“Vou ser sua barriga solidária.” Foi com essa frase, na sala do médico, que Nivalda Maria Candioto assegurou à filha Gleice, então com 16 anos, que gestaria uma criança para ela. A adolescente havia acabado de receber a notícia de que não poderia ter filhos. Mas a mãe, resoluta, prometeu e cumpriu sua palavra: em fevereiro de 2015, aos 55 anos, a avó deu à luz o neto Arthur.
“Quando chegou o momento de ela querer, eu disse: ‘estou pronta’”, lembra a avó. Começou a fazer os exames na cidade catarinense de Criciúma, onde mora. Depois, mãe e filha seguiram para a capital paulista, consultar um médico indicado por uma amiga.
Fez a inseminação e voltou para casa. “Continuei a trabalhar normalmente”, diz ela, que comprava roupas no Brás, bairro paulistano conhecido por abrigar um grande número de atacadistas de moda, e revendia em Criciúma. Greice seguiu para Taubaté, no interior de São Paulo, onde vive com o marido.
Nivalda Maria Candioto com o álbum de fotografias que fez durante a gestação do neto; crédito: Luiz Rodrigo Zilli
A família, incluindo as outras duas filhas – Daiane e Laize –, apoiou a decisão. “[Meu marido] sabia que era para ajudar a filha”, lembra ela.
Foram trinta e oito semanas tranquilas, segundo a avó. A diferença para as gravidezes anteriores foi a maior frequência de ultrassons, por se tratar de uma gestação de risco, e a necessidade de reduzir o ritmo e parar de viajar a trabalho nos últimos dois meses.
“Parecia que eu tinha 27 anos”
“Achei que eu ia engordar 20 quilos, 25 quilos e virar um balão. Engordei 9 quilos”, relata. “Parecia que eu tinha 27 anos”, diz, rindo, sobre a experiência como barriga solidária.
Durante a gravidez, Nivalda conta que mãe e filha não conseguiram ficar próximas muito tempo. “Ela me viu em junho e julho, mas teve que voltar porque trabalha – e é longe”, conta a avó, acrescentando que as duas se falavam bastante por Skype e telefone.
No dia 5 de fevereiro de 2015, deu à luz Arthur, que nasceu com 51 centímetros e 3,6 quilos. “Foi tudo tão rápido”, destaca a avó. “Quando saí da cesariana, veio o medicamento para secar o leite.” Foi Gleice que amamentou o bebê. “Quinze dias depois [de dar à luz], eu já estava no meu peso normal.”
Virando a página
Ainda no hospital, após ser liberada para o quarto, Nivalda declarou: “Aqui acabou. Minha missão está cumprida. Agora o compromisso é dela [de Gleice]”.
A avó segura sapatinhos e fotos de Arthur, neto gerado por ela por meio de barriga solidária; crédito: Luiz Rodrigo Zilli
A filha e o marido ficaram por cerca de duas semanas em Criciúma. Registraram Arthur em um cartório e depois seguiram com a criança para Taubaté. Na certidão, Gleice é a mãe; Nivalda, a avó.
A partida, conta Nivalda, não a abalou. “Eu estava tão preparada”, revela. No começo, visitava a filha e o neto de 30 em 30 dias. Depois, as idas e vindas foram espaçando.
“Sou a pessoa mais realizada do mundo”
“Foi um sonho realizado. Sou a pessoa mais realizada do mundo”, conta a avó. “Eu voltaria e faria tudo de novo. Se alguém precisasse hoje, eu estaria pronta novamente.”
O neto, que está hoje com três anos, beija e abraça a barriga da avó. E diz que saiu da barriga das duas, segundo Nivalda.
“A maioria das pessoas não tem essa coragem”
A hoje avó de quatro netos – Gleice já havia adotado um e as outras filhas também tiveram bebês – diz que a experiência como barriga solidária para a filha fortaleceu laços. “Quando ele crescer, vai ver o que aconteceu na vida dele no passado. Foi um nascimento especial. A maioria das pessoas não tem essa coragem.”
Sobre os netos, ela não titubeia: “Amo todos, mas com o Arthur tenho uma relação diferente. Normal, né?”
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