Ainda que a ONU recentemente tenha fixado a idade cronológica dos 80 anos para nos denominar “idosos”, até então toda uma geração, que hoje tem entre 60 e 79 anos de idade, assimilou esse conceito e continua a se autodenominar idosa.

Em 1980, ainda nos chamávamos “velhos”. Em 2000, quase todos já havíamos adotado o conceito “idoso”. Próximos a 2020, somos chamados de “adultos”.

Gosto da ideia de “adultos de mais idade”, mas essa não é uma categoria. É uma “gambiarra conceitual”, pois que os governos e os administradores, especialmente no Brasil, não sabem que nome atribuir aos que já dobraram o Cabo da Boa Esperança na jornada da vida, a partir dos 60 anos e, do tempo em que empresas desejam remoçar seus quadros, não aceitamos mais vestir pijamas e chinelo ao nos aposentar.

Nós ocupamos as ruas. Nós adoramos nos divertir. Fazemos questão de levar um estilo de vida delapracá-decapralá. Somos inquietos, curiosos e atrevidos, fazemos coisas que antes não nos cabiam. Pior. Não seriam moralmente aceitáveis.

Casamos mais vezes (ainda que transemos menos vezes). Dançamos muito. Disputamos maratonas. Encaramos mudar gostos e hábitos antigos desde que convencidos de que isso nos fará bem (e que não pesará muito no bolso).

Muitos, independentemente de precisar, insistem em trabalhar. Não nos sentimos bem quando pressionados a parar. Parar a contragosto, ser pego de surpresa e despreparado, vitimados pelo preconceito que nos deprecia, chamados de “sem perfil” nos deixa infeliz e abala a nossa saúde.

Consideremos, porém, que também tem aqueles que gostam de fazer nada, viver sem compromisso. Dentre estes há os que efetivamente gostam de ficar na cama, mesmo que para isso tenham que ficar de cama. Viver na cama contempla se jogar no sofá com os olhos estatelados nas novelas, nos programas de culinária e de desgraceiras mil. Tiros e facadas, assaltos, atropelamentos e contos do vigário, pessoas que não têm o que fazer – e não querem ter - se intoxicam com as imagens e os sentimentos de dor alheia até se convencerem de que viver é muito perigoso: melhor viver menos para evitar os tantos perigos, elas concluem.

O que não sabem é que quem vive menos morre mais. Colabora, para esse estado de vida, o ficar na cama / sofá / poltrona / rede fazendo nada, pensar em futilidades e desejá-las, prestar atenção na vida alheia mais do que na própria, jogar culpa em marido, esposa, filhos, da educação que recebeu, do pai ou da mãe que era muito rigorosa e se queixar de tudo (governo, clima, filhos, netos, irmãos, ah, o preço das coisas), tratando mais de cultivar seus prazeres imediatos (estilo de vida sustentado na crença do Não Consigo) e se especializar em doenças e dores.

Pessoas que gostam de fazer nada na cama, como estilo de vida em geral, também acabam por engordar muito, porque cuidar da própria saúde é trabalhoso, requer disciplina, determinação e isso é o que menos querem! Ter trabalho. Elas preferem dar trabalho.

Leva lá, me busca não sei onde, traz aquilo outro. Está chovendo, está muito pesado, sol demais, é longe, amanhã eu faço. Pega isso, levanta isso pra mim, guarda aquilo outro. Joga fora, arruma logo, faz o favor de. Preste atenção. O número de ordens que, pessoas que não gostam de trabalhar desfecham, é espetacularmente alto. Mandam e delegam a quem estiver à mão todos aqueles afazeres e deveres que, de início, são chatos.

É assim. São pessoas hábeis em incomodar as demais com quem pouco se incomodam. E, mais, não reconhecem que incomodam, porque se o fizessem, talvez parassem um pouco com isso. Querem saber e ter, mas sem precisar se mexer. E, pouco lhes interessa sair, caminhar, levantar o traseiro da cadeira, a não ser para passear. De carro.

Chega a ser engraçado. Nas festas, são aquelas pessoas mais velhas que chegam à casa do outro, ao salão de festas, cumprem com o protocolo, cumprimentam os donos da festa e pronto. Oferecem o rosto para receber os beijos. Mas, elas mesmas, não beijam.

Logo encontram seu lugar de sentar e lançar âncora, prontas para não se mexer mais até criar teia de aranha, o mais próximo possível de onde são servidas a comida e a bebida. E gostam de repetir os pratos.

Aplicam a Lei do Minimax: mínimo esforço dispendido para um máximo de prazer obtido. Simulam claudicar, se preciso for e adoram suspirar ao conversar sobre dores e limitações de que desfrutam. Mas repare em seu sorriso de prazer quando contam como sua vida é difícil. É uma sofrência só.

Cada família cultiva seus idosos sofredores, aqueles que sempre necessitam de companhia, que se mostram confusos ao terem que pensar por si próprios, ao terem que buscar algo que requer algum esforço físico e ou mental. Não sei, não posso, não dormi à noite, não tenho passado bem, dói aqui, dói ali são seus principais argumentos no dia a dia e chegam a convencer aqueles com quem convivem.

Familiares confundem sua submissão a esse tipo de tirania com servir àqueles que necessitam. Atreva-se a fazer uma pequena prova: ir a uma festa e não servir o idoso não desmamado! Alguém realmente acredita que eles não irão se servir nalgum momento? E você passará por cruel.

Como bebês mimados, idosos não desmamados são aqueles que colocam um séquito para servi-los, sem jamais retribuir. Detalhe: gostam de se cercar de fofoqueiros.

Tem gradações: eles ou elas não ficam na cama o tempo todo. Alguns, só depois das 18 horas. O aparelho de televisão passa a ser de seu domínio, mas também não aprendem a usar o controle. Estão sempre pedindo que alguém o faça. E não aprendem porque aprender requer algum esforço.

Outros são não desmamados intermitentes. Qualquer coisinha, um pequeno esforço a mais, eles desabam em suas camas / poltronas e fazem pós-graduação em ser estraga prazeres. Prazeres dos outros, claro. Outro detalhe: idosos não desmamados, quando se unem aos fofoqueiros e aos estraga prazeres, ah!, a coisa pega fogo e eles ficam muito animados. Dá gosto de ver. Divirta-se.

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