Formada em matemática, Rosana Kazakevic busca conciliar seu trabalho no app Lady Driver e no Uber com o de terapeuta do método constelação familiar.

O que importa é sempre seguir em frente, com as próprias pernas ou outro meio de transporte. Essa é a lógica que orienta a vida da matemática Rosana Kazakevic, 58 anos. Com variadas experiências profissionais, ela, há dois anos, acrescentou outra ao currículo: tornou-se motorista de aplicativo – entre eles um só para mulheres.

Aposentada, ela diz que a renda que a Previdência lhe dá não é o bastante para se manter. Assim, podemos vê-la em corridas ao volante de seu Honda Fit, levando passageiras pelo app Lady Driver, cuja proposta é a de mulheres dirigindo para mulheres.

Ela, que se cadastrou no app há cerca de um ano, também é motorista do Uber há dois. “O Lady Driver paga melhor, e as transações em geral são via cartão de crédito, o que é mais seguro”, afirma. “O Uber é menos rentável, eles ficam com a maior parte do dinheiro. O Lady Driver também me dá mais segurança em corridas noturnas, uma vez que é um aplicativo só para usuárias.”

Ao ter homens como clientes, ela conta que passou aperto em algumas ocasiões – chegou a sofrer assédio, por exemplo. “Certa vez, um estrangeiro de uns 20 e poucos anos começou a dizer que gostava de mulheres mais velhas. Depois, perguntou se eu era casada. Ao final da corrida, pediu meu telefone. Você fica sujeita a situações desagradáveis como essa quando lida com o público masculino.”

 “No princípio, uma saída já me deixava esgotada”

Outra dificuldade no começo do trabalho como motorista de aplicativo foi a percepção de que dirigir profissionalmente é bem mais cansativo do que fazê-lo no dia a dia para atender às próprias demandas de transporte. “É preciso lidar com a ansiedade de às vezes não ter passageiro e em outras ocasiões não ter tempo de parar nem para ir ao banheiro”, diz. “No princípio, uma saída já me deixava esgotada. Aos poucos, aumentei o ritmo. É como fazer academia: nos primeiros dias, você morre de dor; depois, o corpo vai se acostumando aos exercícios.”

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Hoje, ela dirige entre 8 e 13 horas por dia, inclusive nos fins de semana. Nessa toada, consegue tirar cerca de R$ 1.000 semanais. Desse valor, precisa descontar gastos com combustível e manutenção do carro.

O desgaste físico ao volante, contudo, foi “fichinha” na comparação com o aprendizado do uso dos aplicativos. Rosana diz que, por não ser uma “aficionada por celular”, aprender a usá-lo foi complicado. “Durante os primeiros quatro meses de Uber, apanhei bastante com um aparelho mais velho. Ele travava e me fazia perder muitas corridas. Só depois adquiri um novo, com memória suficiente para rodar os programas, que são pesados.”

Rodando por aí

motorista de aplicativo Foto Especial

Antes de se cadastrar para começar a trabalhar como motorista de aplicativo, a matemática descendente de lituanos deu aulas. Depois que se casou, passou a comandar com o marido uma empresa de equipamentos de som para automóveis, no começo dos anos 1980. A empreitada durou até a separação do casal, em 1995. “Depois disso, passei a trabalhar com várias outras coisas”, diz. Entre as atividades, foi corretora de imóveis, deu aulas de ioga e de massagem – com os conhecimentos de cursos livres que fez nessas áreas – e vendeu pacotes de viagem, ganha-pão ao qual recorre até hoje quando necessário.

“Não dava mais para viver sem emprego e salário fixos”

Porém, chegou um momento em que o cinto orçamentário da profissional liberal apertou. “Não dava mais para viver sem emprego e salário fixos”, afirma. Trabalhou em um negócio de família, primeiro na parte de assistência técnica, depois circulando pelos setores de administração geral, recursos humanos e controle de qualidade. Ficou até a profissionalização do negócio, em 2014.

Era o momento de nova pausa para reflexão. Se, de um lado, conseguiu se aposentar pelos 30 anos de contribuição, de outro, a renda obtida, 30% menor que a quantia que receberia se tivesse 60 ou mais anos de idade, não era suficiente para pagar as contas. Sem esquecer seu lema de não parar nunca, Rosana foi atrás de novas possibilidades.

Tentou, em primeiro lugar, organizar um congresso online de palestras sobre temas que orbitavam ao redor de um conceito de viagem ao autoconhecimento – entre eles, teatro, biodança e ioga. “Fiz tudo sozinha, e foi algo além dos meus limites”, lembra. Resultado: muito esforço e pouco retorno. E a percepção de que o estresse e a depressão a rondavam, o que era um sinal amarelo.

Partiu então para novos ares, um período no Canadá para ajudar na mudança de casa da família da filha mais velha, que mora por lá. Como Rosana buscava uma atividade remunerada, o genro lhe deu a ideia de se tornar motorista do Uber, função que ele mesmo exercia em território canadense. Já no Brasil, ela se cadastrou no aplicativo, em 2016. Cerca de um ano depois, aderiu ao Lady Driver.

Foto Especial

Mas não é só pisando no acelerador do Honda que Rosana avança. Ela ainda persegue o autoconhecimento como meta de vida e, por que não, de sustento próprio. Após estudar o método terapêutico da constelação familiar, em que pessoas estranhas representam membros da família do paciente em tratamento, passou a aplicar a técnica em sessões realizadas à noite ou nos fins de semana, em outra vertente de atuação profissional.

Essa ocupação não é rentável o bastante para que a matemática de formação troque de vez as rotas urbanas pelas trilhas emocionais, mas quem sabe o destino não se encarregue de pavimentar esse caminho. Sua parte, ela tem feito: Rosana nunca fica parada no mesmo lugar.

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