Veranópolis (RS) é mais do que um dos destinos turísticos da Serra Gaúcha. Ou o “berço nacional da maçã”, alcunha dada pelo pioneirismo no cultivo dessa fruta no Brasil. Afinal, esse município de 26.241 habitantes também é conhecido como a Terra da Longevidade. E, em 2016, foi chancelado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como Cidade mais Amiga do Idoso graças a uma série de programas implementados pela prefeitura com o intuito de beneficiar os 60+ em seu cotidiano.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que, em 2010, enquanto a média nacional de expectativa de vida era de 73,84 anos, em Veranópolis esse número saltava para 75,29 anos. Os longevos – 60 anos de idade ou mais – do município somavam 3.493 indivíduos, ou 15,3% do total de habitantes.


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Foi ainda no século passado que a cidade resolveu estudar as causas que levavam seus moradores a viver mais. E, a partir delas, estabelecer um plano para potencializar ainda mais suas características favoráveis à longevidade.

Quem começou esses estudos, em 1994, foi o geriatra Emilio Moriguchi. Sua motivação partiu de uma reportagem publicada à época na “Revista Geográfica Universal”, intitulada “Os Celeiros da Longa Vida pelo Mundo”. Nela, mencionava Veranópolis como um desses polos por conta do alto percentual de idosos de sua população – mais de cinco vezes a média nacional.

Projeto para a longevidade em Veranópolis

Moriguchi, assim, passou a se dedicar a um projeto de longevidade e envelhecimento saudável que se deu em parceria com a prefeitura de Veranópolis, a comunidade local e o Instituto de Geriatria da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). “Iniciamos o projeto estudando hábitos e estilos de vida da população da cidade”, afirma o geriatra.

Vários motivos para a qualidade de vida superior dos moradores foram então listados. Em primeiro lugar, o médico menciona uma “cultura alimentar saudável, com pouca gordura, pouco sal, sem excessos que levem à obesidade”.

Veranópolis

Igreja de Veranópolis I Crédito: Divulgação 

Em seguida, vêm fatores como exercício físico regular – “em média três horas e meia por semana, que são dedicadas, por exemplo, às caminhadas, somando cerca de 10 mil passos por dia ou o equivalente a dez andares diários de escadas”.

E também descanso adequado de seis ou sete horas por noite, além de uma sesta; tempo dedicado ao lazer com os amigos e a família, sobretudo aos finais de semana; ter um hobby; desenvolver atividades sociais ou voluntárias que façam a pessoa se sentir útil; e possuir uma fé ou crença, independentemente da religião escolhida.

Longevidade como lei em Veranópolis 

Na esteira das pesquisas conduzidas por Moriguchi, uma lei municipal instituiu em 2013 a Política Municipal do Idoso. O objetivo dessa legislação era adotar princípios do envelhecimento ativo estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e, com isso, conquistar a chancela de Cidade mais Amiga do Idoso.

Esse projeto começou efetivamente em 2015, parte dele financiado por recursos doados pela CPFL Energia para um fundo municipal – até agora, esse fundo captou um total de R$ 450 mil. “Para dar andamento ao programa, inicialmente entrevistamos 1.037 idosos do município para indicarem o que já consideravam positivo em Veranópolis e o que achavam que poderia melhorar”, afirma Adriane Maria Parise, secretária municipal de Desenvolvimento Social, Habitação e Longevidade da Prefeitura Municipal de Veranópolis.

Entre os pontos favoráveis elencados pelos 60+ estavam o clima, a localização geográfica, pouco ruído, boa acessibilidade, qualidade das moradias e sua proximidade de serviços e lojas, largura das ruas e apoio do sistema de saúde e também de vizinhos e familiares.

Por outro lado, os entrevistados reclamaram de falta de manutenção das calçadas, falta de proteção contra roubos e assaltos, falta de instituições para idosos e oferta limitada de atividades para idosos nas áreas de aprendizagem e participação cultural e social, entre outros itens.

Com base em um relatório elaborado a partir dessas entrevistas, as secretarias municipais apresentaram projetos que contemplassem as questões apresentadas pelos 60+ de Veranópolis. “A implantação desses projetos começou em 2017 e tem sido realizada até este ano de 2019”, especifica Adriane.

Acomodações para os mais velhos

Um dos destaques entre as melhorias implementadas, segundo a secretária de Desenvolvimento Social, foi a criação de uma instituição público-privada para acomodar 30 idosos – a mesma capacidade da instituição pública com o mesmo fim que já existia na cidade. Para esta, por sinal, estão sendo providenciadas mais 20 vagas. Também está prevista para janeiro de 2020 a entrega de um centro de convivência voltado para todas as idades e com foco no convívio intergeracional. 

Remédios na dose certa

Ainda em termos de saúde pública, o projeto Cuidando da Dose busca orientar os mais velhos em relação à prescrição de medicamentos. “É feito um acompanhamento dessas pessoas para verificar se estão tomando os remédios na dosagem correta”, explica Adriane. “Se necessário, o paciente é encaminhado para um médico com o objetivo de reorganizar a administração do medicamento.”

Sorriso em dia, turismo social e acesso à tecnologia

A saúde bucal também foi alvo do plano de ação com o programa Motivos para Sorrir. Desde 2017, equipes de odontólogos já concederam 47 próteses dentárias para idosos com falta de recursos. 

O turismo social também está em pauta, lembra Adriane. “Passamos a promover passeios no próprio município e em seu entorno, dos quais 150 idosos já participaram de visitas a atrações como as águas termais nas proximidades de Veranópolis”, diz. Cursos gratuitos de informática, por sua vez, beneficiaram até agora cerca de 100 munícipes de 60 anos ou mais de idade.

Veranópolis

Para 2020 em diante, o objetivo, segundo a secretária de Desenvolvimento Social, é realizar outra pesquisa e definir novas ações que façam de Veranópolis uma cidade ainda mais amigável para os mais maduros. Ou uma espécie de paraíso para eles – macieiras, aliás, não faltam por lá.

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