicas marcas de óculos de carbono neutro no mundo.

Embora pareça simples adotar uma filosofia centrada em stakeholders, é algo bastante radical no mundo corporativo, no qual, legalmente, o acionista tem primazia. Mas não acho que essa anomalia terá continuidade por muito mais tempo.

Quando o meu copresidente, Dave, e eu entrevistamos candidatos a uma vaga – e ainda fazemos isso – ouvimos, repetidas vezes, que a razão pela qual as pessoas querem trabalhar na Warby Parker é nossa missão.

Acredito que as empresas se tornarão cada vez mais voltadas para a missão à medida que o ritmo da mudança se acelere. As companhias que esperam sobreviver em um mundo incerto terão que provar serem dignas dos talentos que atraem.

Sobre o autor

Neil Blumenthal é cofundador e copresidente da Warby Parker, marca que oferece óculos de designer a preço baixo, liderando o caminho para empresas socialmente conscientes.

Artigo original 

http://journal.aarpinternational.org/a/b/2016/02/seeing-a-need-for-change

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