A maior expectativa de vida das mulheres em relação aos homens, tida como tendência mundial, tem intrigado especialistas e motivado pesquisas científicas ao redor do mundo. Fatores sociais, biológicos e comportamentais têm sido apontados para explicar por que as mulheres vivem, em média, entre quatro e oitos anos a mais que os homens, diferença que varia de acordo com a localidade.

No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida das mulheres supera em sete anos a dos homens. O levantamento mostra que, em 2014, a esperança de vida para as brasileiras era de 78,8 anos, enquanto que para os homens era de 71,6 anos.

A longevidade feminina é também um traço da família Gazarine, que, em sua quinta geração de mulheres, encontra na sua matriarca a inspiração para uma vida plena e saudável. Luiza Gazarine, 93 anos, é vegetariana, adepta à homeopatia e tem uma trajetória que enche de orgulho as gerações mais novas. Da juventude na fazenda do pai, em Ribeirão Bonito, interior de São Paulo, onde fazia “de tudo um pouco”, ao comando de um restaurante ao lado do marido, sempre encarou o trabalho como um aliado para o seu bem-estar.

Considerada uma mulher de personalidade forte e que raramente é contrariada, anima-se ao ver a família se multiplicar – são três filhas, nove netos, 18 bisnetos e dois tataranetos – e encontra sentido nos valores que transmite de geração para geração: “Depois de ter vivido tanto, o que mais me deixa feliz é acompanhar a continuidade da minha família, que é feita de pessoas de bem, e seguir com saúde e sendo amparada pelas minhas filhas", assegura.

Cleusa Gazarine Garcia, a filha do meio, é uma das principais companheiras de Luiza e herdou da mãe a disposição para o trabalho e o apreço pela união familiar. Casou-se aos 19 anos, foi bordadeira e vendedora e, mesmo em uma época em que as mulheres ocupavam papeis mais restritos, seguiu o tino empreendedor dos pais e abriu sua própria loja de roupas.

O comércio de roupas ficou de lado e, hoje, aos 73 anos, faz doces e salgados sob encomenda, para uma clientela restrita, mas assídua. Sem espaço para preguiça na cozinha, na vida não é diferente. Se é para estar perto dos três netos e dois bisnetos, Cleusa faz as malas e cruza fronteiras. Desde que a neta Livia, de 26 anos, se mudou do Brasil, a avó coruja tem viajado mais. Recentemente esteve em Montevidéu, capital do Uruguai, para conhecer a bisneta Clara, representante da quinta geração da família.

O amor que une também cuida, protege e ampara. E se há na família alguém que personifica esse acolhimento é Christiane Miceli dos Santos, filha de Cleusa, neta de Luiza, mãe de Livia e avó de Clara. Aos 52 anos, a educadora que hoje trabalha como corretora de seguros é o fio que tece, entrelaça e ajuda a costurar essa história de parceria e afeto intergeracional.

“Gostaria de estar mais perto da minha filha e neta, mas penso também na minha mãe e avó, pois embora elas sejam muito independentes, há sempre uma preocupação”

Na correria do dia a dia, ela se desdobra para não perder momentos especiais com os netos e filhos, ao mesmo tempo em que se dedica aos cuidados da avó e da mãe: “Acredito estar na posição mais delicada destas relações. Gostaria de estar mais perto da minha filha e neta, mas penso também na minha mãe e avó, pois embora elas sejam muito independentes, há sempre uma preocupação”, afirma.

Cleusa, 73, a filha do meio; e Christiane, 52, filha de Cleusa e neta de Luiza; Crédito: Arquivo Pessoal

A cumplicidade também é item essencial da fórmula que garante a essas mulheres uma vida rica em experiências e, sobretudo, em afeições: “Nós nos falamos diariamente para tentar compensar a saudade e a dificuldade de estarmos todas juntas, já que a Livia mora em outro país e minha avó já não gosta tanto de sair de casa”, lamenta Christiane.

E por falar em reunião, enquanto concedia esta entrevista, a mulher número 3 da família fazia as malas rumo ao Uruguai, onde, além de rever e matar as saudades da filha, comemoraria o primeiro aniversário da neta Clara.

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