Tem gente que espera a aposentadoria para pendurar a chuteira e descansar. Outros preferem realizar um grande sonho, como fez Edson Gambuggi, hoje com 91 anos. Em 2002, o jornalista, advogado e farmacêutico entendeu que era o momento de finalmente cumprir a promessa que havia feito ao pai dele, muito tempo atrás: cursar Medicina.

À época da inscrição no vestibular, ele estava com 76 anos de idade e uma disposição de dar inveja aos colegas de vinte e poucos. A trajetória até pegar o diploma, em 2009, aos 82 anos, incluiu muito esforço para acompanhar as disciplinas, apoio incondicional da família e presença garantida nas festinhas com a turma.

Para quem pensa em seguir seu exemplo, ele diz: “Eu digo que é preciso querer de verdade. Sem vontade pessoal, não se chega a lugar algum”.

Leia os principais trechos de sua entrevista para o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon:

Fazer medicina era um sonho antigo?

Sim. Acho que quis ser médico desde que nasci. E foi uma promessa que fiz ao meu pai, que era farmacêutico, como eu.

Quais obstáculos o impediram de realizar esse sonho antes?

Ainda jovem me formei em Farmácia, em Ribeirão Preto, na USP [Universidade de São Paulo], e, em 1959, vim para São Paulo, já casado, com meu primeiro filho pequeno.

Eu tinha uma farmácia e nessa mesma época ingressei numa carreira pública, na Justiça do Trabalho. Então, eu abria a farmácia às 7 horas, ia para a repartição às 11 horas e retornava para a farmácia às 18 horas, onde ficava até meia noite. Minha jornada de trabalho era de 18 horas por dia.

Nessa época o senhor já havia tentado cursar Medicina? 

Sim, na década de 1960, eu entrei na primeira turma de Medicina em Mogi das Cruzes [cidade da região metropolitana de São Paulo], mas não consegui cursar porque precisaria deixar as funções na Justiça do Trabalho.

Depois também passei na primeira turma de Medicina de Santo André [também na região metropolitana], por volta de 1965. Eu ingressei, mas acabei trancando. Daí vi a possibilidade de ter uma promoção se fizesse Direito, então cursei. Muito tempo depois, após vender a farmácia e me aposentar, retomei o objetivo.

“Eu me preparei sozinho [para o vestibular], com muita dedicação, e passei muito bem colocado”

Como foi a preparação para o vestibular?

Eu me preparei sozinho, com muita dedicação e passei muito bem colocado.

Qual foi a sensação quando, em 2002, viu seu nome na lista de aprovados, depois dessa longa jornada?

Foi o máximo!

Durante o curso, quais a principais dificuldades que o senhor enfrentou?

Eu nunca faltei às aulas, nem às festinhas. No início, eu não tive muita dificuldade com as disciplinas, até pela minha formação em Farmácia. Mais para frente, sim, mas superei e nunca fiquei em dependência. Estudei com a ajuda dos colegas.

“A maioria [dos colegas de faculdade] tem a idade do meu neto, mas me tratam de igual pra igual”

Como foi o relacionamento com colegas e professores?

Sempre foi uma relação de muito carinho e respeito. Até hoje tenho uma amizade muito grande com eles e todos fazem muita festa quando me encontram. A maioria tem a idade do meu neto, mas me tratam de igual pra igual.

O senhor teve apoio da família?

 Meu filho me apoiou totalmente. Não só ele, mas todos em casa, pois sabiam que era o grande sonho da minha vida. Minha esposa era minha motorista, me levava e buscava na faculdade, convivia com a turma toda e sempre foi uma grande companheira. Todos me apoiaram e ficaram orgulhosos.

E a carreira como médico?

 Atuei por alguns anos como médico do trabalho e clínico, mas acabei parando por conta de problemas de saúde.

Como a experiência de vida o ajudou na Medicina?

A experiência em Farmácia foi um grande diferencial. Quando comecei em São Paulo como farmacêutico, não havia médicos como hoje. O farmacêutico era, geralmente, uma espécie de médico do bairro. Essa experiência me ajudou bastante.

O que diria para aqueles que acreditam não ter mais idade para realizar um determinado sonho?

 Eu digo que é preciso querer de verdade. Sem vontade pessoal, não se chega a lugar algum.

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