“Toda a minha vida, eu tive que lutar.” Esse é um trecho de um dos filmes mais amados da década de 1980, “A Cor Púrpura”, do diretor Steven Spielberg. O desabafo é de uma personagem secundária, Sofia, vivida por Oprah Winfrey, que enfrenta os desafios de ser uma jovem negra e pobre na sociedade escravocrata e sexista americana no início do século passado.

Na película, a frase, que vem combinada com uma alta dose de indignação, é proferida por Oprah. Na vida real, ela reflete muito da vida da então atriz e hoje cogitada candidata a presidente dos Estados Unidos para as eleições de 2020.

Em um discurso inspirador no Globo de Ouro no último dia 7, no qual ataca o assédio e o racismo, Oprah lembrou sua infância pobre ao lado da mãe – que chegava em casa “cansada até os ossos de limpar a casa de outras pessoas”. E exortou mulheres vítimas de violência a não se calar.

“Ele [o primo que a estuprou] me levou a uma sorveteria – o sangue ainda escorria pelas minhas pernas – e me comprou um sorvete”

O apelo de Oprah é o de uma também vítima, que foi estuprada por um primo aos 9 anos de idade. “Ele me levou a uma sorveteria – o sangue ainda escorria pelas minhas pernas – e me comprou um sorvete”, declarou ela, durante uma entrevista ao apresentador David Letterman.

No talk-show de 90 minutos, ela relatou que os abusos sexuais foram frequentes por cinco anos, dos 10 aos 14 anos de idade. Permaneceu calada, sempre ameaçada caso decidisse contar a violência que sofria a alguém. Fugiu de casa. Aos 14, engravidou. Perdeu o bebê, que havia nascido prematuro, duas semanas após o parto.

Lenda na televisão

O que fez com que a menina que viveu até os seis anos com a avó em uma área rural pobre e que ia à escola vestindo roupas feitas de sacos de batata se tornar uma das mulheres mais influentes e ricas dos Estados Unidos?

Parte da explicação está no interesse pelos estudos, especialmente em oratória e drama, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos na Universidade Estadual do Tennessee.

Começou, aos 17 anos, a trabalhar em uma emissora de rádio e, aos 19, tornou-se a primeira apresentadora negra na WLAC-TV, de Nashville, capital do Tennessee. E daí foi decolando, entre as funções de apresentadora e entrevistadora, até conseguir seu primeiro papel no cinema, em “A Cor Púrpura”, filme que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar, em 1985. No ano seguinte, dava início ao programa em rede nacional que a projetou: “The Oprah Winfrey Show”.

No talk show, ela conseguiu entrevistas que marcaram história. Como com Michael Jackson, quando ele declarou sofrer de vitiligo, que alterava a cor da pele. A lista inclui Nelson Mandela, Barack Obama, Madonna, Tom Cruise e Aretha Franklin, entre outros.

“Na minha carreira, o que sempre tentei fazer de melhor, seja na televisão ou no cinema, é dizer algo sobre como homens e mulheres realmente se comportam”

“Na minha carreira, o que sempre tentei fazer de melhor, seja na televisão ou no cinema, é dizer algo sobre como homens e mulheres realmente se comportam. Para dizer como sentimos vergonha, como amamos e como nos enfurecemos, como falhamos, como recuamos, perseveramos e como superamos”, disse ela no Globo de Ouro deste ano.

Ponteiros subindo

Enquanto a carreira decolava, a vida pessoal passava por reviravoltas de romances e batalhas contra a perda de peso. Os desapontamentos nos namoros acabaram em 1986, quando conheceu Stedman Graham, empresário e educador, com quem está até hoje. Mas a guerra contra a perda de peso não a abandonou.

“Não estava só triste por conta do fracasso do filme e sim emocionalmente arrasada”

As frustrações eram descontadas na comida. Em entrevista à “Vogue” americana, ela revelou sobre a compulsão alimentar em um episódio ocorrido no lançamento do filme “Bem-Amada”, que foi derrotado nas bilheterias por “A Noiva de Chuck”.

“Às 10 da manhã”, declarou ela, “pedi macarrão com queijo como café da manhã”. “E aí começou a minha queda na depressão e na compulsão com comida para esconder meus sentimentos. Foi só depois de algumas semanas que eu percebi que realmente tinha algo errado comigo, que não estava só triste por conta do fracasso do filme e sim emocionalmente arrasada. Comecei a pesquisar sobre depressão e outros temas relacionados para ver o que fazer.”

Rumo à Casa Branca?

Em 2003, passou a ser figurinha carimbada no ranking de bilionários, elaborada pela revista “Forbes”. Não foi apenas o programa na televisão que lhe rendeu dividendos. Oprah também apostou em revista, empresa de produções, investimentos (incluindo ações da rede Vigilantes do Peso), imóveis e licenciamento. E não esqueceu a filantropia, investindo em projetos e em uma ONG de empoderamento feminino.

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Ou seja, aos 50 anos de idade, já poderia parar por aí, se dependesse apenas de garantir um pé-de-meia. Mas, em 2010, deu outro grande passo – decidiu encerrar seu programa na TV e, no ano seguinte, abrir ela própria uma emissora, aos 57 anos de idade.

Foram necessários alguns anos para que o projeto desse lucro. E ela soube aproveitar a maré, vendendo ações do canal para o Discovery Channel por US$ 70 milhões (o equivalente a R$ 225 milhões) e permanecendo presidente da companhia até 2025.

Projetos de futuro

A trajetória e as declarações de Oprah são munição para os que querem ver a atriz, apresentadora, empresária e escritora – que completa 64 anos no próximo dia 29 – como a próxima presidente dos Estados Unidos. Ela ainda não declarou se concorre ou não, mas a torcida já lançou a campanha #Oprah2020.

Há quem duvide do preparo de Oprah Winfrey à frente do país. Mas, se ela estiver decidida a enfrentar as urnas, a história pessoal mostra que força e garra não lhe faltam para enfrentar batalhas e vencer guerras.

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