Quando alguém considera muito difícil que determinada coisa aconteça – um encontro com uma pessoa, por exemplo –, costuma dizer algo como “Vamos marcar, então, para o dia 30 de fevereiro?”. É um sinal de que tal evento nunca vai de fato ocorrer, uma vez que o mês em questão tem 28 dias – ou 29 nos anos bissextos.

Brincadeiras à parte, o fato de fevereiro ser mais curto que os outros meses do ano carrega uma história de séculos e que envolve superstições, interesses políticos, religião, práticas agrícolas, ciclo solar e fases da Lua.

Para entender melhor por que fevereiro tem apenas 28 dias, vamos ter que voltar no tempo e viajar muitos e muitos fevereiros para trás. E olhar para o céu. Sim, porque o calendário nos moldes de hoje se originou quando astrônomos de antigamente passaram a observar os movimentos solares e as estações do ano.

Por que fevereiro tem apenas 28 dias

Assim, verificaram a existência dos solstícios, ocasiões em que o Sol atinge a maior declinação a partir da linha do Equador, e os equinócios, quando os hemisférios Norte e Sul recebem a mesma quantidade de luz.

Os solstícios marcam os inícios do verão e do inverno, e os equinócios se dão no outono e na primavera. Surgiu, assim, o ano solar, com a duração de 365,242 dias.

Mau agouro

Mas calma, que também precisamos de um pouco de noite por aqui. Para colocar a Lua na jogada, no caso. E também se faz necessário dar um pulinho na Roma Antiga. Por volta do século VI a.C., os romanos adotaram um calendário baseado nas fases lunares. Ele tinha 355 dias, divididos em 12 meses. E o pobre do fevereiro enfrentou aí sua primeira discriminação.

Por esse calendário, o ano começava em março e terminava em fevereiro, com 29 ou 31 dias em cada mês. Fevereiro era considerado de mau agouro por seu nome ser derivado de Februus, deus etrusco da morte. Por essa razão, teve de se contentar em somar apenas 28 dias.


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E olha que os números pares eram também tidos como de má sorte, o que não impediu essa contagem terminada em 8. Afinal, quanto mais curto um mês de azar, melhor.

Voltando ao Sol, chegamos a um personagem importante nessa história: o ditador Júlio César, considerado um dos maiores líderes militares de todos os tempos. Foi durante o seu governo que, em 46 a.C., o calendário passou a se basear no ciclo solar que descrevemos anteriormente, passando a ter 365 dias – 30 ou 31 em cada mês. Fevereiro também se deu bem nessa, passando a ter 29.

Foi ainda criado o ano bissexto, com um dia adicional a cada quatro anos, medida inspirada no calendário egípcio. E, em 44 a.C., o Senado homenageou Júlio César com a mudança do nome do mês Quintilis para Julius (julho).

Duelo de egos

Ah, esses governantes e seus egos do tamanho do mundo – ou ainda maiores. Em 8 a.C., o nome do oitavo mês passou de Sextilis para Augustus (agosto), em homenagem ao então imperador César Augusto.

Mas em que isso afetou a duração do mês de fevereiro? Simples. Agosto, o mês de César Augusto, tinha 30 dias, enquanto julho, o de Júlio César, tinha 31. A invejinha fez com que Augusto aumentasse a extensão de agosto para os mesmos 31 dias que julho já possuía.

Mas, como a soma total de dias do ano não podia ser alterada, era preciso roubar um dia de algum outro mês. Adivinhem só quem foi escolhido para pagar esse pato? Ele mesmo, fevereiro.

O tempo passou, e a Roma Antiga ficou para trás. Com o advento da era cristã, nada mais natural que um novo calendário fosse adotado. Quem o fez foi o papa Gregório 13, que inaugurou o calendário gregoriano. Apesar de o pontífice ter promovido algumas alterações em relação ao sistema romano, não mexeu na quantidade de dias do mês de fevereiro.

Assim, desde a Roma Antiga até os dias de hoje, faça chuva ou faça sol, aquela brincadeira de “jogar” para 30 de fevereiro algo que nunca vai acontecer tem a sua lógica.

Mas, vamos combinar: ter uma duração tão específica e, por que não, exclusiva também dá um charme todo especial ao segundo mês do ano, não?

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