IKI significa vida. KAI, realização de desejos e expectativas. As duas palavras japonesas, juntas, deram origem a uma terceira, IKIGAI, expressão usada para definir uma filosofia de vida que se baseia na busca pela razão de ser ou do motivo pelo qual acordamos todas as manhãs.

Um povo cheio de costumes e tradições milenares, os japoneses acreditam que cada um de nós carrega sua própria ikigai e que é preciso descobri-lo, torná-lo nosso. Dessa forma, ao conhecermos nós mesmos, intimamente, estaremos enfim prontos para vencer nossas batalhas.

A pequena ilha de Okinawa, ao sul do Japão, é um bom exemplo do que a ikigai pode fazer por seus praticantes. Sua população, que segue a filosofia à risca, é conhecida mundialmente por sua impressionante longevidade. Por lá, a proporção de pessoas que passam dos cem anos de idade com saúde e qualidade de vida é de 24,55 para cada cem mil habitantes. A média é muito superior ao resto do planeta.

O publicitário paranaense Eduardo Almeida é um dos introdutores da filosofia ikigai no Brasil e criador do método Ikigai de Desenvolvimento Humano. Para Almeida, ikigai significa uma motivação profunda.

“A gente confunde motivação com animação”, alerta o publicitário. “Estar animado significa ter alma, ‘anima’, ter energia. Às vezes, sua energia está mais alta ou mais baixa. Agora, motivação significa ‘motivo para ação’. Então quando eu tenho motivação profunda, de manhã eu entendo e digo por que eu vou fazer isso. E quando eu encontro o meu ‘por que’, eu encontro o meu ‘como’. Quem tem um ‘porquê’, enfrenta qualquer ‘como’”, explica.

Professor de Ryu Kyu Kempo, uma versão japonesa do Kung Fu similar ao karatê com chaves de defesa pessoal originado em Okinawa, Almeida conta ser daí sua ligação com a ikigai. “Em Okinawa, eles praticam essa arte marcial, e a partir disso eu tive contato com os grandes mestres e comecei a ouvir essa expressão. Percebi nos seminários de artes marciais que eles tinham em Okinawa alguma coisa diferente daquilo que nós temos. Tudo o que se faz por lá é fortemente orientado por esse sentido”, lembra.

E como descobrir a sua ikigai?

Almeida brinca dizendo que as pessoas não descobrem seus propósitos, mas os reconhecem. Ele explica que a palavra “reconhecer” vem de “conhecer de novo” e que, dessa forma, fica fácil entender que o propósito de cada um já está dentro de si.

“O que nos falta as vezes é método para consisti-lo e para acreditar, ter coragem de ver o propósito. Coragem vem de agir com o coração”, destaca o professor. “Na verdade, todo mundo já tem um propósito dentro de si. A questão é reconhecê-lo e ter a coragem de vê-lo”.

O método Ikigai de Desenvolvimento Humano, criado por Almeida, tem o objetivo de facilitar esse processo de busca interior. Muito mais do que promover melhoria de performance, é orientado para ajudar o ser humano a entender sua razão de ser, encontrando assim força, significado e motivação para atingir os objetivos que almeja para sua vida e carreira.

“A vida é tão corrida, tão excêntrica, voltada para fora, que a gente efetivamente não consegue ter disciplina para isso. O processo Ikigai dá essa disciplina para que você se organize, chegando à resposta que, de outra forma, talvez você não chegaria. E o coach ikigai é aquela pessoa que contribui dando imputs, dando insumos e dando estímulo, suporte, para que essa jornada seja repleta de prazer”, complementa.

Há três maneiras, segundo o coach, bastante claras de descobrir a sua ikigai. São elas:

1ª) O quanto você tem consonância entre o que faz e o que sente?

Um indicador claro de que você não está no caminho de descobrir a sua ikigai é quando o que você faz não te dá sentimento de amor e de satisfação. O primeiro elemento dessa busca é amar o que faz e encontrar consonância entre o fazer e o sentir. O que você sente quando você faz algo? Quando está realizando uma atividade e percebe que aquilo te dá prazer, que sente amor pelo que faz, você está dando o primeiro passo para descobrir a sua ikigai.

2ª) Por que você faz o que faz?

O segundo elemento é o propósito. É quando você para pra pensar no que está fazendo e entende o bem que está causando no meio à sua volta, o impacto que está gerando, que suas ações geram. Não é o que você quer pra você, mas sim o que está disposto a doar. Encontrar o próprio propósito implica ter conhecimento do bem que você causa. Nenhum cabelereiro corta o próprio cabelo, nenhum cirurgião opera a si mesmo. Então, quando você faz uma coisa consciente do bem que você está causando, você está no caminho certo para descobrir a sua ikigai.

3ª) O quanto você está disposto a ser excelente?

O terceiro elemento é a excelência. O quando você está disposto a investir para ser realmente excelente naquilo que você faz. Se você não ama o que faz e não sabe por que faz, dificilmente você se diferenciará nas suas tarefas. Excelência, na visão japonesa, não significa perfeição. Perfeição vem de “prefatto”, aquilo que está pronto. Nós nunca estamos prontos. Excelência é um caminho. É o caminho, a escolha de continuamente, dia após dia, buscar se aprimorar.

Para saber mais

Em março deste ano, a editora Intrínseca lançou no Brasil o best-seller “Ikigai: os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz”. Seus autores, Héctor García e Francesc Miralles, despois de muita pesquisa sobre o tema, resolveram viajar até o povoado de Ogimi, no arquipélago de Okinawa, para tentar entender e descrever o fenômeno da longevidade daquele povo. O resultado foi uma obra que é sucesso de venda em todo o mundo, com seis edições nos Estados Unidos em apenas seis meses, seis reimpressões na Espanha e dezessete na Holanda.

Segundo os autores, uma das perguntas fundamentais para descobrir a sua ikigai é: o que você faria se não precisasse de dinheiro? García e Miralles afirmam que você pode encontrar as respostas sozinho, sem a ajuda de um terapeuta. E dão uma importante dica: a mandala da ikigai poderá ajudar, e muito, na sua descoberta.

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