O fim de um relacionamento é quase sempre um momento dolorido na vida de um casal. Sejam quais forem as razões que levam à separação, aceitar o fim de uma jornada que quase sempre começa com juras de companheirismo eterno pode ser difícil até para aqueles dotados de grande senso prático.

Essa dificuldade em colocar um ponto final em uma história cujo enredo desandou aumenta à medida em que os anos vão passando e os companheiros envelhecendo, certo? Os números mostram que não é bem assim.

Nos Estados Unidos, segundo estudo recém-publicado pelo Pew Research Center, com dados que vão até 2015, as taxas de divórcio entre pessoas com mais de 50 anos dobraram desde a década de 1990. Já entre aqueles com 65 anos ou mais, as separações triplicaram.


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O “gray divorce” (divórcio grisalho), como está sendo chamado o fenômeno, pode ser explicado por alguns fatores. O levantamento aponta, por exemplo, o envelhecimento da geração baby boomer (os nascidos entre 1946 e 1964), que experimentou uma revolução de costumes e superou a sentença do “até que a morte os separe”.

A longevidade também é citada como uma das causas para que relacionamentos insatisfatórios sejam desfeitos. Afinal, com a perspectiva de viver mais, as pessoas se permitem buscar novas realizações.

No Brasil, de acordo com último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios entre 1990 e 2010 concedidos a casais em que ao menos um dos cônjuges tinha mais de 50 anos, a exemplo do que ocorreu nos EUA, também quase dobrou. Em 2010, foram cerca de 16 mil divórcios não consensuais pedidos por pessoas nessa faixa etária.

“As mulheres valorizam muito a liberdade e a amizade depois dos 50 anos”

Para Mirian Goldenberg, autora do livro “A Bela Velhice”, o aumento da expectativa de vida, de fato, explica o boom do chamado divórcio grisalho.  “As pessoas sabem que podem viver até os 80, 90 anos. Não querem viver um casamento insatisfatório por toda a vida. Preferem viver sozinhas a ficar em um relacionamento infeliz”, explica.

Segundo a antropóloga, no caso dos casais maduros, são as mulheres que mais comumente tomam a iniciativa de pedir a separação:  “Elas valorizam muito a liberdade e a amizade depois dos 50 anos. Os motivos mais alegados para tomar a decisão são a insatisfação, o desejo de liberdade, a traição masculina, a falta de escuta e a vontade de recomeçar”.

“O descompasso de interesses provocou o afastamento. Havia poucos momentos juntos”

Ausência de diálogo e de cumplicidade são justamente os motivos pelos quais a educadora Maria Rita de Oliveira Barretto, 58 anos, decidiu colocar um ponto final no casamento de 28 anos. “O descompasso de interesses provocou o afastamento e foi um dos motivos da separação. Havia poucos momentos juntos”, diz.

Divorciada há três anos, a aposentada afirma que a separação abriu caminho para o autoconhecimento e o crescimento pessoal. Apesar das mudanças positivas, Maria Rita acredita que os casais mais velhos tenham ainda dificuldade de se separar pelo fato serem conservadores.

“Fazemos parte de uma geração em que os homens tinham outro papel no casamento. As mulheres, na sua maioria, dependiam financeiramente dos homens. O sexo era tabu, e a nossa sociedade extremamente machista”, ressalta.

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