Crianças e adolescentes encontram muitas maneiras de se tocarem. Além de abraços espontâneos e do gostoso aconchego de ficar juntinho, encostar a cabeça no ombro, tapas, esbarrões, cotoveladas, rasteiras, mordidas e arranhões. Experimentam as impressões, sensações e consequências de seus múltiplos tocares.

Em meio a tudo isso o que nos parece estupidez e malcriação, provocações do nada, inúmeros gestos sem sentido, as impressões fazem parte do repertório aprendido nas idades jovens, que se constituirão na base do conhecimento do que é o corpo humano, o nosso e o corpo do outro.

Tocar e ser tocado deixa marcas e produz consequências. De dor e de prazer. Sem estas experiências prévias seríamos todos nós, verdadeiros analfabetos sensoriais e emocionais.

A um gesto terno, seguem-se respostas variadas e com muitos significados, desde ele gosta de mim, até ele me respeita, ele é inseguro ou ele não tem coragem para mais. Quem não é alfabetizado emocionalmente não entende gestos sutis e pode até mesmo se incomodar em ser tocado, ainda que gentilmente. Você já viu e ouviu a braveza do não põe a mão em mim!

Quando estamos magoados ou muito irritados, de modo geral não gostamos que nos peguem, que nos toquem e nem que cheguem perto. Se o nosso corpo físico mantém, quase que o tempo todo, a mesma forma, nosso corpo emocional é pulsátil, muda de forma a cada nova experiência, como se fosse uma bolha invisível que se move, que se contrai e se estende ora para um lado, ora para o outro.

E como esse nosso corpo emocional responde às aproximações entre pessoas? As palavras fazem parte, porém o que mais nos toca fundo é o gesto. O tocar que reacende a memória do corpo, que o presentifica. Podemos dizer que, quanto mais suave é o toque, mais fundo o gesto repercute em nosso corpo e no nosso espírito.

Algumas dores, inclusive, cedem em sua intensidade e até chegam a desaparecer pela simples presença de alguém. Que não é tão simples assim. Os corpos emocionais se tocam mesmo que fisicamente estejam distantes. Ocorre uma grande troca de energias quando pessoas se aproximam umas das outras ou quando estão e se sentem sozinhas.

Como uma vela que acende outra, transmitimos forças e capacidades, pela intenção de fazê-lo. Também um olhar duro e a ironia podem fazer apagar uma chama e gelar a alma de cada um de nós. Fica claro por que psicopatas nos fazem gelar e sentir calafrios. O olhar do outro nos toca. A voz do outro nos toca. E, na linguagem dos gestos e dos toques, dizemos muito mais do que falamos. Aliás, há momentos em que a palavra não cabe, até mesmo porque elas não existem em referência a uma experiência muito profunda, como a gratidão. Não tenho palavras é uma expressão do corpo e não da mente.

Há quem não se arrisque a falar com o seu corpo. E há quem fale demais dessa maneira. Assim como desenvolvemos a linguagem oral, o corpo tem sua própria linguagem, que também responde mais às forças culturais do que às lógicas intelectuais. Esquimós se beijam roçando seus narizes. E há quem prefira aspirar o odor do outro, do que beijar na boca.

Há diferenças entre homens e mulheres em razão do que nos ensinaram, da forma que ocupamos. Mulheres, de certo modo têm mais desenvoltura com a linguagem do corpo. Homens são menos expressivos, a não ser os atores e bailarinos. Mas para ambos o carinho e a carícia são essenciais. E mesmo a pessoa mais carinhosa do mundo pode, em algum momento, precisar ficar quieta no seu canto, fechada em si mesma. Nesta hora ela desejará tocar-se pelas próprias mãos.

Cada pessoa tem a sua fluência nesta linguagem, mas a repressão dos toques e das carícias nos faz sentirmos muito sozinhos e dispensáveis, porque a linguagem afetiva e expressiva do corpo faz muita falta em nosso dia a dia e, em determinados períodos, faz falta demais.

Muitas pessoas de mais idade não são afagadas. São tocadas nos ombros, nos joelhos, na cabeça ou nas mãos. Seu corpo dói e não é abraçado. Essa falta é ruim demais. Há quem tenha somente um cachorro em quem se encostar. Há quem não tenha um único amigo com quem conversar, com quem trocar palavras e sentimentos somente pelo olhar. Assim, dói demais.

Há quem se esquece de seu próprio corpo e somente o acaricie à hora do banho e dos cremes e olhe lá. Há quem olhe feio para seu corpo e o ofenda. Há quem desista de se ver no espelho, por não suportar o peso do seu julgamento. Uma coisa, porém, é certa: - Cuide de seu corpo, porque ele é sua única morada, do primeiro respiro ao último suspiro.

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