O número de alunos de curso superior com 55 anos de idade ou mais cresceu. Passou de 68.598 em 2014 para 72.624 em 2015, segundo censo divulgado no fim do ano passado. O aumento, de 5,5%, é superior ao do registrado entre todas as faixas etárias, de 2,5%.

A Sinopse Estatística da Educação Superior, elaborada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, mostra ainda que o número total de concluintes, incluindo todas as faixas etárias, em 2015, foi de 1.150.067. A maior parte fez o curso em instituições privadas (910.171), e a maioria das matrículas vem da região Sudeste (3.618.711).

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E o que leva pessoas com mais de 55 anos de idade a passar por processo seletivo, abrir espaço para as aulas e, frequentemente, abdicar dos fins de semana? Pode ser uma guinada na carreira, a necessidade de ajudar o próximo, o estímulo intelectual, a ampliação do círculo de relacionamento. Para Celso Domingos do Carmo, 64 anos, é tirar do papel um desejo antigo.

“Queria fazer coisas em que eu me sentisse bem e que contribuíssem para a sociedade”

Na adolescência, quis ser professor de matemática. Engajado, envolveu-se em um núcleo estudantil para promover melhorias na escola. Daí passou para a assistência a movimentos sociais por meio de assessoria parlamentar. A trajetória deixou pouco tempo e oportunidade para o estudo.

curso superior Celso Domingos do Carmo e a filha Luana Garcia na colação de grau neste ano; crédito: Arquivo Pessoal.

Em 2012, quando descobriu que poderia ter acesso ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), decidiu desengavetar seu projeto. Prestou vestibular para o curso de direito em uma universidade da capital paulista. “Era o sonho de uma vida inteira”, lembra. “Queria fazer coisas em que eu me sentisse bem e que contribuíssem para a sociedade.”

No começo, teve dificuldades. Aprender a mexer no computador, adequar-se a uma nova rotina e recuperar conteúdos que havia tido contato na juventude demandavam energia. Sem falar no trajeto para a faculdade – dois ônibus, um trem e um metrô, num percurso que levava cerca de 2h30 na ida e na volta.

Parou de assistir aos jogos de futebol para poder estudar. Fazia as tarefas nos fins de semana. Deixou de ver TV. “Foi sofrido”, resume. Mas as recompensas eram maiores. Com os colegas, todos mais jovens do que ele, a convivência foi pautada pelo respeito e pela troca de informações. Em casa, recebia estímulo da família. “Ouvi: ‘Vô, quando eu crescer, quero ser como você’. Quem não ficaria orgulhoso?”

Neste ano, colou grau – “achei que não conseguiria”. Agora dá orientações para a população de baixa renda e matriculou-se em um curso de mediação e conciliação, que lhe toma os sábados.

O advogado não pensa em fazer extensas jornadas. “Tomo café tranquilo, fico com minha esposa, vou para a igreja, passo tempo com a família”, destaca. Mas parece ter tomado gosto pelos estudos de maneira irreversível. “Estou avaliando para ver se começo uma pós-graduação no segundo semestre.”

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